Entremuralhas @ Castelo de Leiria, 28/8 (Dia 2)

A JIGSAWpt

Cancelado o concerto da neozelandesa Jordan Reyne, coube aos portugueses A Jigsaw colmatar o espaço para a abertura da Igreja da Pena em 2015. Tendo como referência os nomes das edições anteriores, pode-se dizer que a sua sonoridade fica algures entre Roma Amor e Spiritual Front, com a voz quente e grave de João Rui a ecoar deliciosamente nas paredes da igreja. Foi uma escolha de última hora acertada, como provou a reação do público, que praticamente encheu por completo o espaço, movendo os corpos lentamente, ao sabor das ondas de som que chegavam, suavemente, à margem de pedra.

Abrindo com Red Pony, desenrolaram-se nove temas com naturalidade e pautados com melodias belas e sonhadoras. The Strangest Friend e Black Jewelled Moon foram os momentos com mais magia, sem esquecer a despedida, Bring Them Roses. Depois do cansaço de subir a colina num final de tarde quente, dificilmente se poderia pedir uma sonoridade melhor para descansar e relaxar, devolvendo energia ao corpo para dançar no acto seguinte. Faltou apenas a presença da anunciada Tracy Vandal.

Setlist: Red Pony | Them Fine Bullets | Lost Words | The Strangest Friend | No True Magic | Without The Prize | Hardly My Prayer | Black Jewelled Moon | Bring Them Roses

KELUARde

A par da Inglaterra, a Alemanha foi o país que mais bandas trouxe ao Entremuralhas nesta edição. O primeiro conjunto germânico (apesar da vocalista ser londrina) a pisar os seus palcos foram os Keluar, um duo que nos presenteou com uma electrónica fria e minimalista, mas de ritmo contagiantemente dançável. Ela, tímida e algo tensa, de olhos e cabelo azul; ele, desinibido e com movimentos de dança algo bruscos; o público, cada um a seu ritmo, mas com manifestações mais intensas em temas como Cleo e Surface.

Desde o início com Instinct, que abre o seu novo EP Panguna, até ao final, a banda manteve o mesmo nível de qualidade. Não foram nada do outro mundo, mas também não comprometeram, cumprindo o seu papel e devolvendo o suor aos corpos recentemente refeitos da subida, num concerto que durou apenas 50 minutos. Ficou a sensação que os temas resultam melhor em estúdio, nesta fase quase embrionária da sua carreira.

Setlist: Instinct | Ennoea | Cleo | Panguna | Coralline | Volition | Fractures | Eremus | Rupture | Surface | Vitreum | Rivers

6COMMgbrip

Primeiro concerto em Portugal, último da carreira. O Palco Alma viu o velho corpo dos 6COMM morrer, tocando pela derradeira vez temas antigos (no entanto, a sua alma irá continuar num novo álbum e noutros projetos ao vivo). Primeiro um enigmático símbolo de fundo, depois fumo, suspense e por fim palmas, quando Patrick Leagas e companhia subiram a palco, com máscaras brancas. Conquistando o carinho do público logo à primeira frase, anunciando só saber duas palavras em português, “olá” e “obrigado”, sendo que diria uma no início do concerto e outra no final, o lendário membro fundador dos Death In June abriu a boca e dela sairam sons que ecoaram nas muralhas, tomando a forma de letras fortes e inteligentes na escrita.

Foram dez os hinos à carreira da banda que ouvimos, cada um único e especial, como a perturbante Sonfelte, a brilhante Othila e a obscura Angels Scream. Uma voz de tom solene, algo rasgada nalguns momentos, sempre acompanhada de batidas fortes e penetrantes e pequenos detalhes sonoros que davam riqueza ao panorama geral. Fez-se história e os presentes contribuiram para um final em grande de três décadas de sonoridades alternativas, que culminaram no tema de despedida, Calling.

Setlist: Doubt To Nothing | Sonfelte | Foretold | Wasted Soul | Born Again | A Nothing Life | Othila | Angels Scream | Red Cloak, Red Hat | Calling

MOTORAMAru

Da fria Rússia chegou-nos a sonoridade quente dos Motorama, que subiram a palco quando faltavam quinze minutos para as 23 horas. Sem a presença da sua baixista Irene Parshina, para surpresa e desilusão de muitos, a banda abriu com os acordes de Corona, primeira faixa do seu mais recente álbum, Poverty. É difícil de assimilar que uma sonoridade tão doce e de contornos quase tropicais, a fazer lembrar um final de tarde passado à beira mar numa qualquer ilha paradisíaca, venha de um país completamente desprovido desse tipo de beleza natural.

Com cinco músicas retiradas do novo álbum e passando pelos êxitos dos registos anteriores, como o magnífico tema título de Alps ou a densa em camadas During The Years, que não só fecha o álbum Calendar como fechou o seu concerto no Entremuralhas, os Motorama cumpriram e agradaram aos muitos fãs presentes. Sempre num ambiente descontraído, foi talvez o concerto que, em todas as edições do festival, menos se enquadrou no espírito que costuma pautar o Palco Alma, mas não deixou de ser um momento especial.

Setlist: Corona | To The South | Dispersed Energy | She Is There | Red Drop | (Untitled) | Heavy Wave | Lottery | Rose In The Vase | Empty Bed | Alps | Ghost | Anchor | During The Years

[:SITD:]de

Deixando a Alma (para) regressar ao Corpo, o público preparou os seus passos de dança para o único concerto de electro-industrial desta edição do festival. Anunciados em cartaz como “uma das mais bem sucedidas e aclamadas bandas electro-industriais da velha Europa”, a verdade é que estiveram longe de fazer jus ao seu nome e reputação. Após a introdução Journey’s End e o single de 2014 Dunkelziffer, o concerto prometia, apesar da voz de Carsten Jacek ser demasiado insípida ao vivo. No entanto, cedo o concerto caiu nalguma monotonia, com a banda a entregar-se com uma constante moderação quase mecânica.

Com a troca de vocalista em Redemption, passando Thomas Lesczynski a tomar conta do microfone, a banda parecia começar a redimir-se, continuando forte com o regresso do vocalista no tema seguinte, Revolution. Foi sol de pouca dura, porque os três temas seguintes voltaram ao mesmo registo repetitivo. Nem o excelente final com Snuff Machinery salvou aquele que foi o concerto menos conseguido desta edição, e talvez o pior que alguma vez passou por aquele palco. Terá sido apenas uma má noite para a banda?

Setlist: Journey’s End (Intro) | Dunkelziffer | Purgatorium | ? | Code:Red | Redemption | Revolution | Laughingstock | ? | ? | Snuff Machinery

IGORRRfr

Uma hora, 19 minutos. Lua cheia, céu limpo e uma maré negra de olhos ansiosos. Algures dos confins da escuridão, um berro gutural. Era Moelleux, a abertura do concerto mais extremo e com mais extremos de toda a história do Entremuralhas. Durante pouco mais de uma hora, ouviram-se sons de música clássica, ópera, metal, grindcore, dubstep, techno e tudo o que se possa imaginar da fusão aparentemente aleatória, mas improvavelmente lógica, de todos esses géneros.

Em palco, Laure Le Prunenec era a bela, dançando e rodopiando, entoando sons operáticos e possuída ocasionalmente por espíritos malignos que a faziam expelir gritos de fúria mal contida; já o monstro era Laurent Lunoir, um demónio possuído por viscerais sons guturais, acabado de subir do inferno ao furar a terra que ainda trazia no corpo, também ele com aventuras num registo de ópera.

Mas se a bela e o monstro eram o foco de toda a coreografia, num espectáculo montado ao ínfimo detalhe, o centro de tudo era o Deus Igorrr, lá no alto, debitando sonoridades de insana inteligência sonora. Se alguns olhares reflectiam incredulidade, outros brilhavam de prazer, enquanto abanavam o corpo incansavelmente, purgando demónios. Loucura, pura loucura, no final de noite mais intenso que o festival alguma vez testemunhou!

Setlist: Moelleux | Scarlatti 2.0 | Lullaby For A Fat Jellyfish | Pavor Nocturnus | Caros | Absolute Psalm | Excessive Funeral | Infinite Loop | Biquette | Barbecue | Ostina (Whourkr cover) | Tendon | Moldy Eye | Grosse Barbe | Tout Petit Moineau | Half A Pony / Unpleasant Sonata

EM-Days

Day1 Day2 Day3