Entrevista a WINTERSUN

A propósito do lançamento de Time I, oito anos depois do homónimo Wintersun, estivemos à conversa com Jari Mäenpää, o fundador da banda Wintersun.

 

          Ruído Sonoro: O Time I foi finalmente lançado. Como é que o novo material está a ser recebido pelos fãs e pelo público em geral?

Jari Mäenpää: Tem sido muito bem recebido, e muita gente ficou muito entusiasmada com ele. Parecem ter ficado confundidos e surpreendidos com o material, mas quando lhe prestam mais atenção, parecem “entendê-lo” e apaixonar-se por ele. A única crítica diz apenas respeito ao facto de ter “apenas” 40 minutos de duração. Consigo percebê-la, pois a espera pelo álbum foi tão grande mas, por outro lado, existem muitos álbuns com “apenas 40 minutos”, mas que normalmente não têm múltiplas camadas, e os detalhes e a profundidade que este álbum tem. Também é bom sinal, porque se as músicas não parecem longas, apenas significa que são boas, e que os arranjos e as estruturas foram construídos de forma interessante e apelativa, e que as pessoas podem realmente penetrar profundamente na música sem se aborrecerem. E, claro, ainda falta o Time II.

          RS: O Time I é definitivamente o álbum mais antecipado dos últimos 8 anos. Sentiste uma grande pressão durante durante a sua gravação?

JM: Claro, mas penso que maior parte da pressão veio de mim. Às vezes sou, de certo modo, o meu próprio inimigo. Puxo realmente por mim e tento dar o meu melhor. Às vezes até de mais. Quando tenho uma visão, sei como é que as coisas devem soar, mas por vezes é muito difícil atingir-lo através dos meus recursos limitados. Mas penso que cheguei muito perto disso com o Time I.

          RS: Tendo em conta que demoraste tanto tempo a lançar o álbum, será que o conceito original mudou? Ou sempre quiseste criar algum semelhante ao produto final?

JM: A minha visão original não mudou muito. Claro que algumas coisas mudaram, e até me surpreendi a mim mesmo. Queria que o primeiro álbum tivesse sido logo tão bom quanto os álbuns do Time, mas não tinha, nem de perto, os recursos de que precisava.

          RS: Porque é que decidiste dividir o álbum em duas partes?

JM: Sentimos que mais de 80 minutos deste tipo de material tão complexo, era demasiado para os ouvintes e, também, para ensaiarmos todas as músicas duma vez. Para além de que, teria levado muito mais tempo a editar tudo de uma vez – talvez mais 10 anos, ou mais ainda – estive quase a enlouquecer enquanto misturava o Time I. Por isso, decidimos lançar algum material mais cedo, e fazermo-nos à estrada durante algum tempo. Teria sido praticamente impossível para mim misturar tudo numa só sessão, já que misturar metade do material foi quase uma loucura completa.

          RS: O que é que podemos esperar da segunda parte, e de que forma é que esta se diferenciará do Time I?

JM: Irá simplesmente ser tão épico ou mais do que o anterior. As músicas terão uma maior variedade, mais contraste. Tem muitos solos de guitarra, para aqueles que sentiram a sua falta no Time I. As músicas são, talvez, um pouco mais progressivas e mais rápidas, mas também tem algumas melodias de fazer chorar. O som e a produção terá um melhoramento, já que agora tenho melhor material, e que ganhei experiência com a primeira sessão de mistura. Não quero revelar muito, mas posso assegurar-vos que terá outra vez muitas surpresas, e posso garantir que deixará satisfeitos todos aqueles que adoraram o Time I.

         RS: Uma das grandes influências deste álbum foi a música e estética Japonesas, que se encontram muito presentes, não apenas na música em sim, mas também no artwork. Porque é que decidiste seguir um tema oriental? A música Japonesa é uma grande influência na tua música (em geral)?

JM: Sim, sempre fui fascinado pela música oriental e pelas suas melodias belíssimas e instrumentos. Sempre coloquei alguns pormenores orientais aqui e ali na minha música. Depois do lançamento do primeiro álbum, estrearam filmes como “Crouching Tiger, Hidden Dragon” [“O Tigre e o Dragão”] e “Memoirs of a Geisha” [“Memórias de uma Geixa”], e gostei mesmo muito desses filmes. A atmosfera da banda sonora era realmente fantástica. Para além de que, muitas companhias de software por aí, tinham começado a lançar alguns samples destas melodias orientais fantásticas, como o Erhu e o Koto, por exemplo. Durante a gravação do álbum de estreia, e até antes disso, já tinha composto algumas melodias orientais, de modo que já sabia que este seria a altura certa para me “tornar oriental”, e explorar mais estas melodias mágicas, e as atmosferas de que sempre gostei.

          RS: Algumas pessoas dizem que a temática oriental não faz parte dos Wintersun. O que é que geralmente respondes a essas pessoas?

JM: Geralmente não faço comentários, apenas abano a cabeça. Eu percebo porque é que as pessoas dizem isso – porque o nome da nossa banda é Wintersun e porque até agora só lançámos dois álbuns, sendo que o tema do álbum de estreia era muito focado no tema do “inverno”. Mas, nitidamente não têm ideia nenhuma do que são os Wintersun, por isso deixem-me clarificar… Não estamos apenas presos a um género específico ou tema. Os Wintersun representam a liberdade de explorar estilos musicais e temas como quiser. E haverá sempre mudanças de estilo e novas surpresas com os Wintersun. Actualmente temos este “tema oriental” e adoramo-lo! No futuro abordaremos coisas novas outra vez. Por isso, esperem sempre mudanças no que diz respeito aos Wintersun!

          RS: Ao fim de todos estes anos, voltaste finalmente a dar concertos com alguma regularidade. Como é que foi voltar aos palcos, após uma ausência tão grande?

JM: Tem sido muito revigorante sair um bocado, e não estar apenas sentado entre quatro paredes. Tem sido muito divertido tocar as novas músicas e sair com o pessoal. Tocar as novas músicas trouxe-nos uma nova energia! Também tem sido bom trazer alguma estabilidade ao nosso equipamento de concertos, encontrar algumas pessoas fantásticas na nossa equipa e organizar tudo melhor, porque foi sempre um bocado caótico no passado, e ainda é, mas está a ficar muito melhor, e é por isso que temos sido capazes de dar mais concertos. Devo também dizer que os nossos fãs têm sido mesmo fantásticos! Receberam-nos de volta com os braços abertos e sentimo-nos muito humildes em relação a isso. O apoio tem sido mesmo fantástico, por isso um muito obrigada a toda a gente!

          RS: Já começaste a gravar o próximo álbum? Como é que as coisas estão a correr?

JM: Se queres dizer o quarto álbum, não, mas se te referes ao Time II, então sim. O Time II foi gravado ao mesmo tempo que o Time I; apenas a mistura e a masterização irão ocorrer em sessões diferentes. Já misturei o som básico para o Time II – a bateria, as guitarras rítmicas e o baixo, mais ainda há muito para fazer, no que diz respeito à mistura das orquestrações, sintetizadores, FX, voz, overdub das guitarras, etc. E, claro, a masterização. Neste momento, estou a ter alguns problemas no estúdio, por isso houve uma paragem na mistura, mas espero poder retomá-la brevemente.

          RS: Sabes o que vais fazer depois do Time II? Tens planos para o futuro?

JM: Sim, existem vários planos. Vamos andar em tour e estou a tentar poupar para um apartamento e um estúdio melhores, para que possa começar a fazer o quarto e quinto álbuns. Tenho duas ideias para esses dois álbuns e estou muito entusiasmado. Vou construir ambos os álbuns ao mesmo tempo, por isso não sei qual deles é que vou acabar primeiro. Estamos também a focar-nos nos concertos. Estamos a melhorar o equipamento, a melhorar as luzes e o palco e assim… E talvez ter um ecrã para projectar imagens. Talvez até fazer um concerto especial com uma orquestra ao vivo e gravar um DVD. Claro que existem projectos de grande custo, por isso muito deles dependem do quanto os nossos fãs irão apoiar-nos. São eles que nos podem ajudar. Mas, claro, neste momento tenho de me focar primeiro em acabar o Time II, e depois logo se vê.

          RS: Queres deixar alguma mensagem para os teus fãs em Portugal?

JM: Espero que tenham gostado do Time I e que estejam ansiosos pelo Time II. Esperamos puder tocar aí brevemente, e desfrutar do calor do sol Português!

 

Entrevista por Rita Cipriano. (Datada de Abril 2013).