Óscar Silva responde agora pelo nome de Jibóia. É assim que gostamos de lhe chamar agora, mas antes disso Óscar fez parte de inúmeros projectos, de onde se evidenciam os nomes I Had Plans e Papaya. Depois de lançado o EP de estreia, há um ano, volta às edições com o disco “Badlav” e com novas recordações da sua investida sonora pelas Arábias a partir do nosso Portugal. Uma espécie de Vasco da Gama que descobriu o caminho musical para a Índia, mas que andou a bater umas palmas nos videoclips de Omar Souleyman pelo meio. Ainda por cima Ana Miró, a quem já se habituou de ser tratada por Sequin, dá a voz correcta para esta debandada capaz de atravessar os territórios da Turquia ou da Síria.
O sentido geográfico não se fica por aqui. Avançaram-nos esta informação e nós confirmados: esta cobra dúctil passeou em Korpilombolo, na Suécia, de onde os Goat emergem com as suas práticas de voodoo. Esta magia negra, galopada pela guitarra de Óscar, pela voz de Miró e pelos ritmos dançantes de Xinobi e Moullinex no estúdio da Discotexas, traduz-se numa jornada pelas areias da Mesopotâmia, sem se largar as galabias e o turbante – a Jibóia sai encantada do cesto logo em ‘Satya Yuga’, mas depois de terminado o feitiço, assume uma viagem mais serena pelo deserto onde os ritmos são quentes e as ancas abanam sozinhas. As restantes três faixas completam um leque virtuoso, tingido de escalas árabes e de passadas mais vagarosas num tacho de especiarias orientais.
Este réptil não precisa de um mapa. Seja pelo Norte da Europa, pela Mesopotâmia ou pelas fronteiras do país que alberga Goa, Damão e Diu, este «Príncipe da Pérsia em ácidos» leva as suas alucinações bem digeridas e nem um oásis o desvia do seu real propósito. “Badlav” é um disco que sintetiza aquilo em que a Jibóia acredita – um complexo musical sem restrições, físicas ou imaginárias.
Autor: Nuno Bernardo
Álbum. Lovers & Lollypops, Shit Music for Shit People. 29/09/2014
Classificação
81%
Uma espécie de Vasco da Gama que descobriu o caminho musical para a Índia, mas que andou a bater umas palmas nos videoclips de Omar Souleyman pelo meio.