The Dirty Coal Train – Portuguese Freakshow

Na última década tem sido cimentado um itinerário do garage rock português e, de todo um punhado de bandas amigas e de única comunhão no que toca às regras das “não-regras” do rock à séria, os The Dirty Coal Train são um dos casos que mais sorrisos fazem esboçar. Compostos por uma conchita e um reverendo dos “comboios a vapor”, tal locomotiva de acordes rápidos e batidas viciantes, têm construído uma carreira imparável no que toca a discos, seja LPs, EPs, singles – you-name-it – cujo auge se terá dado com o lançamento de Super Scum, assinado em 2016 pela Groovie Records. Mas Portuguese Freakshow é outra cena.

Beatriz Rodrigues e Ricardo Ramos, casal lisboeta que é o núcleo duro de Dirty Coal Train, partilham vozes e guitarras com amigos palcos fora, desde a segunda casa que é o Barreiro até à fanbase no Brasil, sempre dispostos a uma noite especial de rock. Mas verdadeiramente sui generis é fazê-lo em disco, com uma lista quase interminável de convidados distribuídos num total de 38(!) faixas em dois discos. É hora e meia de total desbunda rock em que se propõe a ser anfitriões de uma montanha-russa freak, quase circense, cheia de referências cinéfilas, de participações relâmpago, de expressões Tex-Mex e de versões que passam por Residents, The Animals, Richard & The Young Lions, The Standells, Marti Barris e Beat Happening.

Podia ser uma rock opera, mas é na verdade uma arena de artesãos com quem estes Dirty Coal Train repartem o seu ofício do rock’n’roll freak made in Portugal. E isso resulta em pleno num discão que se despe do conceptual para somar malhas autênticas tocadas por amigos, entre amigos e para amigos. E que bom é fazê-lo em doses tão generosas como os Dirty Coal Train fazem. Melhor só mesmo apanhá-los no próximo palco.

Autor: Nuno Bernardo

Álbum. Garagem Records & Groovie Records. 4 Maio 2018

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