Omie Wise voltam à carga com mais um álbum, após o estrondo de To Know Thyself, lançado em 2019. Depois de um primeiro LP intenso, altamente psicadélico e progressivo, os bracarenses apresentam neste Wind and Blue uma sonoridade mais intimista, mística e com menos intensidade, apresentando ao público, mais uma vez, a rebeldia tão bracarense que se tem tornado tão habitual. Num exercício narrativo e sonoro de claro rompimento com a normalidade, este Wind and Blue explora os confins da relação entre o Homem e a Natureza, quase que antecipando um catastrofismo evidente de que quem semeia ventos, colhe tempestades.
Num brilhante pano de fundo que tem o vento como tema central, com diversas passagens artísticas que magnificam a sonoridade quase jazzística e alternativa de um ‘rock’ verdadeiramente diferente, o segundo álbum de originais apresenta-se como um presságio em oito faixas de um futuro não muito distante e, infelizmente, realista de um mundo num precipício emocional, mas com toques de esperança. A verdadeira imagem é de obscuridade com um início de longa-duração a fazer perdurar os ideais mais tremendos de um futuro que será colhido por humanos que semearam da pior forma, com os temas “Arroyo”, “Crown Flash” e “The Boy and The Wind” a transmitirem uma mensagem mais pessimista.
No entanto, os Omie Wise têm mostrado ser brilhantes na criação de narrativas com ideias místicas e concretas, mas conseguindo, ainda assim, criar uma profunda antítese conceptual que nos lança num turbilhão de desgosto e esperança. A banda não quis terminar o álbum sem uma mensagem de boa-nova, “Pyre” e “Aurora” descrevem um mundo novo, uma esperança idealizada e, possivelmente, alcançável. Contudo, a explicação acima é muito subjectiva, pois Wind and Blue cria em nós esta vontade de descrever e explicar algo que nem sempre pode ser explicado. A brisa e a rajada são ideias opostas, mas tão presentes num álbum de cariz narrativo muito forte. O novo disco de estúdio não é rock, mas também não o deixa de ser, e presenteia-nos com vários elementos de densidade e de origem portuguesa, o que ainda magnifica mais estas oito faixas. Contém muitas das componentes dos anos 70 de bandas portuguesas e internacionais, saltando à memória o bom e velho José Cid ou Quarteto 1111, nos velhos tempos do rock progressivo português e nas suas transições instrumentais e pontes sonoras magistrais.
É um álbum conceptual que abandona os ideais do álbum conceptual anterior, o que, para uma banda tão jovem, é extraordinário pela sua polivalência. É um álbum sobre reflexão, intemporalidade e teatralidade, com uma densidade intensa, mas discreta. Wind and Blue surpreende pela sua intensidade, acalmia, negatividade e positividade, tudo num só disco que rompe com a tradição, ainda que a mantenha e respeite na sua sonoridade de rock clandestino e independente.
Autor: João Braga