Novo lançamento dos Dream Theater é sempre uma altura de expectativa e atenção por parte dos fãs da banda e do metal. A espera foi longa e o resultado esperado prevê um álbum magnífico de proporções épicas.
Infelizmente, o álbum acaba por não ser assim tão magnífico nem tão épico quanto se esperava, não fazendo jus, musicalmente, às elevadas expectativas criadas pela comunicação social e pela própria banda. Quero frisar que, musicalmente (!!), o álbum deixa um pouco a desejar e que, nesse aspecto, me desiludiu um pouco. Não existem grandes momentos instrumentais, nem faixas de longa duração. A faixa mais longa tem mais de sete minutos e grande parte dos discos são compostos por músicas curtas e que servem como pontes conceptuais para as faixas seguintes. James LaBrie tem tanto destaque que, por vezes, o restante grupo é esquecido, não se denotando grandes méritos individuais ao nível do baixo, bateria, órgão ou guitarra. Goste-se ou não, LaBrie perdeu muito da sua qualidade vocal após uma cirurgia às cordas vocais e por vezes ouvi-lo torna-se uma operação delicada e até tortuosa. Apesar das melhorias dos últimos anos, o vocalista ainda sofre muito com a operação que teve enormes consequências na sua voz.
Após apontar estes defeitos, também quero frisar e destacar as qualidades. Como podem ver, a pontuação 8.3 é uma avaliação elevada e que é digna de bons álbuns. Apesar de tudo, The Astonishing pode perfeitamente tornar-se numa das boas novidades do ano. De destacar o facto de a banda ter mais de 30 anos de carreira e continuar a fazer álbuns tão corajosos como este. Conceptualmente, The Astonishing compensa pela falta de destaque instrumental. O conceito está, de facto, muito bem concebido e escrito. Tem uma narrativa digna de um filme ou de um livro de ficção científica que tem o futuro e o papel da tecnologia nos seres humanos como temas centrais. LaBrie e Petrucci deram grandes contributos para o conceito que nos dá uma visão de um futuro distopiano, em ruínas, pelo menos no sentido emocional e social. A inteligência e a complexidade da narrativa pode até superar aquela obtida em Metropolis Pt.2: Scenes from a Memory, o seu maior lançamento até à data.
O álbum tem mais de duas horas de duração, o que prejudica imensamente a audição de um lançamento do tipo. Sou crítico de álbuns demasiadamente longos (apesar do meu álbum conceptual preferido ser The Lamb Lies Down on Broadway, eu também critico a hora e meia que esse lançamento tem que, apesar de compreensível, pode dificultar uma audição atenta do mesmo), a partir da 14ª ou 15ª, ainda no primeiro disco, o ouvinte já sente um certo cansaço e saturação, nem sequer prestando atenção ao que está a ser contado. Ouvi o álbum seis vezes ou algo assim, e senti o mesmo em todas as audições. Essa é uma das grandes razões porque o 8.3 foi atribuído a este lançamento, que tanta expectativa me deu.
De facto, The Astonishing pode desiludir os fãs mais acérrimos da banda que poderiam esperar um álbum mais rico instrumentalmente e menos ambicioso, conceptualmente. ‘Tiro-lhes o chapéu’ pelo facto de arriscarem e por terem composto algo diferente e corajoso, mas que perde por não evidenciar muito do estilo que os tornou famosos ao longo dos anos. Quem gostar de narrativas futuristas com muita ficção científica adorará este lançamento, que conta uma história que está muito bem escrita e concebida desde o seu início. Apesar de não ser fã de ficção científica, reconheço o valor do conceito e a sua complexidade. Seja como for, o álbum prova que a banda não morreu, nem para lá caminha e que está preparada para novos desafios.
Autor: João Braga