HEAVENWOOD – Abyss Masterpiece

Banda: Heavenwood
Álbum: Abyss Masterpiece
Data de lançamento: 14/03/2011
Editora: Listenable Records
Género: Dark/Gothic Metal
País: Portugal

Membros

Ernesto Guerra – Voz
Ricardo Dias – Voz, guitarra solo
Bruno Silva – Guitarra ritmo

Alinhamento

  • The Arcadia Order
  • Morning Glory Clouds (In Manus Tuas Domine)
  • GoddessPresidingOverSolitude
  • Once A Burden
  • Winter Slave
  • Leonor
  • Poem For Matilde
  • Fading Sun
  • September Blood
  • Sudden Scars
  • Like Yesterday
  • Her Lament

Introdução

Oriundos de Vila Nova de Gaia, os Heavenwood são um trio bem conhecido dos fãs nacionais de Metal e também contam com algum reconhecimento em terras não lusas. Para isso contribuíram as suas duas gemas de estreia, Diva e Swallow, que cedo os colocaram no topo do metal nacional. Certo é que o seu caminho foi árduo, e foram precisos dez anos para que o terceiro álbum visse a luz do dia. Redemption foi um aguardado e aclamado regresso, que saciou momentaneamente os fãs e revelou uns novos Heavenwood, com mais energia, classe e técnica. Mas pedia-se mais…

Três anos volvidos, esta nova onda de energia criativa culmina agora com o lançamento de Abyss Masterpiece. Três são também os elementos chave extra que podemos encontrar neste álbum: uma nova editora internacional, a Listenable Records, o conceituado produtor Kristian Kohlmannslehner e o compositor clássico russo Dominic Joutsen. Três pesos pesados, aos quais se junta o talento de Daniel Cardoso na bateria e a bela voz de Miriam Renvåg (Ram-Zet). O resultado desta fusão de talentos com os já de si talentosos Heavenwood é o que vamos em seguida analisar.

Song By Song Review

Primeiro minuto, entrada triunfal e sinistra. Assim começa a “masterpiece” do abismo, com uma composição brilhante de Dominic Joutsen que abre de forma perfeita para uma segunda entrada, desta feita com o inconfundível som dos Heavenwood, sem nunca se deixar de ouvir os elementos sinfónicos no background. Excelente! Uma voz entra, (tão fria e dilacerante!) o pano sonoro de fundo é negro, complexo, ecoa na mente. Pede-se um refrão épico e ele surge, uma amálgama de instrumentos clássicos e modernos, dançando em perfeita harmonia. Quase a terminar, um não menos épico solo de guitarra, com uma melodia que rasga a pele e penetra fundo na carne. The Arcadia Order acaba de forma abrupta, o ouvinte pede por mais.

E mais nos é dado, mas com calma! Um coro angelical (que me faria ir à Igreja se lá cantassem assim) preenche os primeiros segundos daquela que é a minha segunda música favorita de todo o álbum. Morning Glory Clouds tem uma melodia contagiante, sempre com o complexo som orquestral de fundo e um gutural negro que tão bem assenta na melodia aveludada. Eis que surge o refrão, um dueto entre uma voz gutural sombria e outra mais rouca e enérgica, perfeito! Três minutos passados e somos presenteados com uma passagem mais calma, a lembrar uma velha música dos On Thorns I Lay, que é continuada por uma parte instrumental progressiva em tom crescente. É com prazer que o ouvinte recebe mais uma vez o refrão, ficando o “as we delay one day for the morning glory clouds / as we remain in pain for the morning glory clouds” preso na cabeça.

Mas não só de doces melodias é feito este álbum: prova disso é o tema seguinte, GoddessPresidingOverSolitude, aquele que é sem dúvida o tema mais pesado e sombrio de toda a carreira dos Heavenwood, roçando o Death Metal. Entra na alma e corrói. Conta com uma lead guitar inquietante mas ao mesmo tempo apetecível, tentadora, um trabalho excelente na bateria (parabéns ao Daniel Cardoso) e sempre o habitual som sinfónico de fundo. Um solo de guitarra que começa pouco antes dos três minutos dá a primeira melodia mais suave à música: e que melodia! Uma das partes mais apetecíveis de todo o álbum! Mas o negrume acaba por triunfar, acabando o tema como começou.

Once A Burden abre melancólica, um som gótico puro. Uma voz limpa, pela primeira vez dominante, é bruscamente cortada por um gutural agressivo que se arrasta até ao refrão, onde ambas as vozes se fundem numa melancolia que deixa o ouvinte em transe. A fórmula repete-se, até que surge mais um épico solo de guitarra, num ambiente inicialmente calmo que se torna progressivamente mais complexo e rico musicalmente. “What is left of me? Just a burden from your false words” é mais um refrão que nos fica às voltas na cabeça.

Winter Slave tem aquela que é para mim a melhor entrada de todo o álbum. Poderosa, majestosa, altiva, impõe respeito! Após um breve gutural, a voz limpa volta a presentear-nos numa parte mais calma; um falso prenúncio, porque o tema desenrola-se soturno e sufocante. Marcadamente progressiva, a faixa conta com alguns momentos inesperados (mudanças de ritmo e elementos sinfónicos a intrometerem-se). Não entra directamente nas nossas mentes, antes requer uma análise profunda e repetidas audições para se abranger toda a complexidade e riqueza musical do tema. Esta é uma característica que encontro em faixas de bandas como Opeth e Anathema: quanto mais oiço, mais gosto, mais absorvo e mais me deixo contagiar, como se fosse uma doença. A terminar, repete-se a magnífica entrada da música, que morre num momento calmo.

Calmo porque calma e atmosférica começa Leonor. A voz operática de Miriam Renvåg surpreende tudo e todos. Que virá daqui? Pois bem, eu digo-vos: outro dos temas mais brilhantemente concebidos de todo o álbum. Começo a soar repetitivo, mas tenho que o dizer: a entrada progressiva é, mais uma vez, brilhante! A voz feminina ouve-se numa atmosfera misteriosa e abre para mais um momento de magistral composição sinfónica. O gutural entra aqui como um elemento inicialmente estranho, mas que vai ganhando consistência e acaba por encaixar muito bem. O ouvinte é presentado por um dueto de gutural com a voz feminina cristalina de Miriam, que é para mim o melhor momento do Abyss Masterpiece. Sendo fã de longa data de Gothic Metal com vozes femininas, sou suspeito ao afirmar isto, mas este é o meu tema favorito do álbum. A antítese entre o belo e o monstruoso, o agressivo e o melódico, uma fórmula tanta vez usada por inúmeras bandas mas que os Heavenwood parecem ter reinventado com nova frescura. Cinco minutos e meio passados e a doce voz feminina toca-nos de novo na alma, um alívio ilusório de uma tormenta real.

 

 

Poem For Matilde. Outra senhora? O tema não se revela ao ouvinte inicialmente, antes começa fechado e progressivo, um conjunto de sons cada vez mais complexo. A voz rouca entra aqui com uma beleza incrível! Lembra alguns dos melhores temas de Paradise Lost, mas com o som inconfundível dos Heavenwood e o toque magistral de Joutsen. Uma melancolia latente, omnipresente, com raiva, dor e paixão em doses equivalentes. A voz feminina e a gutural entram no plano de fundo, quase imperceptíveis, mas que tão bem realçam a antítese entre a doce melancolia e a fria raiva. A guitarra solo neste tema é a cereja no topo do bolo, tão melódica e agridoce.

Fading Sun conta com mais uma memorável entrada, com a mesma fórmula sinfónica no plano de fundo. Este tema, agressivo nas partes cantadas e melódico nas instrumentais, não traz nada que o álbum não tivesse já, é “apenas” uma excelente continuação da mesma fórmula. O arranjo sinfónico aqui é mais presente que na maioria das músicas. Destaque para a repetida entrada da guitarra de solo nalgumas partes, sempre tão apetecível.

September Blood entra com um ritmo gótico mais marcado, de novo com um pano de fundo orquestral maravilhoso. O refrão é Gothic Metal quase dançável, que por mais estranho que pareça encaixa bem no resto da música. Peguem nos The 69 Eyes, juntem-lhe uma orquestra e o som típico dos Heavenwood. São quatro minutos e meio disto (salvo uma bridge progressiva antes do final) que aliviam a nossa cabeça por momentos de todo o negrume das faixas anteriores.

Sudden Scars tem uma entrada a lembrar um pouco Therion, que nos deixa automaticamente em “headbanging mode”. Mas eis que entra a voz e a ilusão de Therion apaga-se: é Heavenwood, é negro, é sufocante. E é belo! O tema leva-nos para um ambiente mais misterioso, deixando a sensação que estamos nalgum país oriental. O refrão aqui não sobressai como nos temas anteriores, é apenas o seguimento lógico da progressão da música. Isto bem que podia acabar aos quatro minutos e meio; aliás, até dá essa sensação por uma fracção de segundo, mas ainda há mais! Um solo de guitarra inesperado assalta-nos os ouvidos (no bom sentido) e quando estamos finalmente a aceitá-lo, este é cortado por uma passagem sinfónica mais calma antes do refrão final. O ouvinte sai deste tema positivamente surpreendido e meio confuso. Mas para deixar a nossa cabeça em ordem, vem aquela que se pode considerar a balada do álbum.

Docemente melódica, Like Yesterday surpreende qualquer fã de Heavenwood. É dos temas mais suaves de toda a carreira da banda, quase a roçar o Pop/Rock no início, mas com um refrão indubitavelmente gótico, com destaque para o piano arrastado. Até o gutural aqui soa mais belo, como uma besta cuja fúria foi dissipada. Calma e refrescante, lembrando Tiamat nalgumas partes, esta música seria um epílogo perfeito para um álbum magistral.

Mas Like Yesterday não é o epílogo perfeito, porque os Heavenwood deixam-nos algo ainda mais magistral como surpresa final: Her Lament, um tema inteiramente instrumental e clássico, de infinita emoção. Quatro minutos que poderiam durar eternamente, tão linda é a melodia. É um final de nos deixar literalmente a chorar por mais.

Conclusão

Posso garantir-vos que, por mais detalhada que pareça a descrição que fiz das músicas, não consegui descrever nem uma décima parte daquilo que é realmente este álbum. Os Heavenwood foram buscar pérolas à sua caixinha de criatividade musical e souberam montar um puzzle quase perfeito. O álbum tem uma elevada carga de produção em cima, o que em muitos casos se revela fatal (a tom de exemplo de conhecimento geral, lembrem-se do Chinese Democracy dos Guns ‘N’ Roses), mas no Abyss Masterpiece essa dose está na medida perfeita.

Conseguirão os Heavenwood superar-se a si mesmos no futuro? Veremos. Para já, ficamos com esta masterpiece no ouvido. Aguardo com interesse a crítica internacional ao álbum até ao final do ano. Será desta que os Heavenwood se conseguem projectar na Europa, como tanto merecem? Qualidade certamente não falta, resta esperar que os ouvidos dos metalheads por esse mundo fora estejam sintonizadas na frequência certa para obterem tanto prazer deste trabalho como eu obtive.

 

Saudações metaleiras,
David Dark Forever Matos
Classificação

Vocal: 9
Instrumental: 9,5
Escrita: 9,5
Originalidade: 8,75
Produção: 10
Impressão pessoal: 9,5
TOTAL: 93,90%