Machine Head no Coliseu, um império nostálgico

Noite de metal em sala grande, corpos estranhos vestem outra cor que não o preto. Bateu a nostalgia para uns e foi a primeira vez para tantos outros, mas os Machine Head tiveram vários pontos a seu favor para preencher dois Coliseus sem banda de abertura – depois do Porto, foi a vez do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, a 8 de Fevereiro. Pelo número de cabeças contadas do alto do Coliseu, pouco faltou para colocar uma estampa vermelha por cima do cartaz do concerto.

“An Evening With Machine Head”, um espectáculo de duas horas e meia, teve o seu alinhamento a roçar as duas dezenas de faixas para visitar todos os álbuns da carreira, nem que fosse uma só vez. Foi difícil não encontrar semelhanças com “Live Shit: Binge & Purge” dos Metallica, onde se reiterou o direito a um encontro singular com uma banda representativa. Quatro anos depois de encherem o mesmo Coliseu com mais três bandas e sete anos depois das últimas passagens com a banda de James Hetfield em festivais portugueses, eis os Machine Head, com a sua imaculada configuração, reis do único trono à disposição, dado que tocaram sozinhos.

Foi até com alguma saudade ou com sentido nostálgico que Rob Flynn pausou o concerto já a meio para se recordar daquela noite de Junho de 2008, onde a sua banda lançou as malhas do então novo The Blackening no Rock In Rio-Lisboa e fez daquela uma das mais memoráveis da sua carreira. Palavras suas, mas que facilmente se identificam com quem lá esteve.

“Imperium” deu ordem de fogo às 21 horas em ponto. Os primeiros riffs sobrevoaram a sala e os primeiros circle pits não demoraram a surgir com menos ou mais violência, consoante a faixa. Pelo menos em “Beautiful Morning”, logo de seguida, não deu descanso nesse aspecto. O concerto em si deu para tudo um pouco. Lembrou-nos que Through the Ashes of Empires foi um ponto imperial na carreira da banda, mostrou-nos que cabe a bandas como Machine Head suceder a instituições quadragenárias do metal e, sobretudo, enaltecer que é possível agregar tamanha audiência sem colocar músicas nas principais rádios.

Há vinte e dois anos, quando surgiram, lançaram a certeza Burn My Eyes. Tanta distância temporal e tanto tempo de manobra de concerto fizeram ansiar por um pouco mais do que uma mãozinha de faixas dos 90’s dos californianos. Reencontrámos “Ten Ton Hammer”, “From This Day” e “The Blood, the Sweat, the Tears”, para além da sempre memorável “Davidian” – como assim não a usaram para fechar o concerto? – e da promulgada “Old”. Dadas as quebras de ritmos verificadas ao longo da noite – “Descend the Shades of Night” logo após “Davidian”, incompreensível – e as faixas algo insípidas sacadas de Unto the Locust, ficaram os desejos de ver encaixadas “Blood For Blood” ou “Struck a Nerve”. Jogou-se pelo seguro. Em recta final esqueceu-se Bloodstone & Diamonds, mesmo com “Game Over” lá pelo meio, e o pescoço é que pagou as tramas de “Aesthetics of Hate” e “Now I Lay Thee Down”, antes da final “Halo”, esta com direito a explosão de confetti sobre o público.

Fica para a história uma noite de excessos e de afirmações – a falta de definição no som lançado pelo PA e a celebração metaleira, sedenta de concertos grandes do género que antes enchiam festivais, marcada pelo espírito de entre-ajuda na linha da frente. E que os Machine Head parecem ser um dos próximos grandes headliners deste género, já poucas duvidas restam e público lhes falta, pelo menos por cá.

Texto: Nuno Bernardo