PHANTOM VISION
A sexta edição do Entremuralhas arrancou ao sexto minuto após as 22 horas. A honra coube à única banda portuguesa inicialmente prevista em cartaz, os lisboetas Phantom Vision, uma pérola do rock gótico nacional que brilha há quinze anos. Durante uma hora, a voz grave de Pedro Morcego ressoou no Palco Corpo, reverberante, sussurrante e penetrante, interpretando temas de quatro dos cinco álbuns da banda, a contar com o novíssimo Ghosts que, naturalmente, teve especial destaque.
Não descurando o acompanhamento profissional e mais do que competente da banda na parte instrumental, foi sobretudo a presença em palco da bailarina Ágata que cativou o olhar do público. Os seus números de dança eram variados em estilo e cores, desde o sensual strip de tons dourados em Human às asas prateadas de dança do ventre na versão da Bird Song de Lene Lovich, passando por uma camisa de noite branca num ballet adaptado em Strange Attraction e o provocante vermelho em Right City, Wrong Time.
Tudo somado e pesado, foi um espetáculo bem montado e que surpreendeu pela positiva, exemplar na atitude e delicioso na sonoridade. A banda pode sentir-se satisfeita por ter um frontman do qual é fácil gostar, deixando tudo em palco e não descurando a simpatia e interacção com o público. Os novos temas soam bem ao vivo, com especial destaque para Millionaire. Aguardamos pelo prometido videoclip da Human e por um regresso breve à cidade do Lis!
Setlist: Eternal (Intro) | Telling Lies | Archfiend | Time Is The Master | In My Head | Human | Bird Song (Lene Lovich cover) | The Last Frontier To Hollow Land | Strange Attraction | Right City, Wrong Time | Millionaire | There Are Times | Total Eclipse
TYING TIFFANY
Sexta edição do festival, seis estreias em Portugal, sendo Tying Tiffany a primeira a subir a palco. Passavam 23 minutos das 23 horas quando One Place se fez ouvir, num quarteto inicial de músicas retiradas do mais recente álbum da cantora italiana, Drop. Foi um arranque lento para um espectáculo estrategicamente pensado para se desenrolar em crescendo: à medida que íamos avançando na hora de concerto, as músicas iam-se tornando mais rebeldes, mais punk, com a vocalista a desinibir-se cada vez mais, dançando e saltando como que alimentada progressivamente pela energia que emanava do público.
Retirando duas décadas aos seus 37 anos, Tiffany parecia uma adolescente possuída por uma histeria positiva, bela na simplicidade da sua roupa e mais bela ainda na voz. A contrastar com a sua aparência frágil, dois músicos de aspecto forte e protector acompanharam-na, enérgicos também na atitude. New Colony foi o momento mais negro do concerto, Still In My Head o mais rock e Lost Way o mais divertido, mas foi o final punk com Show Me What You Got o mais intenso. Uma despedida em grande, em que o público fez jus ao título da música e mostrou aquilo que tinha, justificando um regresso da cantora a palcos nacionais após esta magnífica estreia!
Setlist: One Place | Spin Around | One Second | A Lone Boy | Miracle | Sinistral | New Colony | Border Line | Lost Way | Still In My Head | Drownin’ | One Breath (Alternative Version) | Wake Up | School (Nirvana cover) | Show Me What You Got
LENE LOVICH
Completando 66,6 anos de idade no próximo dia das bruxas, Lene Lovich ou tem o diabo no corpo, ou é o próprio diabo! É impossível alguém com aquela idade ter em palco a energia de um adolescente, a felicidade de uma criança, mas a presença de um adulto e a sabedoria de um idoso. E no entanto, foi essa impossibilidade que os meus olhos e os de todos os outros presentes testemunharam. Abrindo com Savages, cedo se perceberam duas coisas: a forma invejável da vocalista, com um belo traje preto e vermelho, e o carinho enorme do público. Foi um momento histórico de diversão e excelente música, com uma voz madura e invejável para a idade, de pequenas falhas perfeitamente compreensíveis e ainda capaz de surpreender!
Cacarejando em Blue Hotel, gritando em You Can’t Kill Me, cantando como um pássaro em Bird Song, percorrendo história em clássicos como New Toy e Lucky Number, foi puro êxtase do princípio ao fim. Além da própria Lene Lovich, também a banda que a acompanhava emanava genuíno prazer ao tocar, sempre sorridente, com momentos de humor e encarando com naturalidade um ou dois problemas técnicos. Depois da arrepiante Wicked Witch e de Light, a banda saiu de palco, voltando logo de seguida para um encore de três músicas. A despedida foi com Home, na qual a banda foi apresentada e se viveu um momento de agradecimento mútuo entre esta e o público. Sem dúvida um dos pontos mais altos desta edição!
Setlist: Savages | Blue Hotel | Angels | You Can’t Kill Me | Bird Song | New Toy | Lucky Number | Say When | Rocky Road | Wicked Witch | Light \ *encore* / Melo (italian singer cover) | Details | Home