Texto: Gonçalo Cardoso | Fotografia: Festival do Crato
Após várias tentativas falhadas e vários cartazes de qualidade passados, consegui, finalmente, ir ao Festival do Crato. A curiosidade era muita. Não é por acaso que se trata das festas locais transformadas num festival de Verão, algo louvável e com uma visão distinta por parte da vila do Crato. Como tal, desconhecia o recinto, os acessos, e o que oferecia para além da música. E, em todos estes campos, a resposta foi muito positiva. Não só está bem integrado dentro da vila, como toda a sua envolvência faz sentido e proporciona um espaço amplo que, mesmo bastante cheio, permite circular e ter sempre uma visão fácil do palco.
Relativamente a este último dia, os nomeados para terminar a festa foram Chico da Tina, Amor Electro e The Jesus and Mary Chain, sendo estes últimos a principal razão da minha presença.
Cheguei a tempo de ver os últimos minutos de Chico da Tina, naquela que foi uma experiência algo estranha para mim e um choque temporal algo inesperado. Não pela música, que não é de todo a minha praia, mas pela forma como o público reagia ao próprio concerto. O arremesso de bóias e outros acessórios para o público foi recebido com gritos e saltos, havendo uma histeria geral que me ultrapassou. Claramente que não sou o target deste artista, mas pareceu ter agradado a muitos jovens. E está tudo bem, não podemos gostar todos de vermelho.
Seguiu-se Amor Electro, naquele que foi o concerto mais geracional e positivo da noite. A plateia continuava vasta, ainda que agora eram os adultos que se chegavam à frente para assistir. Foi uma hora de espetáculo com alguns momentos bonitos, boas interacções com o público e a banda mostrou que estava, genuinamente, a gostar de estar ali. Não faltaram os êxitos “Rosa Sangue”, “Juntos” e “A Máquina” fecharam o concerto para apoteose geral.
Para meu espanto, ou não, o público começou a despertar assim que os Amor Electro saíram do palco. Pensei que os fãs de The Jesus and Mary Chain se iriam aproximar, mas não. Facilmente cheguei à grade e por lá fiquei até ao final. É verdade que começou com quase meia-hora de atraso, mas ainda assim, eram os cabeças de cartaz e esperava mais pessoas para os ver.
Assim que a banda entrou, arrancando com um potente “Amputation” ainda se chegaram uns quantos, mas não o suficiente para se notar um enorme vazio diante do palco. Felizmente, a falta de público não foi suficiente para abrandar a banda que, muito ao seu estilo, esteve sempre coesa e entregou uma óptima actuação. O alinhamento foi muito variado, e cobriu vários álbuns da banda. Com “April Skies”, “Darklands” ou “Just Like Honey” sentiu-se um maior frisson no público, mas não aquele que esta banda se calhar merecia. A banda mostrou-se sempre agradecida e nunca abrandaram o ritmo, algo louvável, ainda para mais se pensarmos na idade dos seus membros.
No final, ficou uma sensação estranha. Não por mim, porque gostei do concerto e do festival, sendo uma experiência a repetir nos próximos anos, mas pela banda. Mereciam outro tipo de público, mais numeroso e reactivo. É verdade que passaram por Portugal há poucos meses, no North Music Festival, e isso pode ter tido efeito, mas, para mim, a combinação de bandas também podia ter sido mais coerente. Chico da Tina e The Jesus and Mary Chain no mesmo dia talvez não tenha sido a melhor aposta numa óptica de coerência musical. Mas, também é verdade, que esta pratica é cada vez mais comum, até noutros festivais de maior dimensão, como NOS Alive. Enfim, é tema para outras núpcias.
A verdade é que, apesar destas deambulações, foi um dia que valeu a pena. Não posso deixar de terminar sem mencionar a fantástica e surpreendente qualidade do som. Para um espaço ao ar livre e dentro de uma vila, a acústica era fantástica e de qualquer ponto o som era nítido e definido. Parabéns, Crato.