Jibóia – OOOO

Quem não gosta de um bom ovinho estrelado pela manhã? Mais que uma parte de um pequeno-almoço inglês, o ovo estrelado é um pequeno pedaço saudável se consumido de forma q.b. e acertada. Acertada é também a decisão de Jibóia em gravar um novo álbum. Para aqueles que gravemente ainda não os conhecem, Jibóia é um projecto idealizado no início desta década por Óscar Silva, com o intuito de explorar as nuances e complexidades de vários tipos de sonoridades e as juntar em perfeita harmonia rítmica. OOOO, o seu terceiro disco, nasce de uma residência realizada em 2017 e conta com a colaboração de Mestre André (também conhecido como O Morto, Alacrau ou Notwan) e de Ricardo Martins (Lobster, Pop Dell’Arte, BRUXAS/COBRAS), este último já tendo colaborado com Óscar em Masala, o registo anterior.

Contando apenas com quatro faixas, duas delas bem extensas, OOOO é um exercício em precisão mas também de foco. Em cada uma das primeiras três faixas é dado um ênfase nos instrumentos de cada um dos músicos. Em “Diapason”, temos os teclados sobressalientes e paisagens de Óscar, em “Diapente” quem brilha é Ricardo com toda a sua mestria rítmica por detrás da bateria e, por fim, em “Diatesseron” mexe os holofotes para o compasso saxofónico de André. Em todas elas existe uma sequência, em que o instrumento a ganhar foco na faixa seguinte tem uma certa prevalência na faixa anterior sem nunca desviar a atenção para si mesmo.

Tudo isto atinge o proverbial clímax em “Topos”, a quarta e última faixa do disco que serve como fusão de todos os elementos da faixa anterior, criando uma dissonância rítmica e eficaz. Equiparar esta última, ou até mesmo OOOO num todo, a uma peregrinação não é de todo algo desfasado, pois o sentimento que se retém durante todo o processo é mesmo esse: uma peregrinação sem um começo específico por um deserto sem fim, repleta de cores vibrantes e sonoridades intensas. Definitivamente um álbum a passar por todos os ouvidos dos audiófilos mais ávidos, mas também daqueles que procuram algo diferente por dentro do panorama experimental. Não é o disco do ano, mas também não seria certamente esse o objectivo.

Autor: Filipe Silva