Arlindo Cardoso, um dos homens por trás do Comendatio Music Fest

O músico Arlindo Cardoso já conta com várias bandas no curriculum desde que começou a tocar há 20 anos. Neste momento, é baterista nos Low Torque, Nine o Nine e Pântano. Para juntar a isto, é um dos organizadores do Comendatio Music Fest, festival de metal e rock que decorre pelo terceiro ano consecutivo na aldeia de Paço da Comenda em Tomar. Falámos com ele para perceber um pouco do seu percurso como músico e a ideia por trás deste festival

Como surgiu o Comendatio Music Fest?

O Comendatio começou por ser Comendatio Metal Fest e esta ano alterámos o nome para Comendatio Music Fest. Entrei para organização do festival através do meu amigo Narciso que me contactou porque sabia que eu tinha alguma experiência com bandas, algumas delas internacionais, para ajudar a criar um festival mais profissional e estruturado, tentando assim chegar a um maior número de pessoas. A primeira edição foi em 2016 e teve só um dia e foram essencialmente bandas da zona Centro e locais. A ideia era tentar agarrar as pessoas desde a primeira à última banda com horários para cumprir. A primeira edição teve um orçamento pequeno, mas o público gostou e conseguimos cerca de 250 pessoas. Na segunda edição arriscámos um pouco mais, tivemos alguns patrocínios, e levamos os Bizarra Locomotiva, uma banda de renome nacional e tivemos 600 pessoas em dois dias de festival. Este ano, apostámos ainda mais forte e quisemos criar um festival ainda maior e melhor.  Os ingleses TesseracT são a nossa grande aposta para o primeiro dia. A mudança do nome surgiu para não sermos apenas conotados como um festival de metal e termos bandas mais alternativas e progressivas.

Como conseguiram uma banda internacional como os TesseracT num festival ainda relativamente “pequeno”?

Ficámos muito felizes por trazer uma das maiores bandas de djent do momento. A banda não vinha cá desde 2008 e em termos de “curriculum” para o festival acrescenta muito valor. Conseguimos a banda porque trabalhamos com um programador que está responsável pelas bandas internacionais e que nos oferece um grande valor e qualidade ao festival, fazendo com que bandas mais pequenas também tenham vontade de tocar no festival ao lado de grandes nomes da música. Depois de anunciarmos os TesseracT, recebemos imensas mensagens de bandas a quererem tocar no festival, o que é um excelente sinal. No fundo, queremos que seja um festival que divirta o publico e que as pessoas se sintam bem, a ouvir boa música e que no final do festival estejam satisfeitas. Felizmente, temos recebido críticas muito positivas por parte das pessoas. É verdade que o preço do festival este ano aumentou um pouco mas queremos que não venham apenas pelas bandas mas também pelo ambiente.

Havendo tantos festivais em Portugal, o que é que o Comendatio Music Fest oferece de diferente?

Temos uma série de festivais excelentes em Portugal, como o Moita Metal Fest, o VOA ou o Vagos. Existe muita oferta e muita qualidade. Mas creio que quantos mais festivais existirem, melhor. As bandas precisam de visibilidade e oportunidade. Este festival não quer competir com os outros, queremos ser mais uma alternativa para o publico e dar mais oferta. O Festival do Ermal, o Ultrabrutal ou o Caos Emergente são festivais que fazem falta, que davam a conhecer muitas bandas. Temos de voltar a apostar nos festivais locais e com bandas locais. O Comendatio tenta não deixar morrer o movimento underground e queremos que esta zona Centro volte a ter mais movimento. Queremos também oferecer um tipo de metal que não tem sido tão visto em Portugal, com sonoridades mais ambientais e progressivas, que são géneros que não têm tido muito espaço. Como também tive sempre ligado à música, é também um grande prazer pessoal e tentamos sempre o melhor possível. No fundo, é aquele “bichinho” que nunca vai sair, não vou deixar de estar ligado à música. Este é sem dúvida o evento em que estou mais a arriscar.

Comendatio

Como músico e já com uma grande experiência em várias bandas e de vários estilos, achas que em Portugal se consome actualmente mais Metal?

Eu cresci numa época dourada do metal, anos 90 e início de anos 2000. Mas creio que tem a ver com as tendências e com algo que possa estar na moda. Acredito que nunca vá desaparecer e 2019 prova exactamente isso, porque vêm cá imensas bandas de metal e que a base de fãs tende a crescer. Os últimos 10 anos têm sido muito parados. Tirando alguns festivais, mesmo de metal, houve poucos concertos nos últimos anos. Mas felizmente para o ano vamos ter imensas coisas.

Qual seria a banda que mais gostavas de ter a tocar no Comendatio, esquecendo um pouco a questão do cachê?

Existem várias bandas que adorava ter como os Tool, A Perfect Circle, Faith No More ou até Metallica. Seriam tudo bandas que adoraria ver a tocar no festival.

A um nível mais pessoal e musical, quantas bandas tens neste momento?

Bandas com que toque regularmente são três. Nine O Nine, Low Torque e Pântano. Mas faço vários trabalhos como freelancer para outras bandas e artistas. Infelizmente, não consigo viver apenas da música, mas estou sempre disponível para ajudar outras bandas.

Falando nos Pântano, que são o teu projecto mais recente, as músicas são cantadas em português, que não é tão comum na música pesada. Como surgiu esta ideia?

Os Pântano são um projecto idealizado por um dos meus melhores amigos, o Nuno, e sempre ficámos com vontade de tocar juntos depois de termos estado nos W.A.K.O. Sempre gostámos do rock dos anos 90 e sentimos que um dia mais tarde voltaríamos a tocar juntos. Nesta banda juntámos o stoner e o doom com o rock dos anos 90, sendo que queríamos cantar na nossa língua mãe. Já lançamos o single “Semi-alma” e tem tido bastante visibilidade. Ficámos bastante surpreendidos com as críticas do público. O nosso EP será lançado no próximo ano e contará com 6 temas. Vai ser masterizado pelo Daniel Cardoso (Anathema) e estamos muito satisfeitos com o que fizemos nestes últimos meses.

Pântano

Já passaste por bandas com registos mais pesados como os W.A.K.O. e neste momento os teus projectos são mais dentro do rock. Afastaste-te destes géneros mais pesados ou continuas a ouvir estes géneros?

Eu continuo a ouvir bandas de metal, mas oiço menos do que antes. Quando tocava nos W.A.K.O. ouvi muito mais. Neste momento ouço mais bandas progressivas. Gosto de bandas como os Architects, os Tesseract ou Meshuggah. Terei sempre gosto em ouvir bandas de metal novas e reviver as antigas, mas como tenho tocado em bandas menos pesadas, tenho ouvido outras sonoridades até para ganhar mais conhecimento a nível de criativo.

No que toca a próximos concertos, quando te podemos ver a tocar em breve?

No dia 29 de Dezembro vou tocar com os Pântano, com o António Freitas como DJ, no A9 em Santarém, e será uma despedida em grande do ano de 2018.

Entrevista: Gonçalo Cardoso