Vagos Open Air 2011 – Dia 2

We Are The Damned

Death ‘N’ Roll/Crustcore  –  Portugal

Como responsável principal pela redacção da presente análise ao Vagos, foi com pena minha que não pude assistir aos dois primeiros concertos do dia 6 por motivos pessoais. Baseio por isso a análise das actuações de We Are The Damned e Malevolence no testemunho do Nuno Bernardo e da Rita Cipriano, os outros dois membros da Ruído Sonoro presentes neste segundo dia do festival.
 
Ao contrário do dia anterior, em que as bandas portuguesas conseguiram um bom público, os We Are The Damned começaram com o recinto praticamente às moscas devido à chuva que se fez sentir durante a noite. Conquistando algumas pessoas ao longo do concerto, mas sem chegar aos números dos Revolution Within e dos Crushing Sun, a apresentação do álbum Holy Beast foi marcada por um som de má qualidade, onde a voz e os instrumentos se misturavam num ruído quase imperceptível. O único tema da setlist que não faz parte do último álbum da banda foi a cover dos Celtic Frost, mas nem esse soou bem.
 
Depois das muitas críticas positivas que este álbum recebeu por parte da imprensa escrita, era de esperar um concerto de mais alto nível, ao invés de algo fraco e que não foi a melhor imagem do Metal nacional, apesar do vocalista Ricardo Correia bem ter frisado por várias vezes a sua vontade de que apoiemos mais o que é nosso. Tem razão, mas é bom que para a próxima a imagem deixada seja melhor, quanto mais não seja mais cuidado na parte do som, apesar da banda não poder ser responsabilizada por isso.

Setlist

1. Christian Orgy
2. Serpent
3. Summon The Black Earth
4. Throne Of Lies
5. Devorador Dos Mortos
6. Into The Crypt Of Rays (Celtic Frost Cover)
7. Atrocity Idol
8. Vengeance Havoc

Malevolence

Death Metal  –  Portugal

Felizmente o som melhorou para o concerto que se seguiu, que marcou o regresso dos veteranos leirienses Malevolence aos palcos. Parte integrante da velha guarda do Metal nacional, foi pena constatar que muitos dos presentes nunca tinham ouvido falar da banda. Com um Death Metal mais clássico, a banda apostou fortemente no seu álbum de maior sucesso, Martyrialized (1999), do qual saltaram 5 dos 8 temas da setlist.
 
Carlos Cariano esforçou-se por ter um regresso em grande aos palcos, mas a afluência não foi das melhores, já que o público aproveitou o tempo para andar pelo merchandising e outros locais. É o que dá ignorarem a história do Metal luso.
 
Apesar de tudo, quem os conhecia decerto esteve lá a apoiar, e quem foi pela curiosidade não deve ter ficado desiludido. Poucos mas bons, quem assistiu ao concerto apoiou a banda e reagiu bem à interação do vocalista com o público, que decerto sentiu este regresso aos palcos como um novo começo para uma banda que, a seguir a qualidade dos trabalhos que já fizeram, pode dar muito ainda ao panorama musical português.

Setlist

1. Erotica
2. The Brotherhood Of Christ
3. Dominion Of Hate
4. Diabolical Eve (Chronicles Of Mother Lusitania)
5. Oceans Of Fire
6. Hunters Of The Red Moon
7. Equilibrium In Extremis
8. A Shining Onslaught Of Tyranny

Kalmah

Melodic Death Metal  –  Finlândia

Foi com a chegada dos Kalmah ao palco que o ambiente de festival se fez realmente sentir, pela primeira vez, neste segundo dia do Vagos. Mais maduros e com maior renome comparativamente aos Essence, o conjunto finlandês fez as delícias dos fãs de Melodic Death Metal com uma actuação poderosa, perante uma multidão consideravelmente maior do que a que esteve presente no concerto dos dinamarqueses no dia anterior.
 
Apesar de um início algo atribulado no que toca à qualidade de som, com as teclas a sobreporem-se às guitarras e ao baixo, o desenrolar do espectáculo trouxe melhorias nesse aspecto. Fora isso, os Kalmah fizeram aquilo que sabem melhor, tocar rápido e com qualidade. Numa setlist claramente a pensar nos fãs, a banda focou-se nos seus maiores êxitos e tocou dois temas de cada álbum (com excepção do Swampsong, do qual só tocaram a Heroes To Us). É por isso difícil destacar um momento alto nesta actuação, porque a banda tentou manter sempre o mesmo nível.
 
Sem desiludir o público, os Kalmah terminaram a sua prestação que durou exactamente o que devia. O problema de uma banda como esta é que as músicas tocadas ao vivo acabam por se tornar repetitivas e se o espectáculo se desenrola-se por mais meia hora acabaria por perder fulgor. Como foi, a banda manteve-se no topo do princípio ao fim.

Setlist

1. Hook The Monster
2. They Will Return
3. Swamphell
4. Dance Of The Water
5. For The Revolution
6. The Groan Of Wind
7. Rust Never Sleeps
8. Wings Of Blackening
9. The Black Waltz
10. Heroes To Us
11. Hades

Ihsahn

Extreme Progressive Metal  –  Noruega

Ihsahn é um ícone incontornável quando se fala de Black Metal, saltando logo à memória a banda que ele liderou com Samoth durante 10 anos, um dos maiores nomes do género de sempre, Emperor. Iniciando a sua carreira a solo em 2005, com uma sonoridade que mistura elementos dos Emperor com metal progressivo, Ihsahn chegou a Vagos ano e meio depois de lançar o seu terceiro álbum, After. Este era um dos concertos que mais prometia nos dois dias do festival e acabou por justificar essa gulosa antecipação.
 
Abrindo o concerto com os dois temas que iniciam o After, Ihsahn mergulhou depois nos seus outros dois álbuns, com um alinhamento que cobriu os temas de maior destaque do trio de lançamentos. Pelo meio houve ainda tempo de tocar dois temas dos Emperor, que não só encaixaram bem na setlist, como foi o mais próximo de um concerto de Emperor que alguém que nunca os viu pode estar no presente. Manifestamente mais enérgico do que a natureza progressiva dos seus álbuns faria supor, o músico não tirou o pé do acelerador e tocou os 13 temas da setlist com fúria e destreza, como se uma tempestade tropical se tivesse abatido sobre Vagos.
 
Destaque para o som, que ao contrário dos concertos anteriores do dia esteve muito bom, a roçar a perfeição. Apenas fiquei com pena (mas isto é só uma nota pessoal) que ele não tivesse tocado a faixa After, uma das minhas favoritas da sua discografia. Fica talvez para uma próxima oportunidade, que certamente não falta por cá quem o queira voltar a ver actuar em terras lusas.

Setlist

1. The Barren Lands
2. A Grave Inversed
3. Scarab
4. Emancipation
5. Invocation
6. Called By The Fire
7. The Tongue Of Fire (Emperor)
8. Unhealer
9. Misanthrope
10. Citizen
11. Thus Spake The Nightspirit (Emperor)
12. Frozen Lakes Of Mars
13. On The Shores

Devin Townsend Project

Progressive Metal/Rock  –  Canadá

Depois da tempestade vem a bonança, ou assim muitos, erroneamente, pensavam. Simultaneamente polémica e aclamada, a substituição forçada dos Nevermore por Devin Townsend foi um golpe de génio da Prime Artists. Quando foi anunciada a sua inclusão no cartaz, automaticamente se formaram três grupos: os fãs (no quais me insiro), que aplaudiram de pé a escolha e aguardavam com impaciência este concerto, os haters, que questionavam sequer se isto era Metal, e os ignorantes (no bom sentido), que desconheciam por completo o homem e não sabiam o que esperar. Por todas estas peculariadades, este era um dos concertos que mais expectativa criou.
 
Quando o habitual som de rock/metal de fundo que se fazia ouvir nos intervalos dos concertos foi substituído por temas como a Barbie Girl dos Aqua, foi o pânico! Para ajudar à festa, foram projectadas nos dois painéis ao lado do palco montagens de fotos famosas (Mona Lisa por exemplo) com uma cara horrenda do próprio Devin Towsend, que arrancou algumas gargalhadas aos presentes e certamente espevitou a atenção de todos. Afinal, o que vinha aí?
 
Devin subiu ao palco e apresentou-se: “”Olá, o meu nome é Devin Townsend e adoro a minha mãe. O meu animal favorito é a porra de um unicórnio!”. Em seguida, veio o caos. Sempre bem humorado, Devin Townsend proporcionou um espectáculo de encher o olho, com uma actuação em palco ímpar, de longe a mais característica e marcada das três edições do Vagos Open Air.
 
Com uma setlist que abrangeu praticamente toda a sua vasta discografia a solo, Devin Townsend teve o cuidado de escolher os temas mais pesados. Afinal de contas, um génio de Progressive Metal abrir para Morbid Angel não é tarefa fácil. Uma verdadeira tempestade de som, impecável ao mais ínfimo pormenor, muito por culpa dos excelentes músicos que acompanham este senhor ao vivo. À sexta música tivemos também a honra de receber no nosso planeta o extraterrestre omnisciente devorador de café terrestre Ziltoid. Mais uma momento de boa disposição ao qual se seguiu o brutal tema By Your Command. Outro visita importante de referir, mas esta bem humana, foi a do próprio Ihsahn em carne e osso, que voltou a subir a palco nessa noite para cantar o tema Juular com o Devin.
 
Para surpresa de muitas umas das actuações mais pesadas a nível de atmosfera do Vagos, Devin Townsend fechou com uma música mais calma, Deep Peace, um final perfeito para aquela que foi sem dúvida a maior revelação do Vagos para quem não o conhecia e a confirmação de um Senhor Artista por aqueles que assim o imaginavam mas nunca tinham tido oportunidade de o ver. Sem dúvida algo que pagarei de bom grado para rever no futuro!

Setlist

1. Addicted!
2. Supercrush!
3. Kingdom
4. Deadhead
5. Truth/OM
6. By Your Command
7. Pixillate
8. Bad Devil
9. Juular
10. Stand
11. Color Your World
12. The Greys
13. Deep Peace

Morbid Angel

Death Metal, EUA

Para o grande final da edição de 2011 do Vagos Open Air estava reservado um dos maiores ícones de Death Metal de sempre: Morbid Angel. Indiscutivelmente uma das bandas pioneiras mais importantes no género, este conjunto norte-americano foi para muitos (pelo menos para os fãs de Metal mais extremo) o único motivo para terem vindo ao Vagos. Apesar da sua enorme popularidade, o orgulho da banda estava manchado com o recente Illud Divinum Insanus, uma aposta “radikal” que os levou a perder muitos fãs de “kult”. Era por isso com muita antecipação e dúvida que os fãs esperaram pela sua actuação.
 
David Vincent e companhia subiram ao palco e abriram com Immortal Rites, o tema de abertura da sua obra-prima de estreia, Altars Of Madness. Cedo se percebeu que a banda não estava ali para promover o mais recente trabalho, para alívio de todos, com um primeiro leque de seis músicas que abordou alguns dos temas mais icónicos dos Morbid Angel. Foi após este início forte, com o som em excelentes condições, que a banda arriscou tocar três temas do Illud Divinum Insanus. Existo Vulgoré e Nevermore ainda cairam bem no público, apesar de visivelmente menos entusiasmados, enquanto que no tema I Am Morbid David Vincent tentou com que o público cantasse o tão falado refrão, mas com pouco sucesso.
 
Após este ponto mais baixo do concerto, a banda regressou aos temas antigos que era aquilo para que a maioria dos que ali estavam tinha vindo. Num concerto sem falhas a apontar a nível instrumental, os Morbid Angel soaram um pouco insípidos e distantes. Aliás, Vincent estava mesmo muito, muito longe dali, com as suas constantes divagações sobre o quão bonita estava a noite e as estrelas no céu. Verdade seja dito, as estrelas brilharam mais no céu do que em palco, onde nenhum fã terá ficado desiludido, mas também não terão ficado em êxtase. Para mim, a grande desilusão de todo o festival, ainda para mais depois das brilhantes actuações de Ihsahn e Devin Townsend Project.

Setlist

1. Immortal Rites
2. Fall From Grace
3. Rapture
4. Pain Divine
5. Maze Of Torment
6. Sworn To The Black
7. Existo Vulgoré
8. Nevermore
9. I Am Morbid
10. Angel Of Disease
11. Lord Of All Fevers And Plague
12. Chapel Of Ghouls
13. Dawn Of The Angry
14. Where The Slime Live
15. Bil Ur-Sag
16. God Of Emptiness
17. World Of Shit (The Promised Land)