MAYU繭: “Mantemos o compromisso e gosto pela experimentação e descoberta”

Braga e qualidade têm andado de braço dado, ultimamente, sobretudo no mundo da música rock. A realidade é que o apogeu que os grupos da região têm vivido também podem ter uma causa pelo profissionalismo das editoras, neste caso, a gig.ROCKS! que tem possibilitado a criação de conteúdo de elevada estirpe qualitativa. Os MAYU繭 deram-nos um bocadinho do seu tempo para falarmos sobre o novo álbum e as suas expectativas, para um banda formada em plena pandemia.

Em primeiro lugar, muitos parabéns pelo tento discográfico. Para estreia, demonstram uma resiliência e uma maturidade fora do comum, para um trio tão jovem. Sendo já de dois grupos diferentes, donde surgiu a ideia de juntarem forças?

A ideia surgiu do Miguel Santos que decidiu pôr em prática alguns dos conceitos que havia escrito, tendo como veículo os Laboratórios de Verão, programa de apoio à criação artística dedicada a músicos de Braga, lançado e executado no gnration. Concorremos ao programa e, tendo sido seleccionados, demos início aos MAYU繭. Em duas semanas de residência artística (Agosto de 2020), na Black Box (gnration), compusemos o disco que ganha o nome do projecto: “ORPHEUS”. Tivemos o prazer de o apresentar ao vivo em Setembro de 2020 e, dado o gosto e entusiasmo que tivemos neste processo, juntando o feedback positivo que fomos tendo do público, decidimos ir a estúdio e editar o “ORPHEUS”, de forma a registar este momento e partilhá-lo com os potenciais interessados.

Esta é uma pergunta que sentimos ser obrigatória, nestes tempos actuais. A COVID decerto vos impactou, mas de que forma, tendo em conta os vossos anteriores projectos, Omie Wise e TheVaults.

Ambos os projectos foram impactados pela pandemia, tendo sido impedidos de realizar as respectivas tours e, no caso dos TheVaults, houve também um adiamento de lançamentos. No entanto, mesmo estando parados por força das circunstâncias, não fomos impedidos de criar e compor música. Prova disso foi o aproveitamento dos Laboratórios de Verão como uma oportunidade única de condições, financiamento e estímulo para a criação artística.

Orpheus apresenta-se de forma vigorosa e impactante, quase crua até. O conceito surgiu desta infelicidade global que vivemos? Ou é já um conceito que partilhavam e de que gostariam de falar?

O conceito já tinha sido criado em 2019, embora ainda não existisse a formação e o nome MAYU繭. Depois de seleccionado para o programa Laboratórios de Verão, sofreu alguns ajustes e optimizações, fruto do nosso contexto social/emocional e da nossa vontade de tornar o projecto mais maduro e objectivo.

O álbum é conceptual, não sei se concordam com a ideia, mas pelo menos há um tema em comum. Uma estreia conceptual é sempre arriscada, até porque inicia a banda num caminho de discos conceptuais para o resto da discografia, é essa a vossa intenção?

Sim, é essa a ideia inicial e de futuro. MAYU繭 é um projecto de música e visuais conceptuais, sendo descomprometido com os membros e com a componente técnica (instrumentos e género musical) que o compõem, mas nunca com a vontade de passar uma mensagem, contar uma história e criar um conceito novo.

Sendo este um disco de rock conceptual, psicadélico, quase tóxico até, a ideia do progressivo parece estar presente. Pretendem manter esse trilho, ou ver-se-ão a modificar o vosso estilo para obterem alguma saída comercial, também importante para a manutenção da banda?

Concordamos com a categorização que é dada, embora possa ser algo subjectivo, dependendo muito da identificação do público, já que o género nunca foi uma preocupação para nós. O único trilho que pretendemos manter é o de desenvolver um conceito novo, explorar novas texturas e estéticas visuais e sonoras. Mantemos o compromisso e gosto pela experimentação e descoberta, sem fazer necessariamente grandes planos. Existirá sempre uma ou mais ideias de base que poderão ou não ser executadas e o estilo é algo que se vai formar por si, sem ser premeditado e/ou limitado.

Texto e entrevista: João Braga
Fotos: Teresa Pamplona

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