Os Hate Disposal são um grupo de death metal com fortes raízes no género obscuro do metal. São da Marinha Grande, em Leiria, e a Ruído Sonoro teve a oportunidade de falar com eles sobre o seu percurso iniciado há quase 15 anos e sobre o novo lançamento. A banda de Leiria é composta por Luís (guitarra), Emanuel (bateria), Peter Slaughter (baixo) e David Matos (vocal).
O vosso projecto surgiu em 2006, ou seja, já têm quase 15 anos de carreira. Contem-nos como surgiu o projecto?
O projecto é resultado do dispersar dos membros de uma banda anterior. Um rapaz chamado Válter Évora convidou o Luís e o Sérgio (ex-baterista dos Hate Disposal) para uma banda chamada Xicão (que era o nome do gato dele). A banda era um projecto do Valter e de objectivos completamente diferentes. Com algum humor e elementos de thrash/heavy metal. Entretanto, o Valter desistiu do projecto em 2006 e o Luís convidou os membros restantes para integrar um projecto completamente novo que ele já tinha na calha (Hate Disposal).
Sai uma pergunta da praxe, mas essencial para conhecer a banda. Que bandas vos inspiram?
O estilo da banda é influenciado maioritariamente pelos gostos do Luís. É difícil apontar bandas como principais influências, visto que ele tem como bandas favoritas nomes como Evile, The Faceless, Obscura, Opeth, Megadeth, etc. As bandas que inspiram vão mudando ao longo dos anos, mas tendo mesmo de apontar nomes, talvez seja correcto dizer que, actualmente, sejam grupos como Conquering Dystopia, The Faceless, Codeon, etc., independentemente de se encontrarem no activo ou não. No geral, os membros da banda têm gostos extremamente variados, desde o Doom ao Black Metal, passando pelo Folk e Technical Death Metal.
Apesar da longevidade rara da banda, o grupo lançou, para já, apenas um EP Global Mind Putrefaction, em 2011, uma produção realmente crua e poderosa. Falem-nos melhor do lançamento de seis faixas e do conceito por trás da sua criação.
O nosso primeiro EP foi um esforço completamente independente, numa fase em que abundavam concertos na cena underground. Éramos todos mais jovens e ainda sem fontes de rendimento que nos permitissem investimentos na banda. Já tínhamos os concertos, mas não tínhamos o merchandise nem nada para oferecer em termos de outros tipos de conteúdos. A determinada altura, apostámos nuns tutoriais da net e nuns dias a gravar. O nosso objectivo era algo old school e negro, mas que fugisse, de certa forma, aos clichés do Death Metal. Algo que se encontrou presente nesse EP e que pretendemos manter é a importância da melodia, para além da agressividade.
De que forma as várias mudanças de formação afectaram a criação de conteúdo e até os espectáculos ao vivo?
Em termos de criação de conteúdo foi praticamente irrelevante. No entanto, os espectáculos ao vivo apresentam sempre uma energia diferente. É sempre difícil voltar a construir aquela compatibilidade em palco entre os membros, quando estes mudam com frequência. Para além disto, é complicado ter de recusar convites para concertos quando a banda se vê desprovida dos elementos necessários. Daí várias interrupções no nosso percurso, quebrando o ímpeto várias vezes. Dito isto, a formação actual tem sido a que mais durou e não há qualquer tipo de sinal de que poderá mudar, o que nos motiva. O que poderá sempre acontecer é a adição de mais membros. Como um segundo guitarrista ou teclista.
Com as várias mudanças de formação, o grupo teve tempo para se reencontrar e dar um rumo à sua sonoridade, seja ele mantendo-o ou mudando-o. O ano de 2019 foi muito produtivo para os Hate Disposal, com o anúncio de um EP para 2020 e a entrada de um vocalista, David Matos, e de um baixista, Pedro Marques. Sentem que o grupo conseguirá ter a estabilidade que não teve até agora?
Certamente que estamos motivados nesse sentido e tudo indica que não haverá alterações na formação. Imprevistos acontecem, como é óbvio, mas, para já, estamos confiantes nesta e vemo-la como duradoura.
O EP lançado este ano, 2020, é intitulado Legacy. Como tem sido a experiência de voltar ao estúdio para produzir novo conteúdo? E que podem os fãs esperar deste Legacy? Já agora, parabéns a Nuno Sarnadas pela excelente capa do EP.
Este segundo EP foi uma gravação de temas que eram considerados novos em 2013. Na altura, este EP era para ser lançado com o nome de Beyond Damnation e ainda começámos a gravar as músicas, mas tivemos de interromper devido à separação dos membros. Voltar agora ao estúdio foi interessante na medida em que houve um “ressuscitar”, por assim dizer, destas músicas e a oportunidade de lhes dar finalmente o destaque que elas merecem. O que os fãs podem esperar do Legacy é um pouco do tipo de experiência que o nosso primeiro EP oferecia, mas também uma apresentação da direcção que estamos a tomar. Mais técnica e experimental, sempre valorizando a melodia. Relativamente ao Nuno, estamos muito contentes com o trabalho dele. O facto de ter transformado as nossas ideias em algo palpável foi fantástico.
Do EP, saiu o vosso primeiro vídeo “Disposable Creatures”. Falem-nos da experiência de criar um vídeo, donde surgiu a ideia e como foi gravá-lo?
A ideia não foi algo de novo, já se encontrava presente há muito tempo. “Tens uma banda, tens videoclip”. Embora a letra da música não esteja relacionada com o que se pode observar, a ideia para a narrativa surgiu quando fomos abordados por alguém que nos pediu para falar com o “manda-chuva” da banda, daí uma caricatura dos membros vistos como criaturas descartáveis para um suposto líder. No fundo, foi uma piada interna. Até agora simplesmente não se justificava a reunião de todo o tipo de recursos necessários para o efeito, mas com o reerguer do grupo, houve uma ponderação mais séria. A oportunidade surgiu, porque o Luís está a frequentar uma formação de multimédia, aproveitando o facto de que precisava de apresentar um vídeo de tema livre. Com alguns conhecimentos adquiridos, muito apoio de alguns colegas do curso e namoradas dos membros, um ou dois telemóveis, DSLR e um gymbal DIY feito com latas de conserva e fita adesiva, lá se alcançou o nosso primeiro videoclip. Obrigado aos colegas do Luís (Luiz Melgaço e Ricardo Fernandes) by the way, que, para além de ajudarem na produção, também trabalharam na pós-produção. Foi um processo penoso de queimar pestanas. No geral, a experiência foi cansativa e, por vezes, frustrante, mas ao mesmo tempo muito divertida e é para repetir.
Este novo EP já estava ‘na gaveta’ há alguns anos, a sonoridade entre este EP e Global Mind Putrefaction é semelhante. Futuramente, que tipo de som poderão produzir, irão manter-se no death metal ou haverá uma progressão rumo a outro género?
Na realidade, estamos convictos de que uma parte deste segundo EP já mostra um trabalho de sonoridade muito diferente do GMP, embora este seja um tópico algo subjectivo. Mas sendo temas criados pela mesma pessoa, é possível que se note sempre que há algo de característico e que nunca foge muito. Tudo indica que, no futuro, nos manteremos pelo death metal mas, seguramente, com mais experimentação e outras variações. É difícil prever e não nos é possível fazer aquela promessa de que seremos religiosamente fiéis ao estilo para sempre.
A banda já terminou de gravar, tal foi anunciado nas redes sociais que têm sido um veículo precioso para a vossa promoção. Para quando um longa-duração?
Estávamos a apontar para 2020, mas, devido à época de condicionalismos que estamos todos a viver, parece-nos mais plausível que aconteça em 2021.
Uma última pergunta. BoneSaw é a produtora deste EP. Com esta produtora na algibeira e com um EP e uma formação renovada, será que 2020 é o ano de viragem para os Hate Disposal abalarem o mundo do metal?
À semelhança do plano que tínhamos para o nosso longa-duração, parece-nos que será mais realista esperar por 2021 para quaisquer resultados mais notórios. No entanto, vamos trabalhando nesse sentido, na medida em que preparamos o nosso regresso aos palcos, assim que for possível para todos os músicos.
Texto e entrevista: João Braga
Edição: Nuno Bernardo
Fotos: Hate Disposal