Após a entrevista com João Filipe, o vocalista e letrista da banda, fiquei com um elevado nível de expectativa para ouvir na totalidade Doom Machine, o último álbum dos Miss Lava, que foi hoje lançado pela Small Stone Records.
Após um mais orelhudo e potente Sonic Debris, a banda de Lisboa consegue continuar a surpreender e a chegar a novos horizontes sonoros. Este trabalho é mais pesado, mais psicadélico e mais obscuro mas é também muito mais maduro e arriscado que os anteriores. Senti também que foi o álbum onde a banda se livrou mais de qualquer tipo de amarras e deixaram fluir as sinergias entre eles, além de que foi gravado ao vivo em estúdio, mostrando uma química e energia ainda maior.
Além disso, é o álbum mais sólido e coeso da banda, existindo ainda uma linha sonora, tanto na voz como em todos os instrumentos, que é transversal a todo o disco, necessitando de ser escutado como um todo e não através de músicas soltas, de forma a garantir uma experiência mais gratificante e recompensadora para os fãs deste género.
“Brotherhood of Eternal Love” é uma das melhores faixas do álbum, numa fantástica viagem pelo stoner, rock, metal e psicadélico, conseguindo encapsular de forma notória toda a essência do álbum. “The Oracle” remete-nos para as paisagens desertas de Kyuss e “The Fall” mostra-nos que a banda continua, e bem, a investir em faixas longas e recheadas de estruturas não lineares, conseguindo a proeza de tudo soar perfeito e encaixado no sítio.
É realmente impressionante a forma como os Miss Lava conseguem ainda reinventar-se e oferecer novas sonoridades ao fim de tantos anos. É o álbum mais complexo da banda mas também o mais interessante e rico, onde muitas das músicas soam cada vez melhor ao fim de quatro ou cinco audições, havendo sempre detalhes e novos sons para descobrir.
Doom Machine é possivelmente o melhor trabalho da banda até a data e aquele que mais prazer me deu descobrir. A nível musical, o ano de 2021 não poderia ter começado melhor.
Texto: Gonçalo Cardoso