Quatro anos depois de Red Supergiant, os lisboetas Miss Lava estão de regresso com o seu terceiro álbum de originais. Sonic Debris reafirma a sua sonoridade de rock pesado, que junta elementos de stoner, doom e grunge; tudo somado, o resultado é um disco coeso, bem pensado, o melhor da banda até ao momento, mas com duas metades de qualidade diferente.
Julgando os dois álbuns anteriores, Another Beast Is Born talvez seja uma estranha aposta para primeira faixa, por se tratar de uma tema de grunge progressivo, de ritmo mais lento e melódico, contrastando com a explosividade directa de Don’t Tell A Soul e Desert Mind. Posicionamento à parte, é uma excelente construção musical, com ajuda das vozes convidados de Marco Resende e Salvador Gouveia, culminando num final mais melódico. Bem pensada foi também a passagem sem pausa para a próxima música; apenas percebemos que mudámos para The Silent Ghost Of Doom quando a poderosa introdução de spoken word de Rui Guerra explode num tema mais típico de Miss Lava, cheio de peso, ritmo e com um refrão catchy.
A banda também voltou a explorar músicas mais longas, algo que apenas tinha feito no disco de estreia, Blues For The Dangerous Miles. Aqui, com I’m The Asteroid, o resultado foi um épico de 7 minutos de stoner, com um final psicadélico, qual viagem cósmica com uma atmosfera mágica criada pelo theremin de Tiago Jónatas, com continuidade na bela balada In A Sonic Fire We Shall Burn. Esta, apesar de curta, tem grande impacto no álbum, dando-lhe uma dimensão de calma melodia através das guitarras acústicas e atmosfera western.
At The End Of The Light é a faixa mais doomy de Sonic Debris, com um riff de entrada a lembrar Black Sabbath clássico. E é aqui que o álbum sofre uma mudança quase drástica. Depois de uma primeira metade de topo, variada e do pesado ao melódico, do curto ao longo, a segunda metade pouco mais consegue acrescentar. In The Arms Of Freaks e Pilgrims Of Decay são músicas genéricas, que poderiam constar num álbum de qualquer banda stoner. Symptomatic é uma faixa mais interessante, com um refrão simples mas eficaz. Fangs Of Doom tem uma progressão muito interessante até ao refrão, mas a segunda parte do tema estende-se por demasiado tempo.
A fechar, Planet Darkness volta a trazer alguns momentos mais interessantes, mas sem chegar à qualidade dos primeiros cinco. Dito isto, não estou a afirmar que o álbum tem 5 músicas boas e 5 músicas más, longe disso; mas se fossem as 10 ao nível das primeiras, estávamos perante um dos discos nacionais do ano. Assim sendo, é, “apenas”, um bom álbum, delicioso nos detalhes, mais variado do que os Miss Lava nos habituaram e um passo certo na afirmação da banda como uma das muitas grandes bandas de rock genuíno que têm aparecido em Portugal na última década.
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