Por incrível que pareça e por tão poucos anos de actividade que têm, já não há muito a dizer sobre Conjunto Corona. Quando me chegou ao ouvido que o duo – ou será antes trio? – estava prestes a lançar uma nova colectânea de temas pinhados de bom humor e agressividade, fiquei com a boca a salivar. Literalmente. Senão vejamos: isto era para ter sido uma notícia alusiva ao facto do conjunto (peço perdão pelo pun) ir actuar a Lisboa e Porto no início de Dezembro para apresentar Santa Rita Lifestyle, o tal novo disco editado neste 22 de Outubro pela Meifumado Fonogramas, mas eu tinha de dizer algo mais sobre o assunto, não me podia ficar só pelas datas. Mas se vieram só por isso, aqui vai: dia 1 de Dezembro no Musicbox, em Lisboa, e dia 8 de Dezembro no Hard Club, no Porto.
Ora pois bem, Santa Rita Lifestyle. No inicio referi que já não havia muito a dizer sobre Corona e essa é, de facto, um pouco a realidade. Até porque esperar outra coisa desta malta que não um álbum que celebra o quotidiano requintado e animado de Gaia, Porto e arredores, é o mesmo que esperar que amanhã não nasça o sol. Ele nascerá, pode é estar por detrás de umas nuvens. E aqui se encontra o charme de Corona. Não nas nuvens, mas no facto de ao seu quarto álbum se conseguirem reinventar um pouco sem destoar daquilo que os faz quem são.

Falo pois da inclusão de umas guitarradas, agilmente deslizadas por Frederico Ferreira e Marco Duarte, assim como de uma ambiência mais out there. Não é por acaso que nos contam que neste álbum, o Conjunto Corona formou um culto junto à mítica rotunda de Santa Rita – lugar onde uma igreja e um convento coexistem lado a lado com uma Repsol, um McDrive e um restaurante em perpétuo funcionamento. Se Cimo de Vila Velvet Cantina era um olhar por detrás da indústria pornográfica e de negócios ilícitos, Santa Rita Lifestyle assume-se como um álbum menos contido e de se levar para as ruas em boomboxes, com o intuito de se espalhar a doutrina de Corona e de curar as almas perdidas daqueles que ainda desconhecem o seu culto.
O resto é, lá está, um álbum tipicamente Corona. O mestre-de-cerimónias David Bruno sempre presente com a sua voz charmosa e a máquina de samples sempre ligada, enquanto os convidados do costume – 4400 OG, Kron Silva e Fred&Barra -, cospem rima atrás de rima, tecendo assim toda uma narrativa que dá vida a mais um álbum de Corona. Menção especial para a participação de PZ, que finalmente se ajeitou ao ritmo do grupo de Gaia e conseguiu marcar presença no disco.
Se nada disto vos faz sentido, não faz mal. O que interessa aqui reter é que este novo disco não só é o melhor de Conjunto Corona até ao momento mas é também o melhor lançamento deste ano no que toca a música nacional. E se existem dúvidas quanto a isso, podem desfrutar do álbum na sua totalidade no link em baixo. Ah sim, e os bilhetes para os concertos valem 5 euros, dizem.
Autor: Filipe Silva