Suuns & Jerusalem In My Heart – Suuns & Jerusalem In My Heart

SuunsJerusalemFoi em 2013 que Jerusalem In My Heart, projecto visual e musical criado pelo libanês Radwan Ghazi Moumneh, editou Mo7it Al-Mo7it – um cocktail de música tradicional do Médio Oriente com o gelo da música electrónica vanguardista. No seu corpo intimidante, cheio de elementos que o ouvido do ocidente declara como exóticos, reinou, por vezes, uma densidade angustiante que nunca deixou proferir palavras inteiramente confortáveis a quem se desafiou comentar o disco. Já os canadianos Suuns deram-nos a provar nesse ano o indie e psych rock cosido nas malhas do kraut de Images du Futur. Um disco apreciado e conhecido em Portugal e que de certo aguarda um sucessor, pelo menos para que faixas como “2020”, “Edie’s Dream” ou “Minor Work” não tenham a sua qualidade descontinuada.

Esse sucessor poderia chegar em 2015, mas um encontro – aparentemente improvável, não soubéssemos nós que ambos Suuns e Jerusalem In My Heart estão sediados em Montreal – celebrado em Novembro de 2012 durante uma semana, resulta então numa colaboração homónima que desembrulha as capacidades dos cinco músicos envolvidos e que os convida a ir além das suas influências. Depois de assentadas as ideias e de apresentados os seus respectivos álbuns, surgiu a altura certa para trabalhar no que hoje podemos escutar. «Não é um disco de Suuns, não é um disco de Jerusalem In My Heart», garantiu Ben Shemie de Suuns e com legítima razão, ainda que os fãs de cada um dos projectos envolvidos se possa identificar com alguns elementos aqui presentes – muito devido à cunha quase perfeita entre os teclados sinistros de Suuns e o sentido exploratório e livre de formas de Jerusalem In My Heart.

Sabendo que se tratam de sete dias de ideias é natural observar este disco como um produto por polir, cru, sem cuidados exagerados nas suas arestas. Mas ao contrário do expectável, não se trata, de todo, de um choque de sonoridades e influências. Ainda que com rasgos tão óbvios do seu autor em “Metal” e “Seif”, durante grande parte do álbum confundimos o real artífice da génese electrónica. E numa colaboração tão idealmente improvável como esta só pode ser bom.

Autor: Nuno Bernardo

Álbum. Secretly Canadian. 14 Abril 2015

Classificação/Rating

7.3

Sabendo que se tratam de sete dias de ideias é natural observar este disco como um produto por polir, cru, sem cuidados exagerados nas suas arestas.