Entrevista: Mother Engine

Os Mother Engine são uma banda saxónica de peso e uma referência no Stoner Rock Psicadélico. Os seus riffs dão vontade de mandar roupa interior para o palco e o seu último álbum, Absturz, é uma compilação de temas que guiam o ouvinte numa viagem que o faz perder-se no som. A sua tour — “Three men will come” — incluiu espectáculos em Portugal, Suíça, França, Espanha e Alemanha. A Ruído Sonoro aproveitou a paragem por terras lusas para conversar com estes virtuosos instrumentalistas que apreciam a gastronomia Portuguesa, mas que não são fãs de francesinhas.

Ruído Sonoro: “No que diz respeito a jamming e música ao vivo, temos muito respeito por Led Zeppelin… Tratamo-los, muitas vezes, como uma espécie de religião.” Podem explicar esta conversão ao “Zeppelinismo”?

Mother Engine: Começámos a ouvir Led Zeppelin há cerca de dez anos atrás, ainda muito jovens. Foi uma das primeiras bandas de Rock que ouvimos e apaixonámo-nos pelo seu trabalho. Não éramos muito bons no que toca a comunicar uns com os outros, mas todos gostamos de Led Zeppelin e isso aproximou-nos. Toda a história deles é muito impressionante. Tocavam que podiam. Nunca tiveram que atuar em estabelecimentos pequenos, o que não é o nosso caso. Já demos concertos para cinco ou seis pessoas. É melhor tocar para um público pequeno que gosta do que fazemos, do que para uma grande multidão que acha que somos maus. Eles gostavam mesmo do que faziam e queriam sempre tocar mais e mais — nota-se que viviam realmente a música. Talvez seja por isso que ficámos tão impressionados e fizemos deles a nossa religião.

RS: Mother Engine já foi um projecto com vocalista. O que motivou esta mudança? Como lidaram com esta transição?

ME: Nós começámos com um vocalista porque éramos um grupo de amigos que decidiu fazer uma banda. Depois de dois anos a tocar juntos, o nosso vocalista decidiu estudar música clássica e foi-lhe dito que não era benéfico para ele cantar Rock e música clássica em simultâneo. Clemens Roscher, o nosso vocalista na altura, incentivou-nos a fazer música de qualidade. Nós costumávamos fazer música má, mas ele fez-nos tocar de uma forma mais profissional. É um excelente cantor. Esquecemo-nos que tínhamos um concerto marcado para duas semanas depois da sua saída, o que nos deixou com duas opções: encontrar um bom vocalista em duas semanas, ou adaptar as músicas ao formato instrumental. Decidimo-nos pelo instrumental e começámos a ensaiar todos os dias. Olhando para trás, foi uma decisão muito boa.

RS: O vosso segundo álbum, Absturz, foi lançado no último Desertfest, em Berlim. O que diferencia este disco do primeiro? Podem explicar o conceito e o artwork?

ME: É completamente diferente! Tentámos manter o feeling de Mother Engine nas músicas, mas é um álbum inteiramente diferente. Não deixa de ser Mother Engine, mas não seria interessante se fosse mais do mesmo. É um disco mais adulto, menos Rock’N’Roll e mais psicadélico. É mais detalhado e pensado a nível de composição. Levámos mais tempo para escrever os temas. À luz de Led Zeppelin, experimentámos muito! Este trabalho trata uma viagem – Absturz é uma expressão alemã que significa despenhar-se – e nós somos os membros da tripulação de uma nave espacial. Descreve a nossa visita a um planeta onde encontramos apenas pântanos e desertos. Alguns músicos participaram nas gravações mas não tocam connosco ao vivo, criando assim duas experiências auditivas muito diferentes.

Em relação à arte, a Eusepia Lehe é a criadora. Fez todo o design para os trabalhos anteriores também. Somos bons amigos e temos trabalhado juntos em todo o grafismo relacionado com a banda — cartazes, flyers, álbuns.

RS: Como foi a reacção do público ao álbum?

ME: Muito melhor do que esperávamos! Tivemos boas críticas de todas as partes do mundo — umas boas e umas muito boas, mas nada de más.

RS: Como é que está a correr a tour “Three men will come”?

ME: Está a correr muito bem. Tivemos alguns gigs fantásticos. Tocámos na Alemanha, Suíça, França, Espanha e Portugal. Conhecemos muita gente porreira e tocámos em sítios muito bons. Foram as nossas férias! A pior parte é que viemos de carro até Portugal e tivemos que voltar à Alemanha para trabalhar.

RS: Qual é a vossa opinião sobre Portugal?

ME: Gostamos dos portugueses e do seu estilo de vida. Na Alemanha, embrenhamo-nos muito no trabalho. Aqui tudo é mais relaxado e as pessoas tiram mais tempo para outras coisas como refeições e diversão. Toda a gente é muito flexível com horários. Há também uma paixão maior pela música ao vivo: no ano passado até houve quem cantasse os nossos riffs! Adoramos a comida também, exceto um prato esquisito chamado “francesinha”. É muita humidade num prato. No entanto, adorámos a vitela.

RS: Podem partilhar algumas histórias engraçadas com os leitores?

ME: No ano passado tocámos na Marinha Grande. As pessoas estavam doidas, o que nos impressionou bastante. Depois do concerto, havia quem nos oferecesse drogas que tinham guardado dentro dos túneis das orelhas! Fomos para uma after-party e toda a gente estava a beber, a consumir drogas ou a beijar-se. Depois da festa, um rapaz ofereceu-se para nos levar ao sítio onde íamos dormir. Tinha um carro minúsculo e estava completamente embriagado. Enfiámos a banda e todas as nossas coisas no carro e ele começou a conduzir como o diabo! Não sabíamos se conseguíamos chegar ao nosso destino inteiros mas, felizmente, correu tudo bem.

Entrevista: Nídia do Carmo

Mother Engine