SUNN O))) & ULVER – Terrestrials

SUNN O))) & ULVER

“Terrestrials”

 

SUm retrato do nosso sol, capturado no comprimento de onda na luz de hidrogénio alfa a 656,3 nanómetros a vermelho escuro, no dia 10 de Junho de 2012. É assim que nos é descrita a capa deste “Terrestrials”, que junta as forças do Sol – Sunn O))) – e os lobos – Ulver – da Noruega. O resultado mantém-se em corpo terrestre, não fosse isto maioritariamente produto de uma noite só num estúdio em Oslo.

Depois daquele que foi o 200º concerto de Sunn O))), em Agosto de 2008, as duas bandas juntaram-se para uma colaboração algo espontânea pela noite fora. Daí emergiram três faixas improvisadas – ‘Let There Be Light’, ‘Western Horn’ e ‘Eternal Return’ – que totalizam os 36 minutos deste álbum. Depois de gravadas, foram escutadas pelas duas bandas ainda em estúdio enquanto a noite se tornava dia. Aí os primeiros raios de sol deram nome à faixa de abertura, que gradualmente se apresenta como um conjunto de sons a abrirem-se em direcção à luz.

Mais austeros e directos, ‘Western Horn’ revela uma espiral entre os escapes sonoros de Greg Anderson e Stephen O’Malley enquanto Sunn O))) e a frieza de Kristoffer Rygg, Daniel O’Sullivan, Jørn H. Sværen e Tore Ylwizaker em nome de Ulver. A conjugação destas duas monstruosas entidades da música experimental atinge a simbiose perfeita ao longo desta segunda fase de “Terrestrials”. Como se imposição destes dois nomes não bastasse, a sua união oferece um registo em campo neutro onde podemos escutar e identificar os envolvidos sem os conhecer e, ao mesmo tempo, não adivinhar quem é quem. O balanço dificilmente seria melhor.

Aquela noite que permitiu esta colaboração foi prolongada. Eventualmente mais elementos foram adicionados aqui e acolá a uma jam perturbadora. A direcção artística foi crescendo e ao fim de cinco anos o álbum estava então pronto, fruto de mãos perfeccionistas, sem querer adulterar o real sabor daquela madrugada de Oslo. Com ou sem palavras, o que é aqui se respira é uma atmosfera única. Ainda assim, Rygg não deixou de parte as suas cordas vocais em ‘Eternal Return’, depois de duas peças instrumentais. É num crescendo imenso, com guitarras reproduzidas inversamente, que a voz surge para dar fim à mais entusiasta das três missas de “Terrestrials”.

As colaborações fantasmas não foram esquecidas: Ole-Henrik Moe e Kari Rønnekleiv apresentam-se na viola e violino, Stig Espen Hundsnes na trompete e Tomas Pettersen na bateria completaram o culto do sol e dos lobos. O álbum pode ser conotado de terrestre, mas não se deva impedir a viagem por outros astros enquanto os minutos deste disco passam por nós.

// Nuno Bernardo

[Álbum / Southern Lord / 3 Fevereiro 2014]

Classificação

84%

O álbum pode ser conotado de terrestre, mas não se deva impedir a viagem por outros astros enquanto os minutos deste disco passam por nós.