The Obsessed no RCA Club. O lado doom do heavy metal

Texto: Bruno Correia

Descrevem-se como exploradores do «mundo do stoner e do rock psicadélico» e é isso que fazem, e muito bem. Numa interpretação mais actual (uma evolução natural, arriscamos dizer) do tipo de sons que The Obsessed ajudaram a impulsionar desde o seu início há mais de 40 anos, os Desert’Smoke começam a ser um dos nomes nacionais obrigatórios para os fãs deste tipo de viagens sonoras.

Esta viagem, em particular, faz-se de forma instrumental a quatro (guitarras, baixo, e bateria) e os sons pesados e arrastados tomam conta dos 40 minutos em que o quarteto está em palco. Com dois lançamentos até à data e com o último álbum, Karakum, a caminho dos quatro anos de vida, a expectativa para ouvir material novo cumpriu-se e houve tempo para música nova, que vai estar no próximo álbum e que, tendo em conta o que se ouviu, promete!

Nem Wino quis deixar passar a oportunidade de estar do lado de cá do palco e, talvez convencido pelo que ouviu na noite anterior no Hard Club, optou por ver um par de temas junto do público. Uma actuação irrepreensível do quarteto que tocava em casa e que, quis o destino do agendamento, celebrava desta forma o aniversário do baixista João Nogueira.

A ânsia era grande e o momento tinha finalmente chegado: Scott “Wino” Weinrich e os seus The Obsessed entravam finalmente em palco. Wino começava desde logo por agradecer à organização e dizer que era um prazer estar em Portugal.

Com quatro longas-durações editados, a hora e pouco de concerto foi oportunidade de fazer várias passagens por cada um deles, com “Sodden Jackal”, que abre Sacred, o último disco, de 2017, a ter também honras de abertura do concerto. Assim ficou marcado, de resto, o tom no qual se manteria a actuação do quarteto norte-americano.

Uma passagem global pela discografia era muito bem-vinda para os que assistiam ao segundo destes dois concertos da sua primeira visita a Portugal. Sabendo do facto de haver álbum novo esperado antes do fim deste ano, acreditava-se ser possível também ouvir música nova. E assim foi, com “It’s Not Ok” a deixar muito boas indicações e expectativas para o que aí virá.

Com o mesmo flirt a que nos habituaram em estúdio entre os ritmos mais arrastados do seu lado mais doom e os bpm elevados dos temas mais clássicos de heavy metal, renderam o público presente e conseguiram ora pôr cabeças a abanar lentamente, ora alguns momentos (esporádicos) de mosh no piso inferior do RCA.

O peso deixava marcas, contudo, e nem o amplificador de baixo aguentou o poderio sonoro, tendo que ser substituído durante aqueles que foram um par de minutos de jam improvisada, sem baixo, entre os restantes membros da banda.

Sem outros constrangimentos, contudo, a festa continuava e o público parecia rendido do início ao fim. Foram duas as saídas de palco, a primeira com regresso para tocar “Lost Sun Dance”, original lançada sob o nome Spirit Caravan, e a segunda, cujo regresso seria o derradeiro da noite, para “Tombstone Highway” e “Freedom”, ambas do homónimo de 1990 e que aqui colocavam um ponto final no concerto.