Jimmy Fontaine

Dez concertos para ver no Vodafone Paredes de Coura 2022

O Vodafone Paredes de Coura está de volta em 2022 após dois anos de interregno impostos pela pandemia de COVID-19. Esse regresso não será feito com meias medidas, com uma das mais ambiciosas edições da história do festival a arrancar logo com concertos a 12 de Agosto no centro da vila minhota. O festival sobe definitivamente à vila com diversos nomes emergentes da cena nacional durante quatro dias, antes da aposta se materializar já no interior do recinto, a 16 de Agosto, dia em que o festival arranca oficialmente. Nesse dia a música portuguesa, privada de palcos durante largos meses, será celebrada na Praia Fluvial do Taboão. Nos dias seguintes haverá também lugar para a música nova e referências do panorama internacional, como é hábito em Paredes de Coura.

De seguida referimos dez concertos (ou momentos) a considerar ver nesta edição do festival.

#01 Turnstile

Em constante evolução, os Turnstile rapidamente passaram de best kept secret da cena hardcore de Baltimore para um fenómeno punk a nível internacional. Aposta da gigante Roadrunner Records ao seu terceiro álbum, Time & Space de 2018, acabaram por dar um salto ainda maior aquando o lançamento de GLOW ON, três anos depois. Actualmente a banda composta pelo vocalista Brendan Yates (ex-baterista de Trapped Under Ice), pelos guitarristas Brady Ebert e Pat McCrory, pelo baixista Franz Lyons e pelo baterista Daniel Fang distingue-se com onda contagiante, agressiva e igualmente acolhedora. T.L.C. significa TURNSTILE LOVE CONNECTION, fiquem a saber para a onda de positivismo gerada no dia 18 de Agosto.

#02 La Femme

A herança francófona e os sons do mundo unem-se ao psych rock na música de La Femme. Dá-se aqui ainda encontro entre a pop francesa clássica e o ambiente de um clube escuro, precisamente para onde o trabalho mais recente, Paradigmes (2021), nos leva. Essas faixas unem as batidas mais descontraídas da synth pop de Mystère à batida viciante do garage rock de Psycho Tropical Berlin, álbum de estreia que catapultou a banda ao som de “Antitaxi” ou “Sur La Planche 2013”. O grupo de Biarritz sobe ao palco do Vodafone Paredes de Coura para um actuação ecléctica a 20 de Agosto.

#03 The Comet Is Coming

Shabaka Hutchings depressa se está a tornar num mito moderno do jazz. O saxofonista, igualmente chave nas melodias viciantes de Sons of Kemet, é aqui ladeado por Dan Leavers e Max Hallett para criar uma espécie cósmica de jazz, electrónica, funk e psicadelismo. Esta fusão já lhes valeu uma nomeação para o Mercury Prize, com Channel the Spirits em 2016, antes de Trust in the Lifeforce of the Deep Mystery, três anos depois, tê-los associado ao legado deixado por Sun Ra e Alice Coltrane. Entretanto já aí vem novo álbum, Hyper-Dimensional Expansion Beam, com data de lançamento marcada para 23 de Setembro. Este cometa aterrará a 18 de Agosto em Paredes de Coura.

#04 Beach House

A dupla de dream pop já sabe bem que tipo de match com o anfiteatro natural do festival – Victoria Legrand e Alex Scally passaram pelo festival não há muitos anos, na altura ainda com os temas de Depression Cherry bem patentes no alinhamento. Desta vez podem somar as aventuras sónicas de 7 e ainda a novidade Once Twice Melody, álbum duplo editado este ano que expande livremente as diferentes correntes pelas quais os Beach House já passaram ao longo da carreira. O reencontro com Coura será a 17 de Agosto.

#05 Parquet Courts

Herdeiros da audácia de uns Pavement ou Guided By Voices mas com a energia visceral do punk, os Parquet Courts estão constantemente a mutar a sua fórmula musical. Light Up Gold já conta uma década de existência, Sunbathing Animal uniu o som quente à fúria e Human Performance deu o salto maior já à boleia do selo da Rough Trade. Em Wide Awake! de 2018 e no mais recente Sympathy For Life, do ano passado, aproximaram-se da celebração funk com uma característica muito própria. Festa garantida a 18 de Agosto.

#06 Pixies

Emblemáticos e até incontornáveis na hora de se referir ao rock na transição dos 80’s para os 90’s, os Pixies são a referência para tantas outras bandas do mesmo período. Desde cedo que se evidenciou a onda indie e punk no seu rock alternativo muito próprio, explodindo para as bocas do mundo com os lançamentos de Surfer Rosa e Doolittle, de onde saem tantos hinos esperados num concerto da banda. Haverá novo trabalho este ano, Doggerel, a lançar a 30 de Setembro e possivelmente marcará alguns momentos do concerto de Black Francis, Joey Santiago, David Lovering e Paz Lenchantin em Paredes de Coura, a 20 de Agosto.

#07 slowthai

O rapper britânico Tyron Frampton pode ter adquirido o seu stage name devido ao seu discurso lento e arrastado, mas as letras cruas e beats ruidosos são rapidamente transbordados de compaixão e criticismo à sociedade actual. Carregado de ironia e humor, o seu grime faz especialmente reflectir sobre a situação do seu país pós-Brexit, sendo, como expectável, alvo de controvérsias ao longo dos anos. O jovem de Northampton foi nomeado para o Mercury Prize com o seu álbum de estreia, Nothing Great About Britain de 2019, ao qual lhe soma agora faixas de TYRON, lançado em 2021. Sobe a palco a 20 de Agosto.

#08 IDLES

O fenómeno IDLES continua a contagiar e a angariar novos fãs a cada disco. Depois do aclamado e célebre Joy As An Act Of Resistance e do passo em falso em Ultra Mono, o quinteto britânico conseguiu várias das suas melhores composições em CRAWLER no ano passado. Guitarras barulhentas, gritos sôfregos, refrãos orelhudos dão música ao espírito de comunhão e explosão sentida nas primeiras filas dos seus concertos. Poucas dúvidas existem de que irá acontecer novamente em Coura a 17 de Agosto.

#09 Perfume Genius

Mike Hadreas enquanto Perfume Genius tem estado em constante mutação sónica desde o lançamento da sua estreia, Learning, em 2010. “Queen”, single de apresentação do disco Too Bright, tornou-se rapidamente num hino queer e a sua música continua a explorar a temática sexual. A aposta mais recente é Ugly Season, lançado este ano e já aclamado pela crítica, em que a sua chamber pop barroca roça o industrial Lynch-iano na segunda metade do disco. Este trabalho foi merecedor ainda de uma curta-metragem, intitulada Pygmalion’s Ugly Season, realizada pelo artista visual Jacolby Satterwhite. A sua estreia em Paredes de Coura será a 20 de Agosto.

#10 Maratona nacional

Ok, confessamos que este décimo ponto é batota. A verdade é importante sublinhar a montra de 16 de Agosto, onde ambos os palcos do Vodafone Paredes de Coura são preenchidos pela música nacional. Desde as rimas de Sam The Kid (acompanhado por orquestra e os seus Orelha Negra) à dança de Moullinex, da fusão jazz e indie de Bruno Pernadas à vida de gandim do Conjunto Corona ou ainda do legado dos eternos Mão Morta ao fuzz de 10 000 Russos, a música portuguesa está viva, recomenda-se e tem lugar especial nesta edição do festival.

Para além dos nomes em cima referidos, o Vodafone Paredes de Coura destaca ainda concertos de The Blaze, BADBADNOTGOOD, Ty Segall, Viagra Boys, L’Imperatrice, Princess Nokia, Yves Tumor, Kelly Lee Owens, Porridge Radio, Indigo de Souza, Ata Kak, Donny Benét ou Mema., entre outros.

Autor: Nuno Bernardo