Purity Ring – Another Eternity

Another EternityLogo desde miúdos dizem-nos para não julgar um livro pela capa. Uma criança, por mais perspicaz que seja, não consegue extrair desse ensinamento uma máxima que possa utilizar como arma de defesa para o resto da vida. É verdade, já somos uns tipos a atravessar uma fase chata quando nos finalmente apercebemos que as aparências iludem e a primeira impressão não deve corresponder ao verdadeiro conteúdo. Aos Purity Ring, porém, isto não se aplica: o que se vê na capa, é o que se tem no álbum.

Em 2012, com o estrondoso álbum de estreia, Shrines, logo pelo selo da grande 4AD, conhecemos este duo canadiano capaz de traduzir os ritualescos motivos encontrados na sua capa de fundo negro. Por dentro desse livro encontrámos uma excelente obra de glitch, witch house de mão dada à pop electrónica de batidas cavernosas, contrastadas com a angelical voz de Megan James. Um ano depois vimos os CHVRCHES a seguir a tendência. Shrines acabou por ser um álbum minimamente influente e uma das mais fortes estreias a que os últimos anos da música diz respeito (lembrando-nos de algum modo os compatriotas Crystal Castles), e então que 2015 é então o ano de consumar o seu sucessor, intitulado Another Eternity. Deram-nos a conhecer primeiramente, em Dezembro, o primeiro single, “Push Pull” – uma música de refrão orelhudo, de audição fácil, algo bem ao jeito do que poderíamos ouvir de Taylor Swift. Depois conhecemos-lhe a capa: uma ilustração rosa, viva e bastante vistosa. É esta a cara da segunda obra da dupla e decidimos julgar, já que o primeiro havia correspondido. Não falhou novamente.

Este disco é um registo superficial e fácil, «rosa e vivo». Apesar da magnitude de temas como “Begin Again” (ainda que meio Aviciiish) a final “Stillness in Woe” ou a inicial “Heartsigh”, que bem podiam ser lançadas como simpáticos B-Sides do álbum anterior, este é um conjunto de dez temas que se situa algures entre a pop, o hiphop e o EDM mais mastigado. Aliás, quem não escuta um pouco de Scooter naquela “Stranger Than Earth” ou até em “Dust Hymn”? As faixas acabam por se prender aos ouvidos, dadas as propriedades de uma orientação mais mainstream, menos misteriosa, onde a mencionada “Push Pull” e ainda “Repetition” ou “Bodyache” poderão integrar as playlists de algumas rádios, mas não lhes reconhecemos aquela profundidade de Shrines nem a vontade de o repetir vezes e vezes sem conta.

Onde Shrines realmente vingou foi a capacidade de encontrar uma fórmula única, até ao momento desconhecida entre os universos da música digital contemporânea e as tendências da pop mais experimental. Para Another Eternity a fórmula continuou a ser espremida e, inevitavelmente, algo tão único e genuíno feito tantas vezes e já três anos depois (excluído já o factor surpresa), só pode soar genérico e confundível com muitos outros projectos que seguiram esta nova linha. As batidas de Corin Roddick são agora um pouco obsoletas e comuns e a voz de Megan James encontra-se num plano monótono e com poucos jogos comparados com o que nos apresentou anteriormente.

Pode-se acreditar que este é um daqueles discos que pode ganhar uns pontos extra em palco, a alto e bom som, mas para tal é preciso que os Purity Ring nos visitem. Nós, pelo menos, não ficámos lá com muita vontade de os procurar lá fora para nos apresentarem Another Eternity. Por outro lado, também sabemos que são capazes e de muito se conseguirem reformular o que sabem.

Autor: Nuno Bernardo

Álbum. 4AD. 3 Março 2015

Classificação

5.8

Este disco é um registo superficial e fácil, «rosa e vivo», um conjunto de dez temas que se situa algures entre a pop, o hiphop e o EDM mais mastigado.