Espante-se se Murdering Tripping Blues é um nome que, a nível nacional, continua a passar ao lado. Pas Un Autre, aqui visado, é já o terceiro álbum de originais deste trio lisboeta, socando com mais vinco e firmeza o blues e o garage rock do que encontrámos nos anteriores Share The Fire, de 2010, e Knocking At The Backdoor Music, de 2008.
Não é só nos campos descritos que o grupo se aventura. Há aqui um sentido exploratório de faixa para faixa, guinando a guitarra para sonoridades mais psicadélicas ou para rasgos hipnóticos que fazem os riffs ecoarem nos ouvidos, vindo sempre à cabeça aquelas melodias viciantes e dissonantes dos singles “Into Your Eyes” e “Stumblin’ Blues”. A voz de Henry Leone Johnson leva-nos aos cigarros de Mark Lanegan, enquanto a sua guitarra nos carrega um Dan Auerbach na sua fase inicial da carreira com os The Black Keys, enfrascando bem as águas do Mississippi como inspiração. As cavalgadas da bateria de Johnny Dynamite, explosivas quanto o nome que este apresenta, tumultuam pelas entre-linhas da cena western do crime norte-americano, enquanto que os teclados de Mallory Left Eye preenchem o cenário arenoso. A guinada volta a surgir naquele interlúdio, se assim podemos denominar, “Thomas Milian”, onde nos questionamos se é realmente no Mississippi que nos queremos situar, ou se as influências sicilianas nos devem relocalizar para Illinois, estado da delituosa Chicago.
Geografia à parte, existem outros territórios aqui explorados, e muito bem, pelos Murdering Tripping Blues. Existe aqui também um inspirado sentido de orientação na influência cinematográfica, especialmente em “Petrol Tainted Breath”, assim como uma evidente vontade em libertar as guitarras do blues rock mais recorrente na segunda metade de “Resurrect Then Go”, um dos pontos maiores do álbum, para ser ouvido em alto e em bom. Ou então, se possível, em palco, onde toda a natureza transcrita em disco se encontra em bruto, crua e dura, tal como se quer o rock n’roll que este trio pratica com reverência.
Autor: Nuno Bernardo
Álbum. Ragingplanet. 23/09/2014
Classificação
83%
Há aqui um sentido exploratório de faixa para faixa, guinando a guitarra para sonoridades mais psicadélicas ou para rasgos hipnóticos que fazem os riffs ecoarem nos ouvidos.