Fuck Buttons @ Lux Frágil, 22/5/2014

Palavras sujas à parte, os Fuck Buttons foram delineando uma carreira pouco consensual no que toca a rótulos, algo que o selo da ATP Recordings permite adivinhar. Se é rock, se é techno, se é música experimental ou se não é nada disto, também não é o mais significativo para a sua compreensão – Andrew Hung e Benjamin John Power são então sinónimo de um duo egrégio, que não procuram ter os seus conceitos alcançados. Em ‘Street Horrrsing’ e ‘Tarot Sport’ moldaram-se à sua progressão, mas cinco anos depois do primeiro, haveríamos de encontrar uns Fuck Buttons díspares, reflexo da apreciação global de um “Slow Focus”, o mais recente disco, colérico e, ao mesmo tempo, fleumático.

Foi através das suas silhuetas, avultadas pelas projecções ao fundo, que ‘Brainfreeze’ havia de brotar uma demorada espera. Andrew e Benjamin são donos de um invulgar complexo de armas, fazendo também da voz um instrumento capacitado dos maiores ruídos, e ao longo da prestação os seus postos foram mantidos com várias respostas corporais do público, acompanhados de um som cristalino, brilhante, polido e de crescidos volumes, com batidas suaves num mescla de sons ásperos e estridentes, no bom sentido das palavras. Existiram também (breves) momentos leves, sendo mais comuns os ofegantes ritmos para nos deixarmos levar numa pista de discoteca – foi com crescendos pouco vincados, superfícies duras e uma acurada introvertida paciência em saber devolver as batidas às mãos de Lisboa que Hung e Power foram testando os tímpanos à sua moda londrina com ressonâncias que atravessariam o Tejo se lhes assim fosse permitido, estando com “Slow Focus” completamente dispostos a transformar um espaço aberto numa rave eloquente, tal como ‘Hidden XS’ sugeriu, numa real constatação à resistência dos cristais.

‘Sweet Love For Planet Earth’, já a fechar o despejo, confirmou as suspeitas: Fuck Buttons é um conjunto de coisas que não conseguimos interiorizar, nem queremos, pois com a supremacia de quem tem uma mesa para dois capaz de desfasar juízos, sai-se do Lux com a convicção de que dois e dois são cinco.

Texto: Nuno Bernardo
Fotografia: Telma Correia