O que dizer de um novo lançamento dos Iron Maiden? Qualquer lançamento dos Iron Maiden é visto como um momento decisivo na indústria musical, com os focos de atenção bem assentes em cada pormenor do álbum, com cada pormenor a ser esmiuçado ao milímetro. O décimo sexto disco de estúdio dos lendários pioneiros do NWOBHM regressam para um dos mais antecipados lançamentos dos últimos anos.
O grupo britânico liderado por Steve Harris e Bruce Dickinson, a face dos Iron Maiden, surpreende ao compor três faixas com mais de dez minutos, com “Empire of The Clouds” quase a bater a marca dos vinte minutos de duração. The Book Of Souls tem mais de hora e meia de música e composições que denotam uma maior preocupação, face aos álbuns anteriores, no aspecto da complexidade lírica e instrumental. Apesar dos Iron Maiden sempre se demarcarem como uma banda complexa no que respeita à composição da sua música, nos últimos anos verificou-se um ligeiro declínio no que respeita à composição de faixas longas e mais trabalhadas. Ora, neste The Book Of Souls, tal não acontece com “The Red And The Black”, “The Book Of Souls” e “Empire of The Clouds” a serem faixas bem longas, com esta última a merecer maior atenção no que respeita a criatividade, desempenho e originalidade, visto introduzir também, pela primeira vez, o piano nas composições da banda.
“Empire of The Clouds” é uma faixa especial, pelo menos para Bruce Dickinson já que foi inteiramente composta por ele e tem um simbolismo forte para a face dos Iron Maiden. Dickinson compôs a faixa na sua totalidade, e o piano foi sua responsabilidade, tendo trabalhado nela mesmo durante várias sessões e semanas. É, na minha opinião, a melhor faixa do disco apresentando novidades ao nível da composição como nunca antes foi ouvido num lançamento dos Maiden. Com mais de 18 minutos de duração, a obra-prima musical consegue apresentar uma alma e espírito totalmente diferentes do restante disco, pelo menos da primeira parte do mesmo. A divisão em duas partes torna este disco ainda mais espectacular. A primeira mais Maiden, a segunda um pouco diferente do que aquilo que o fãs foram sendo habituados, com a inclusão de uma música dedicada a Robin Williams, “Tears of A Clown”. “The Man Of Sorrows” um pouco mais genérica, e que era para fazer parte do próximo álbum a solo de Bruce Dickinson, ainda assim é bastante boa e consegue reforçar um estatuto mais emocional a um álbum que vai em crescendo se tornando mais emocional e complexo.
A primeira parte do lançamento é mais normal, no que respeita ao estilo-Maiden, com as faixas “Speed Of Light”, “The Great Unknown”, “The Red and The Black” e a faixa homónima a serem os grandes destaques da primeira parte do álbum. A segunda parte de The Book Of Souls apresenta um lado mais emocional e conturbado que vai em crescendo se tornando mais complexo e difícil, emocionalmente. Inicia com a corajosa “Death Or Glory”, seguida da tipicamente Maiden “Shadows of The Valley” com as guitarras a terem principal destaque, conjugado com a grande interpretação vocal. Não querendo ser injusto para Nicko McBrian e Steve Harris, mas o papel de ambos é mais que óbvio na composição e interpretação de um álbum dos Iron Maiden, que a sua espectacularidade é por demais tomada como certa, e desnecessária mencionar. No entanto, esta é uma das faixas em que o grupo trabalha muito bem. Pessoalmente, sou mais fã desta segunda parte do álbum, em que contém características muito próprias do grupo e novidades face ao que se estava habituado.
Os Iron Maiden não são daquelas bandas que ficam presas ao passado e que esperam que os clássicos falem mais alto. A banda foi-se renovando e desde 2000, regresso de Bruce Dickinson, que os Maiden têm apresentado álbuns bons ou muito bons. A excepção à regra até foi o disco anterior a The Book Of Souls. É um disco obrigatório! Apesar da longa duração, o ouvinte é recompensado com música de grande qualidade, cheio de surpresas e novidades e com uma personalidade cada vez mais renovada.
Autor: João Braga
Álbum. Parlophone, Sanctuary Copyrights/BMG. 04/09/2015
Classificação/Rating
9.0
É, de facto, uma obra a prestar atenção. Pode ser o melhor lançamento da banda desde 2000. A originalidade, complexidade e composição lírica e instrumental são os grandes destaques.