Foi no meio de uma pacata rua residencial, perto da Parede, em Cascais, que estacionámos o carro. Entrando num pequeno portão do lado esquerdo da rua, descemos até à garagem, onde, num ritmo calmo de “abre litrosa, enche copo, fecha, guarda no frigorífico e acende cigarro” encontramos os SIStema. Na garagem não faltam detalhes, sejam as bandeiras de Iron Maiden, AC/DC ou de Pantera, os autocolantes da Super Bock, ou mesmo as faixas do Sporting, escondidas entre colunas e amplificadores. Logo à entrada, a bateria, decorada com recortes das páginas dos classificados do Correio da Manhã, levava uns últimos retoques.
«Somos tipos alegres e parvos», explicam em tom de aviso. Um aviso que optámos por reproduzir, de forma a poder tomar um seguimento pouco lógico no relato que se segue.
Os SIStema – nome que remete para o Serviço de Informações de Segurança portugueses – são formados por Raffa (na voz), Moska (guitarra rítmica), Richard (baixo), Fininho (guitarra) e Gil (bateria). Quando Raffa, o único membro fundador que ainda compõe a banda, saiu de Albert Fish, resolveu então criar uma banda com um grupo de amigos e ficou surpreendido com o quão bem acabou por resultar.
Anos passaram e a nova formação, «o melhor apanhado de Trajouce», segundo Gil, tirando o Fininho, que de acordo com Richard, conheceu Raffa quando estava «em Coina, encostado a uma árvore», surgiu para renovar a banda, que estava parada. De quatro passaram a cinco e Raffa, anteriormente também baixista, passou a focar-se inteiramente na voz.
«Convidei o Fininho, que era meu vizinho, para dar uns toques. Isto aí há uns quatro anos. O Moska já tocava com o Fininho e conhecíamo-nos das noites de copos. Eu estava no baixo e na voz e entretanto já estava farto de mandar pregos com os copos, então decidi ter as duas mãos livres para poder beber mais e mandar menos pregos», explicou Raffa. Aqui surgiu Richard, para o baixo, porque tinha «toda a postura para SIStema». Gil foi o último a entrar, ocupando o lugar na bateria.
O ensaio decorre rapidamente e as músicas sucedem-se com aquela energia contagiante do punk cru e acelerado, acompanhado de gritos quase guturais pelo meio. “De copo na mão” ficou para o final e, tal é o entusiasmo, que dá quase para imaginar a borga que não será perante um palco composto.
«Há um lado menos sério. (risos) SIStema fala de tudo, da vida, do dia-a-dia do pessoal. Se os copos estão sempre presentes, falamos mais em copos», responde Raffa, quando lhe perguntamos se existe um lado mais sério de SIStema que possamos vir a conhecer. Com os copos, figurativamente, na mesa, não há como não perguntar com quem gostariam de tomar um.
Fininho: Slash.
Gil: Um copo de leite com o Raffa, só para o ver a beber um copo de leite e morrer. E depois continuávamos com SIStema.
Raffa: Com a minha mulher, que bebe mais do que um homem. Não é só minha mulher, é companheira de copos também.
Moska: Sócrates.
Richard: Sid Vicious ou Glen Benton.
Catalogam-se (já que hoje em dia são sempre necessárias tais convenções) como drunk punk, mas dividem-se quanto a qual o tipo de punk, se britânico, se norte-americano, se a estética de Malcolm McLaren, se a comunidade CBGB, que mais os inspira. Raffa, Richard e Gil dizem identificar-se com a maneira inglesa pela «atitude» e por ser mais «directo», «cru», «enérgico» e com «raiva», enquanto Moska e Fininho optam pela «calma» e o «peso» da vertente norte-americana. Mas o consenso chega quando chegamos ao punk português e à importância de João Ribas. «O Ribas é como o Sid Vicious em Sex Pistols. O Ribas foi o impulsionador, foi o pilar do punk em Portugal», afirmou Raffa, o que culmina numa tertúlia sobre a continuidade dos Tara Perdida.
O dito ensaio serviu como preparação para a próxima actuação da banda na quinta edição do festival Paws and Claws, a 10 de Outubro, no Metalpoint, no Porto, a favor da AASAGRIJO/AEA Associação Esperança Animal. Uma oportunidade para contribuir para uma boa causa e uma excepção, já que estão neste momento a preparar um novo registo, sucessor do já lançado Caos.
Fininho: Estamos a compor músicas para o álbum..
Gil: Estás em pré-produção, as pessoas gostam de nomes técnicos!
Raffa: Posso adiantar que vai ser um álbum diferente, vai ser mais bem produzido e vai ser bem mais alegre.
Gil: Vem bomba, c*ralho!
Fininho: Vai ter colaborações..
Gil: Vai? Podíamos falar sobre isso, era giro.
Raffa: Há-de ter músicas sobre cerveja, certamente. A sonoridade vai estar mais pesada, vai ter mais peso.
Gil: As músicas que eles tinham já têm três anos e, nestes três anos, a malta que já estava na banda evoluiu e entraram dois tipos novos. Está mais pesado, com mais colhões, passo a expressão.
Fininho: Sim, com novos membros, o som vai mudando.
Gil: Temos mais gente a compor, para não falar do bom ambiente de banda que ajuda.
A capa estará a cargo de Ricardo “Kreator” e prevê-se (agora num tom mais sério) que este esteja pronto a lançar na Primavera de 2016. Além desta actuação, está também nos planos da banda um concerto a sul, no final do ano, para o qual prometem uma grande festa. «A acontecer, será com uma grande banda que sempre nos apoiou, uma banda irmã para nós», acrescentou Raffa.
Para já, para o Porto, o qual apelidam carinhosamente de “céu”, não só por o primeiro concerto ter sido dado no Heavens, mas, sobretudo pelo «carinho do público» e «pela cultura de sair para beber um copo e descobrir novas bandas», apelam à cautela relativamente ao que se pode esperar ver no próximo sábado.
Fininho: Nada desta vida.
Gil: É melhor não esperarem muito.
Moska: Copos na mão.
Rafa: Sempre o melhor de nós.
Fininho: Um grande concerto, uma granda bebedeira, música, divertimento, pronto…é simples.
Gil: Da minha parte podem esperar muita m*rda, é melhor que não venham com grandes ideias. Eu só meto o pedal duplo para show off, que não sei fazer mais nada. Podem-nos é ir buscar ao aeroporto, vamos de Ryanair!
Entrevista e Fotografia: Rita Bernardo
Ouvir SIStema, aqui.