The Body – No One Deserves Happiness

the bodyOs The Body são na sua fundação Lee Buford e Chirp King, um duo cuja instrumentação sobreposta conheceu duas fases de uma carreira. Com um self-titled, em 2004, estavam meia-década longe de imaginar que All the Waters of the Earth Turn to Blood iria ser bem recebido com selo da At a Loss Recordings, e ainda mais distantes de adquirir os seus power electronics berrantes, de grunhidos de trato industrial, ao selo da Thrill Jockey com a força de Christs, Redeemers. Tanto a curiosidade de ocasião como o sentido experimental levaram-nos a unir forças com The Haxan Cloak em I Shall Die Here, disco que, juntamente com o anterior, os catapultou para colaborações com Krieg, Thou, Vampilia e Full Of Hell. Em 2016 há este novo disco, só deles.

Em No One Deserves Happiness há um nome que surge um patamar acima do duo, e esse é de forma inequívoca o de Chrissy Wolpert. A vocalista e colaboradora de longa data dos The Body é o holofote que conduz as intenções e guia a navegação, sendo principalmente por ela que “The Fall and the Guilt” é a música que é – uma balada tremenda para o fim dos dias e o fechar do tempo. As faixas que brilham em Happiness brilham porque Wolpert as faz irradiar, e se falamos em “The Fall and the Guilt” temos inevitavelmente de referir “Wanderings” e “The Myth Arc” – faixas de abertura e de encerramento do disco, respectivamente – como sendo de destaque. Por outro lado e apesar de tudo, Chip King continua a ser o homem que nos deixa de fora do que é este jogo, e por Chip King referimo-nos de forma muito particular ao que são os seus grunhidos esganiçados e monotónicos. Não sabemos ainda se são para ser levados a sério ou não, sabemos sim que são de tal forma notórios que de forma fácil transpõe o bom perturbador e passam ao universo do chatinho, ao ponto de conseguirem estragar praticamente qualquer contexto em que caem.

Tentar justificar Happiness num pretexto como o de um take grosseiro à pop não fica longe do que é limpar o cu a um amigo quando estão os dois de mãos atadas. Um saltinho, portanto, daí até afirmar que não há género que se aproxime do ridículo a que se esfrega o metal no que toca ao que é a glamorização das suas pseudo-reinvenções e revoluções de cravo de papel. Está tudo muito bem, e não tem de ser novo para ser bom quando bem feito, mas não ganham palmadinhas nas costas por descobrirem que a terra afinal não acabava ao fim do horizonte.

Talvez um dia percebamos o que há de tão especial aqui. Talvez haja um buraco emocional qualquer em que isto caiba e faça um sentido místico qualquer. Happiness não deixa de ser um disco interessante mas um que só muito raramente passa disso. Ninguém merece a felicidade e ninguém quer de todo saber.

Autor: Rui P. Andrade

Álbum. Thrill Jockey Records. 18 Março 2016

5.9