★ Entrevista a Silent Love of Death ★

A Ruído Sonoro esteve à conversa com os irmãos Toledo, fundadores e membros do projecto espanhol de dark folk Silent Love of Death.

 

Ruído Sonoro: Quando é que surgiram os Silent Love of Death?

Silent Love of Death: Surgiram num ponto de viragem no início da nossa carreira musical, quando sentimos a necessidade de criar uma forma física para um certo conceito.

O nome, Silent Love of Death, foi inspirado por um dos framentos do verso LXXVI do autor Gustavo Adolfo Bécquer, uma figura literária que admiramos muito. Representa dois conceitos chave na compreensão do ser humano: o amor como vida, cópia e desenvolvimento de um momento, e a morte, como um instinto de auto-destruição, recessão ou degeneração.

RS: Por que motivo é que abandonaram o vosso primeiro projecto, Lament, e formaram os Silent Love of Death? E que tipo de projecto era esse?

SLOD: De facto começámos a nossa carreira musical com o projecto Lament, no início dos anos 90, e era algo semelhante ao coldwave e ao dark rock anglo-saxónico. Após termos gravado várias demos, repensámos a nossa direcção musical e decidimos que queríamos que o grupo seguisse um novo horizonte musical e conceptual, fazendo com que surgissem os Silent Love of Death.

RS: Como é que descreveriam o vosso som, e quais são as vossas influências musicais?

SLOD: Desde o início que temos passado por vários momentos musicais, mas a nossas influências são mais do que óbvias: o darkfolk e o darkwave. Contudo, actualmente atingimos um som muito pessoal, semelhante ao dark ambient e à música experimental. Mas apesar disso queremos deixar claro que os Silent Love of Death, enquanto projecto, não se encontram dentro de nenhum estilo musical particular.

No que diz respeito às nossas influências, gostamos muito de bandas como Rome, Desiderii Marginis, Death in June, Morpheus, Chaos Condensed, Ô Paradise, Inade, Of the Wand and the Moon, e um longo et cetera.

RS: O ano passado lançaram o vosso segundo álbum, Donde habite el olvido. Como é que foi o processo de criação e de gravação? Qual é o conceito existente por de trás do álbum?

SLOD: No nosso mais recente trabalho, Donde habite el olvido, trabalhámos seguindo duas linhas diferentes. Por um lado, trabalhámos o aspecto lírico que, dado o impressionante poder evocativo dos textos, achámos que a melhor maneira de os apresentar seria com o menor número de truques, declamando-os através da narração ou de “spoken word”. No que diz respeito ao aspecto musical, encontrámos um som evocativo, capaz de suportar a narração dos poemas. Neste sentido, podemos dizer que o álbum se encontra mais perto da música experimental, com algumas passagens que se parecem mais com dark ambient.

Existe uma primeira versão de Donde habite el olvido de 2009, produzida por nós devido às dificuldades que tivemos em encontrar uma editora apropriada. Felizmente, o  Avencio Delgado e a GH Records atravessaram o nosso caminho, e demonstraram grande interesse pelo nosso projecto e pelo lançamento do nosso novo trabalho.

No que diz respeito ao conceito, Donde habite el olvido é um tributo ao universo do poeta espanhol Luis Cernuda.  Acreditamos que Cernuda expressa muito bem o desejo pelo desejado, a luta contra os valores e crenças estabelecidas, a paixão às vezes excessiva por um ideal num contexto opressivo. Esta luta contra as provisões estéticas e ideológicas, coincide grandemente com a nossa atitude.

RS: Lançaram também um DVD. Como é que a ideia surgiu?

SLOD: Antes do lançamento do disco pela GH Records, quisemos ir mais longe e propusemos ao nosso amigo e colaborador, o realizador Guillermo García, a possibilidade de conduzir o projecto para além da musicalização dos versos e levá-lo para o campo visual. Acreditamos que o Gullermo teve sucesso na combinação perfeita do seu estilo pessoal, com o universo lírico de Cernuda e o estilo narrativo musical de Silent Love of Death, criando um trabalho muito meritório.

RS: Qual é a vossa relação com a poesia, e porque é que esta desempenha um papel tão importante na vossa música?

SLOD: É óbvio que a literatura é fundamental para nós quando compomos, sem desvalorizar obviamente outras disciplinas artísticas, como a pintura ou o cinema. O nosso interesse literário vai desde os clássicos até aos contemporâneos: Goethe, Shakespear, Hoffmann, Baudelaire, Blake, Maupassant, Bécquer, Espronceda, Barker, Pérez-Reverte, etc.

RS: Têm alguns projectos para o futuro?

SLOD: Actualmente estamos a promover o Donde habite el olvido. Temos feito várias apresentações em várias cidades espanholas, também com a projecção do DVD.

Estamos a amadurecer o conceito do nosso próximo álbum. Irá demorar algum tempo até entrarmos para o estúdio e começarmos a compor novas músicas.

 

Entrevista de Rita Cipriano.