Frontman dos MEN EATER, Mike Correia, troca palavras com o Ruído Sonoro

Foi durante a festa de lançamento do novo álbum dos MEN EATER, GOLD, que o Ruído Sonoro teve a oportunidade de entrevistar o vocalista e guitarrista da banda, num ambiente de festa e amigável. Saiba mais sobre o método de composição do novo trabalho e descubra o que os MEN EATER têm planeado.

Ruído Sonoro- Em 1º lugar queria-te agradecer pela entrevista. É sempre uma honra trabalhar com artistas portugueses e talentosos. Fala-me um pouco do início dos Men Eater. Como é que comecou?

Mike- Men Eater começou no fim de 2005. Foi num concerto em Espanha, de Blacksunrise e For the Glory. Eu estava a tocar em For the Glory, o primeiro guitarrista estava a tocar em Blacksunrise e no fim dessa noite apareceram os Men Eater só por acaso. Uma semana mais tarde estávamos a ensaiar.

RS- E quais foram as vossas princípais influências ao iniciar o projecto? Havia algum objectivo a nível de género musical ou não foi nada de muito pensado?

Mike- Pá, a piada foi que vimos um “punkzito” com um cão e achámos que íamos comecar uma banda de “crust” [risos], portanto as primeiras influências foram Old Man Bloom, Isis no início, bandas desse género… Era mais uma sujidade do que propriamente uma sonoridade.

RS- Agora falemos do HellStone. Foi um álbum muito bem recebido, sem dúvida. Acham que isso vos aumentou a pressão ao escrever o Vendaval?

Mike- A cena do HellStone foi ganhar um prémio logo no início de carreira. Foi bom perceber que as pessoas estavam a gostar da sonoridade da banda. Embora nós como banda queiramos sempre que um disco soe melhor que o anterior, o Vendaval não foi nada forçado. No final achámos que conseguimos, o disco soa um bocadinho assado, um bocadinho cozido, não sei bem… Foi uma fase de transição.

RS- Como foi colaborar com o membro dos Linda Martini, André Henriques, na música “Lisboa”?

Mike- Antes dos Linda Martini existia uma banda que eram os Shoal e é daí que todos nós nos conhecemos, dos concertos na Casa Ocupada, na Praça de Espanha. A música estava com uma sonoridade espacial e já não sei porque carga d’água achámos que o André a devia cantar. Pedimos-lhe para escrever meia dúzia de palavras e acabou por se tornar a “Lisboa”. Não foi nada de muito pensado, foi tipo “Pá, achas que podes cantar na nossa música? ‘Bora, cantas bem em português, que se lixe”, e olha acabou por ser o que foi [risos].

RS- Em relação ao novo álbum GOLD, que estamos aqui para ouvir hoje, quais as maiores diferenças em relação aos antecessores HellStone e Vendaval?

Mike- Em relação ao HellStone, o Gold tem “pitadas” do HellStone, está “marinado” percebes? Em relação ao Vendaval tem um ou outro ambiente do disco mas o que aconteceu, infelizmente por um lado, foi o facto da banda ter perdido dois elementos e, enquanto isto estava a acontecer, já eu estava a escrever músicas e portanto, basicamente, tudo o que envolvia composição tive de ser eu a fazer. Depois foi apresentar as ideias ao resto da banda e começámos a escrever o que já estava feito. Eu estou muito contente com o resultado deste disco. Está um bocadinho difícil de conseguirmos recriar ao vivo porque embora seja tudo orgânico (sem “samples” ou elementos electrónicos) tem muita doideira [risos]. Vamos ver como corre esta tour de promoção, que vai ser um pouco às cegas… Vai servir para percebermos como o álbum soa ao vivo e como o pessoal o aceita.

RS-Houve muitas novidades na produção deste CD?

Mike- Houve algumas novidades. Uma novidade grandiosa foi o Fábio Jevelim, para quem não o conhece ele era membro dos Blasfémia. Ele começou a trabalhar lá no estúdio (no Blacksheep) e vem de um campeonato um pouco diferente do nosso, então sempre que ele abria a boca para dar uma ideia nós ficávamos tipo: “Ya meu, faz sentido…”. Foi muito bom termos uma pessoa que não viesse de um campeonato de música pesada a debitar-nos ideias. Depois… Nós demos um tema ao disco que foi “Expansão Mental”, e a partir de agora vamos rotular-nos como uma banda de “Expansão Mental”, não como uma banda de rock ou de metal. Porque como todas as bandas de música pesada (hoje em dia) toda a gente gosta de fumar a sua “ervinha” e a que nós consumimos durante a gravação levou a que tivéssemos de reaprender muita coisa que estava gravada porque… Lá está “Expansão Mental” [risos].

RS-Como pensam que será a aceitação do novo trabalho por parte do público?

Mike- Não sei… Não sei se as pessoas vão ficar confusas, se vão gostar, se não vão gostar, se vão achar que é mais uma banda igual às outras… Não sei. Como disse um parvalhão qualquer: “prognósticos só depois do jogo”. Nós fazemos o que gostamos e enquanto nos divertirmos em palco não nos importa o resto. Se o pessoal gostar nós agradecemos se não… Pois, é como tudo na vida, que se lixe.

RS-Um novo álbum significa que algumas das vossas músicas serão retiradas das vossas setlists. Planeiam deixar de tocar mais músicas do vosso álbum de estreia, HellStone, ou vai ser uma repartição equalitária?

Mike- Vai ser uma repartição entre os dois, especialmente porque vamos tocar o novo disco todo, com a setlist igualzinha à do álbum. No meio do CD vamos tocar ao todo umas 5 ou 6 malhas do Vendaval e do HellStone… Sei que vamos tocar a “Black”, a “Lisboa” e a “Drivedead” de vez em quando… Há mais músicas do Vendaval do que do HellStone… Era para haver a “Redsky”, vamos ver como corre [risos].

RS- Há planos para depois desta tournée no nosso país?

Mike- Há 1001 planos, há 1001 propostas, há 1001 vontades de sair. Obviamente vamos voltar a fazer uma tour europeia no início da próxima temporada, lá para Setembro ou Outubro, e o resto é exposição. Já disse noutras entrevistas que se a banda se conseguir auto-subsidiar nos próximos tempos a banda continua, se não, fazemos dois anos, no máximo, de promoção e depois acabou, porque a banda já está cansada de não se conseguir subsidiar. Imagina: o BB (baterista) é dono do estúdio; eu não sou dono de nada; o Gaza (baixista) dá visitas guiadas no palácio de Queluz, é um cérebro em História; o Paulo Segadães (guitarrista) é o fotógrafo e realizador que nós conhecemos; só que a banda anda porque nós depenamos e metemos lá dentro, poque a banda não se consegue auto-subsidiar para andar na estrada. Se a banda se alimentar continuamos, se não, já foi. Foram os Men Eater [risos].

RS- Os Men Eater já abriram para muitas bandas conhecidas mundialmente.  Houve alguma situação ou espectáculo que tenha ficado marcado na vossa memória? Alguma 1ª parte que tenha sido a vossa preferida?

Mike- A maior de todas foi, sem dúvida, o Super Bock Super Rock, mas na verdade não me recordo muito bem. Só me lembro de subir ao palco, de ver montes de gente e ouvir aquele “delay” do público ao chegar, mas não me lembro do concerto em si, porque aquilo era muita grande. Um que tenhamos gostado mesmo muito não te sei dizer ao certo…Cult of Luna foi brutal. A parte boa disto é que todas a bandas com quem nós tocámos se tornam nossas amigas, são pessoas com quem falamos mais do que uma vez por mês, mas Valient Thorr foi uma banda que marcou porque pá… São amizades de morrer e histórias que só as duas bandas é que sabem o que pode ter acontecido nestes 4 ou 5 anos de amizade.

RS- Em relação ao nosso país, o que achas do panorama musical underground português e que conselhos dás às novas bandas?

Mike- O underground está limitado a um vício que é o seguinte: existem poucas bandas a dar o salto e o resto das bandas, não me levem a mal, dos “putos” ou as bandas que estão a começar são um bocado postas de parte. E se a banda X, que já leva 100 pessoas, leva para a 1ª parte uma banda menos conhecida as pessoas preocupam-se que as bandas de abertura não sejam boas… Man, tu vais ver um concerto porque queres, ninguém te obriga a ir, e não é uma selecção de bandas. Se tu queres ver o concerto, óbvio que vais pagar um preço justo, ou não, isso já é contigo, e tu escolhes os concertos. O que nós vamos fazer nesta tour é: tudo o que sejam bandas de abertura, maioritariamente, são bandas que estão a começar. Nós estamo-nos a cagar para o número de pessoas que vai porque nos lembramos de que quando nós éramos putos e tínhamos outras bandas, gostávamos que as bandas maiores nos abrissem as portas, como estamos a fazer agora. Esta tour vai incluir bandas que vão dar o primeiro concerto a abrir para nós e bandas que estiveram paradas e vão voltar a tocar. Isto não se trata de competição, temos de ser uns para os outros.

RS- Que papel têm as redes sociais e as novas tecnologias na divulgação da carreira dos Men Eater?

Mike- Se queres que te diga, nem sei se têm muito porque nós somos um bocado preguiçosos quando se trata de meter updates e etc…Também não temos muitos [risos]. Mas ajuda sempre, se souberes espalhar a informação ou tiveres um doido sempre a minar as pessoas de updates ao ponto de elas o bloquearem, é sempre bom. O Myspace levou muitas bandas a muitos sítios. É uma maneira fácil de conhecer as bandas, mas também depende um pouco do público que “consome” o tipo de música que elas tocam, porque podes ter milhões de updates por dia, mas se ninguém for lá ver não te adianta de nada. Mas a estrada é o mais importante. A nossa rede social é a estrada.

RS- Ok, obrigado pelo tempo disponibilizado. Amanha lá estarei para cobrir o vosso concerto no Musicbox. Boa sorte

Mike- Obrigado. Vamos lá ver como corre [risos].


 

Entrevista e fotografias por Manuel Casanova.