Entrevista: Murdering Tripping Blues

Pas Un Autre é o novo álbum de originais do trio Murdering Tripping Blues, lançado em Setembro pela Ragingplanet, editora responsável também pela versão em LP a meias com a Vinil Experience. A banda sediada em Lisboa dá então bom e ambicioso seguimento a Knocking The Backdoor Music (2008) e Share The Fire (2010), sucedidos por um álbum ao vivo, 1st Time In Color (2011), numa carreira ainda curta mas cheia de registos.

Já havíamos dissecado com entusiasmo o que se passa neste disco novo na nossa análise (ler aqui), onde demos conta das várias aventuras musicais a que Henry Leone Johnson, Mallory Left Eye e Johnny Dynamite nos propõem na extensão de Pas Un Autre, mas ninguém melhor para justificar tudo isto do que os próprios.

Preparam-se neste momento para levar o álbum a salas de Lisboa, Coimbra, Leiria e Portalegre (ver tour aqui) e entre o passado, presente e futuro da banda, Henry Leone Johnson, voz e guitarra, revelou-nos onde se vincam os seus objectivos.

Ruído Sonoro: Pas Un Autre é o vosso novo disco. Olhando para trás, sentem que o vosso método tem evoluído à medida que os anos passam? A experiência de palco dos Murdering Tripping Blues tem feito a diferença?

Henry Leone Johnson: Sim, a experiência que vamos adquirindo tem alterado a forma como fazemos música e como estamos nela. O método de composição não mudou muito mas as músicas são fruto dessa evolução enquanto músicos e indivíduos. À medida que vamos amadurecendo a música amadurece connosco mas deixamos sempre que o impulso dite as regras do jogo.

RS: O disco apresenta uma solidez e uma coesão muito próprias. Quais as vossas maiores influências para chegar a este som?

HLJ: Achamos que este disco é o que melhor nos identifica, onde existe já uma personalidade mais vincada e consolidada. No meu caso as influencias são muito variadas e vêm de diferentes áreas. As influencias ao nível de som da guitarra são basicamente as mesmas desde o inicio da banda e é fundamentalmente um cruzamento entre o Buddy Guy, o garage rock mais sujo, o psicadelismo mais afro americano que fazem a base do meu som que depois variam um pouco consoante as minhas intenções sonoras de disco para disco. Neste disco por exemplo pretendia que o som tivesse mais espaço, que fosse criador de ambientes. Quanto a influencias globais somos muito heterógenos nesse aspecto mas temos algumas bandas em comum que gostamos bastante.

RS: Não há convidados no álbum, mas quem gostariam de poder convidar a sentar convosco no estúdio e gravar uma música para um próximo trabalho?

HLJ: Essa pergunta é sempre difícil de responder mas gostávamos basicamente de ter alguém que fosse divertido e com quem poderíamos passar um bom bocado. Penso que o Iggy Pop seria uma dessas pessoas e seria seguramente uma experiencia incrível trabalhar com ele. O Buddy Guy eu iria gostar particularmente e iria parecer uma criancinha numa loja de doces.

MTB

RS: Os vídeos para os vossos três singles têm em comum imagens dos anos 50 ou 60. Como relacionam a vossa componente lírica com tal fotografia?

HLJ: A parte lírica anda sempre um pouco em torno do mesmo, da minha vida e daquilo que me rodeia mas escrito de uma forma suficientemente abrangente em que qualquer um se possa identificar. Não gosto de escrever letras demasiado fechadas, gosto de dar uma pluralidade de interpretações a quem as ouve, caso contrário acho que iria ser um pouco aborrecido, desinteressante e isso dá-me muito mais gozo a escrever. Nesse ponto de vista de relatar a vida interessa-me também o lado mais inconformado da mesma, o lado mais rebelde se assim o quiseres definir e a adolescência tem muito disso e por isso peguei nos vídeos que referes que eram feitos para educar os ditos adolescentes a terem comportamentos responsáveis, católicos, a serem domados e transformei-os para o sentido oposto, o de transmitir precisamente essa rebeldia, pureza, impulsividade e inconformidade.

RS: Num país onde o blues rock não enche salas, como abordam o momento de pisar um palco para apresentar a vossa música?

HLJ: Sempre da mesma forma, excitados por tocar, descarregar energias, divertirmo-nos e divertir quem assiste sejam eles 15 ou 1000. Não é só o Rock n’ Roll que não enche salas é a arte em geral que não enche salas, nem museus, nem auditórios.

RS: Pas Un Autre merece ser dissecado ao vivo antes de sequer se pensar em material novo. Correcto?

HLJ: Sim. Gostamos sempre de experimentar as músicas ao vivo até um pouco de quase exaustão porque elas vão tomando formas diferentes e isso é muito útil para a criação de músicas novas. Ensina-nos muita coisa, nós só temos que saber ouvir e depois o impulso e a surpresa faz o processo de selecção por nós daquilo que são músicas boas com potencial e das que não são.

RS: Tendo já actuado em várias salas do país e em grandes festivais, onde acham que vos falta actuar? Uma tour lá fora é um desejo?

HLJ: Sim é um dos desejos plausíveis. Já tocámos um pouco fora, fizemos uns festivais na Holanda e umas datas em Espanha mas pretendemos fazer muito mais e estamos a trabalhar para isso. Vamos ver o que o futuro trará mas ainda há muito sítios para tocar em Portugal onde ainda não fomos. Estamos a trabalhar nesse processo de internacionalização mas sendo uma banda com parcos recursos é uma tarefa bastante árdua que nos obriga a trabalhar ainda mais e assim o fazemos.

Entrevista: Nuno Bernardo