Daughter – Not To Disappear

Not To DisappearA luz já não batia sobre o Passeio Marítimo de Algés e a agitação de um último dia de Alive fazia correr copos de palco a palco pelas sobreposições no cartaz. Ao fundo de um dos palcos avistámos Daughter. O histerismo foi tanto que não deu para recolher ao vivo as melodias embebidas pelos quasi-crescendos do post-rock. A causa de tamanho sucesso? Provavelmente a figura familiar de Elena Tonra, recebida como se de uma estrela consagrada do indie se tratasse. Mas não era isso que associávamos a If You Leave, álbum de estreia lançado em 2013 pela gigante 4AD.

Em If You Leave encontrámos sensibilidades interessantes de reter a fragilidade etérea de uns Cocteau Twins no universo actual do indie folk. Encontrámos singles orelhudos – “Smother” e “Youth”- sem perder o lustro global do álbum, o de música minuciosa, climática e fria, algo distante do calor das recepções que os britânicos recebem quando sobem a um palco.

Este é o segundo álbum, aquele sempre difícil follow-up que grande parte das vezes cunha e diferencia a estaleca de uma banda. Not To Disappear é um álbum que perde a intimidade à melancolia e que permite que esta se desabe sem proximidade aos ouvidos. É que If You Leave, ainda que de forma denunciada, manifestou-se como uma voz dos problemas diários, um amigo próximo a quem se podia recorrer somente para se ouvir aquilo que se quer ouvir, sem soar necessariamente a frases feitas do Tumblr – ainda que, como não podia deixar de ser, as suas letras se tenham espalhado pela rede social.

Onde Not To Disappear vinga é na mesma capacidade que já se conhecia em criar atmosferas nebulosas com guitarras cheias de glória, como um clarão a atravessar uma enxurrada de nevoeiro, e também na voz de Tonra, que continua como um dos pontos fortes de Daughter. Onde o álbum falha é na escrita. É monótono. A dinâmica entre faixas não resulta e não há momentos de particular interesse que possam travar o ouvido ao longo de um disco inteiro, tornando complicado um regresso quando se tem If You Leave mesmo ao lado. Vale por “No Care”, por ser a mais diferente do disco, e por “How”. No flanco oposto, a falta de ambição torna as músicas vazias, esquecíveis mesmo ao fim de meia-dúzia de visitas.

Talvez, talvez, a histeria que a banda já conhece em seu redor é de uma fanbase que se identifica com frases feitas. «I hate walking alone / Maybe I should get a dog or something». Seja. A catarse hiperbólica ou ilusória é boa companheira, mas somente para os que têm essa necessidade.

Autor: Nuno Bernardo

Álbum. 4AD. 15 Janeiro 2016

6.3