Gorillaz – Humanz

Não é todos os dias que temos um novo lançamento de Gorillaz, a mítica banda virtual criada por Damon Albarn e Jamie Hewlett em 1998. Afinal, passaram seis anos desde o lançamento de The Fall, e não contando com uma compilação que saiu no final desse mesmo ano, já lá vai mesmo algum tempo. É natural, portanto, que quando caiu “Hallelujah Money”, música que conta com a gloriosa voz de Benjamin Clementine e que está presente neste novo registo, o público foi ao rubro. Mas será o resto do álbum assim tão fantástico como a sua antevisao?

Vamos por partes. A primeira parte do álbum é no mínimo interessante e de longe a parte mais forte. Temos de tudo um pouco: vibrações rápidas logo de início em “Ascension” (com Vince Staples) e “Strobelite” (com Peven Everett), e reminiscências de Demon Days em “Saturnz Barz” (com o jamaicano Popcaan a dar cartas nos vocais) e “Carnival” (com Anthony Hamilton), sendo que esta última poder-se-ia considerar a melhor do álbum. Poder-se-ia, não fosse a existência de algo como “Submission”, com a magnifica voz da deslumbrante Kelela e uma participação energética de Danny Brown a colocar a faixa nos eixos. Mas começam a notar um certo padrão nisto tudo? Estas músicas têm todas o factor “com”. Aliás, se não contabilizarmos os imensos interlúdios – lá iremos -, resta-nos apenas “Busted and Blue” como a única música sem qualquer participação exterior e onde Damon Albarn se faz ouvir com clareza.

É certo e sabido que Gorillaz vivem-se bastante os convidados, e no geral até funciona. Mas neste Humanz acaba por dar mais a sensação que este é um daqueles álbuns VA, uma playlist, onde se reúnem vários artistas para tocarem músicas uns dos outros com algumas diferenças. E quando comparado com álbuns anteriores neste campo, Humanz fica muito atrás. Trabalhos como o anteriormente mencionado Demon Days marcam pelo equilíbrio, apesar da quantidade de músicos em colaboração, nunca havendo propriamente um momento em que alguém pensaria “Isto não é Gorillaz!”. Aqui perde-se um pouco essa unicidade, e os cinco interlúdios, ou seis se contarmos com a edição especial, não ajudam neste processo, dando aquela sensação de lá estarem mais para “encher chouriços” do que para ajudar na fluidez e no contexto do álbum.

No entanto não significa que seja um mau álbum: há aqui boas músicas. Mas os constantes “pára-arranca” e os convidados em excesso acabam por cortar a experiência daquele que seria um excelente regresso aos discos. Podia-se ter repensado a sua longa duração ou, quiçá, lançado Humanz como um EP.

Autor: Filipe Silva

Álbum. Parlophone / Warner Bros. 28 Abril 2017

Classificação

-