Depois da sua mais recente passagem por Portugal no festival Entremuralhas, no passado mês de Agosto, a Ruído Sonoro entrevistou Jérôme Reuter, mente por detrás da banda luxemburguesa ROME.
Ruído Sonoro: O teu novo álbum chama-se Hell Money. O que é que podemos esperar deste novo lançamento?
Jérôme Reuter: Penso que, liricamente, é um dos álbuns mais pessoais que alguma vez fiz. Musicalmente é, certamente, diferente dos seus antecessores. É muito mais cru e derradeiramente sincero.
RS: O Flowers from Exile é um álbum muito pessoal, e no Die Aesthetik Der Herrschaftsfreiheit sentiste a necessidade de falar acerca de alguns assuntos que não tinhas ainda abordado. Desta vez, o que é que sentiste necessidade de dizer? O que é que te inspirou?
JR: O Hell Money ganhou forma bastante depressa, sendo que a única inspiração fui eu próprio, os meus próprios sentimentos e experiências. É algo que fiz para lutar contra os meus próprios demónios. A inspiração não veio da literatura nem da história, nem de outra coisa qualquer. São apenas coisas muito pessoais, e não existe nenhum tema histórico ou filosófico.
RS: Sei que costumas fazer sempre algum tipo de pesquisa para os teus álbuns. Desta vez sentiste a mesma necessidade?
JR: Na verdade não fiz nenhuma pesquisa desta vez. Limitei-me a reproduzir o que se encontrava no interior. Estava na altura de fazer qualquer coisa diferente.
RS: Consideraste os teus primeiros álbuns como uma trilogia, e tendo em conta que o Die Aesthetik Der Herrschaftsfreiheit é ele próprio uma trilogia, que papel desempenha o Hell Money na discografia da banda? O começo de uma nova trilogia, talvez? Ou já estás farto deste tipo de formato?
JR: O Hell Money é apenas um álbum. Não existe nenhuma ligação com outros lançamentos. Não sei se é o começo de uma nova série ou não, mas penso que não. Já tenho planos para algo novo, e não irá soar, de todo, como o Hell Money.
RS: Os ROME são geralmente apontados como um projecto Neofolk mas, na verdade, é muito difícil encontrar uma etiqueta que realmente lhes assente. Como é que encaras isso? Continuas a considerá-los uma banda de Neofolk?
JR: Nunca vi os ROME como uma verdadeira banda de Neofolk. No geral não gosto de etiquetas. Combino diferentes tipos de música naquilo que faço, e não me importo com as barreiras dos géneros e as expectativas que estas trazem consigo.
RS: A História e a Consciência desempenham sempre um papel muito importante nas tuas letras. Porque é que sentes a necessidade de explorar estes temas?
JR: Suponho que seja porque me interesso mesmo por esses temas, só isso. Todos nós escrevemos sobre aquilo que gostamos e que queremos explorar. Simplesmente existe alguma coisa nesses temas que sempre me fascinou. O que faço é satisfazer a curiosidade. É daí que deriva todo o prazer.
RS: És um conhecido poliglota, e os ROME são famosos pelo uso de várias línguas nas suas músicas. Por isso, tenho de te perguntar: que relação tens com o Português?
JR: Cresci rodeado por muitos portugueses. Temos uma grande comunidade portuguesa no Luxemburgo, especialmente na área onde cresci. Sempre tive colegas portugueses e assim, e a minha padaria favorita continua a ser uma portuguesa em Esch-sur-Alzette, no Luxemburgo! Eles fazem as melhores coisas! Por isso, escolho uma palavra ou outra aqui e ali, mas não sou fluente de todo!
RS: Porque é que sentes que é importante transmitir diferentes sentimentos/ideias em diferentes línguas?
JR: Simplesmente existem algumas coisas que não podes traduzir. A alma e a cultura de uma nação ou tribo está na sua língua. Por isso é que existe um número razoável de noções que não podem ser completamente traduzidas.
RS: Vieste finalmente a Portugal este ano, num concerto altamente antecipado por todos os fãs portugueses, e tocaste no lindíssimo festival Entremuralhas. Que memórias é que guardas desse concerto?
JR: Oh sim, foi realmente um sítio lindíssimo para tocarmos! Divertimo-nos muito. Tivemos comida óptima, muitas bebedeiras e estivemos rodeados por pessoas bonitas e simpáticas! Esperamos puder voltar muito em breve!
RS: Para além da promoção do novo álbum, que planos é que tens para o futuro?
JR: Sinceramente, nada de especial. Vamos dar alguns concertos, obviamente, e penso que brevemente estarei a trabalhar num novo álbum.
Entrevista por Rita Cipriano
Fotografia de Achim Webel