Texto: Hugo Oliveira | Fotografia: Rute Pascoal
Na noite que encerrou a primeira quinzena de Fevereiro, o LAV – Lisboa Ao Vivo foi palco de sonoridades predominantemente pesadas, o que em nada incomodou todos aqueles que se deslocaram para ver Soilwork, Kataklysm e Wilderun.
Coube aos estreantes Wilderun o pontapé de saída e com eles a missão de trazerem Boston até Lisboa. Banda algo desconhecida do público português e dona de um logótipo que parecia saído de um papiro, tal difícil era a sua compreensão, consta que quem não conhecia, passou a conhecer e até a gostar, a julgar pelos aplausos ao findar a actuação.
Após treze anos sem comparecer em solo luso, os Kataklysm visitaram-nos pela segunda vez no espaço de seis meses, após presença no Vagos Metal Fest. À semelhança do que nos trouxeram nesse festival, a banda canadiana de death metal optou por uma diversidade de temas que reflectem os já 32 anos de existência, ficando assim o mais recente álbum Unconquered, de 2020, pouco presente na setlist. Apenas “Killshot“ e “Underneath the Scars” soaram nas paredes do LAV, talvez porque a banda encabeçada por Maurizio Iacono pretendesse presentear o público ao revisitar êxitos passados, numa noite de forte concorrência na capital lisboeta.
O espectáculo arrancou ao sabor de “Push the Venom”, seguido de “Guillotine” e “Narcissist”, todas muito bem recebidas, numa casa em que o ambiente ao rubro e os constantes moshes levantavam a dúvida sobre qual das bandas o público estaria realmente mais ansioso por assistir. Com o recente baterista James Payne e o baixista Stéphane Barbe a estabelecer uma base de ritmos complexos, o quinteto exibiu uma enorme presença de palco, onde as proezas técnicas do death metal extremo se entrelaçaram com as melodias mais acentuadas presentes nos seus últimos álbuns.
A colmatar com a pujante “Blood in Heaven”, do álbum de 2008, Prevail, não podemos dizer que houve um único momento morto, sempre que olhávamos para o público víamos cabeças a fazer headbang, moshpits, e apesar de estarmos longe de ter uma lotação esgotada na sala, o público mostrou-se fiel e envolvido em todos os temas.
Depois de duas décadas sem pisar perto da capital e após um ano bem complicado com o falecimento do guitarrista David Andersson, a banda sueca de death metal melódico Soilwork voltou para nos apresentar o seu décimo segundo trabalho de originais, Övergivenheten, álbum esse com um nome bem difícil de pronunciar, tal como o vocalista Björn “Speed” Strid admitiu na fase inicial do concerto, e que foi o mote desta tour europeia.
A banda sueca, detentora de um grande número de fãs portugueses e que já teve a oportunidade de se apresentar no país em algumas ocasiões, conseguiu reunir uma boa plateia, com uma atmosfera bem envolvente, e gerou cumplicidade junto dos fãs que há muito ansiavam voltar a vê-los de perto. Strid inclusive revelou que esta seria a primeira vez que iriam tocar num club em Lisboa, e mostrou-se entusiasmado com o panorama mais intimista do LAV.
Embora a intenção fosse predominante de apresentar Övergivenheten e outro material mais recente, clássicos como “Stabbing the Drama”, “Nerve” ou mesmo “This Momentary Bliss”, não faltaram durante os 90 minutos em que o grupo esteve em palco. A título pessoal e abusando da nostalgia devo confessar que ficou um gostinho amargo por não haver uma representação de Figure Number Five figurado no rol de músicas tocadas, porém nada disso foi impedimento para os constantes headbangs na primeira fila.
A performance da banda sueca (que na verdade nos dias correntes é uma mistura bem heterogénea de nacionalidades) foi bastante sólida, desde Strid com a sua combinação carismática de vocais limpos e guturais, Sylvain Coudret com os seus solos intricados de guitarra, ao baixo rasgado do agora baixista a full-time Rasmus Ehrnborn. De notar também a evolução da sonoridade da banda ao longo dos anos, sendo amplamente reconhecida como uma das pioneiras do som de Gotemburgo – estilo de death metal melódico que teve origem nessa cidade da Suécia na década de 1990 – até à incorporação de elementos de metalcore, metal progressivo e outros subgéneros, mas sempre mantendo as suas sensibilidades melódicas características.
O tema escolhido para terminar a noite foi o já bem conhecido do público “Stålfågel”, que roubou as vozes de todos os presentes e foi cantado bem alto em uníssono. Uma dose a repetir, oxalá não nos façam esperar novamente tantos anos!