Gurriers na Galeria Zé dos Bois. Bons sinais dos tempos

Fotografia: Nuno Bernardo | Texto: Bruno Correia

Muitas foram já as opinões partilhadas pelos apaixonados desta arte em relação ao papel dos serviços de streaming no panorama musical. Se é inegável o seu impacto na venda de formatos físicos como forma de subsistência de quem da música tenta fazer vida, por outro lado, o boost que parecem ter dado à possibilidade de bandas recentes mostrarem ao mundo a que soam e, pouco tempo depois, apresentar-se ao vivo para salas cheias fora do seu país de residência não tem precedentes.

Com às vezes pouco mais do que um EP e/ou um álbum lançados, o fenómeno internet no geral e, em particular, a facilidade de se ouvir um número infinito de álbuns em troca de uma relativamente curta subscrição mensal, parece abrir portas para que ainda mais bandas jovens e recentes se destaquem e tenham possibilidade de, mais facilmente, ir para a estrada. Também do lado de cá acabamos por apreciar o estado de ebulição da cena – ainda que não seja necessariamente sinal de saúde total – e de recebermos, por exemplo, bandas de tão longe como a Austrália em tour no nosso continente e conferir propostas diferentes e inovadoras que outrora não apanharíamos ao vivo em nome próprio tão pouco depois do seu aparecimento.

Acaba por ser esse o caso, pese embora a diferença no país de origem – estes são irlandeses – dos Gurriers. Se os primeiros singles já datam de 2022, só em Setembro de 2024 lançaram o seu primeiro álbum, Come and See, e pouco depois, ei-los numa tour europeia que contou com passagem em Portugal neste início de semana. O ponto de encontro até era outro, mas a mudança de sala levou-nos à sempre acolhedora Galeria Zé dos Bois para confirmar se a força do disco de estreia se traduz ao vivo.

Com as luzes já desligadas antes para ir criando ambiente, foi com precisa pontualidade – algo sempre positivo mas particularmente apreciado a uma segunda-feira à noite – que ouvimos o clássico “Can’t Take My Eyes Off You” começar nas colunas da sala já praticamente cheia. Intro pouco habitual, talvez, mas que criou logo a conexão certa entre os dois lados quando a banda chegou, liderada por um Daniel Hoff de Super Bock na mão com uma grande vontade de se ligar ao lado de cá do palco e que pôs logo a sala a cantar com ele a música de entrada.

Momento mais doce terminado, a distorção tomou conta e «vamos lá! vamo-nos divertir!» serviu como mote para o início com “Nausea”, também em disco a primeira, e o ritmo frenético do baixo em lugar de destaque obrigou os corpos a mexerem-se desde cedo. Assim continuámos com “Close Call” e, na verdade, ao longo de todos os 60 minutos de concerto que deram não só para apresentar o álbum como para tocar algumas novas que não tiveram dificuldade em manter-nos atentos e a mexer.

A meio, só durante os quase 6 minutos de “Prayers” o ritmo abrandou pela primeira vez, um descanso necessário depois do frenesim do final de “No More Photos”. As paragens entre músicas eram curtas mas suficientes para mostrarem o agrado pela estreia em Portugal e fazerem promessas de regresso. “Approachable” sucedeu uma das novas e trouxe o frontman cá para baixo – algo que alguns dos seus companheiros até já tinham feito algumas vezes – para cantar o refrão com o público.

Sentiu-se a aproximação do final e Hoff apresentou “Erasure”, outra nova e culpou a falta de merchandise no facto de os nossos vizinhos de península o terem esgotado durante os concertos em solo espanhol – arrancado expectáveis reacções fortes em tom de brincadeira – antes do início de “Come and See”, a última de uma noite da qual se despediram tendo conquistado por completo a ZDB.