Fotografia: Fábio Caeiro | Texto: Bruno Correia
Céu cinzento e algumas ameaças (que se concretizariam mais tarde) de chuva, era um dia meio que melancólico o que antecedia a noite de emoções fortes que se adivinhava na sala 2 do LAV. O motivo era o regresso dos Touché Amoré a Portugal para a primeira de quase 40 datas de tour europeia acompanhada pelos seus conterrâneos Trauma Ray.
Adição mais recente – e algo inesperada – ao cartaz foram os Boneflower, banda espanhola que, a tocar antes da hora inicialmente comunicada para o início, encontrou pela frente um LAV ainda a meio gás. Não se deixaram inibir e deram-nos tudo o que tinham ao longo de 30 minutos durante os quais era particularmente difícil tirar os olhos do energético vocalista/guitarrista. Não era perceptível que era a primeira vez ao vivo de muitas daquelas músicas, já mais que dominadas e aqui tocadas em jeito de antecipação de um álbum novo que ficou prometido para breve.
Relembraram uma visita ao Disgraça em 2017 e a felicidade de estar de volta parecia genuína, depois de uma viagem, segundo os próprios, atribulada para cá chegar. O regresso não seria menos cansativo, com várias horas de estrada pela frente para voltar a Madrid, onde nos confidenciaram que entrariam ao trabalho às 8 da manhã do dia seguinte.
Uma surpresa bastante positiva experienciada por poucos mas que deixou marca nos que a puderam viver e que levou a alguma afluência à mesa do merchandise quando terminou.
Passou-se de uma guitarra em palco para três com os Trauma Ray a chegar a Lisboa para o seu primeiro concerto na Europa. Inicialmente sem som no microfone, o compasso de espera foi curto até que começaram a tocar. O foco foi quase na totalidade Chameleon, lançado há menos de três meses, que soa bem em álbum mas teve alguma dificuldade em exaltar os ânimos da sala já bem composta. A introdução de “Bardo”, um dos destaques do disco, ainda pôs as filas da frente a saltar, mas não ajudaram à causa da banda os problemas técnicos que reapareceram com mais dificuldades com o microfone e algumas falhas de som ao longo do concerto.
«Vão ouvir algumas partes, não vão ouvir outras», diziam-nos em tom de brincadeira antes de apresentar “Halley”, uma das poucas que não é do longa-duração de estreia. Perguntaram-nos depois se aceitávamos uma música triste antes do início de “Spectre”, num regresso a Chameleon já com as questões técnicas resolvidas.
Com Spiral in a Straight Line um dos inevitáveis destaques discográficos do ano passado, e mais de meia década desde a última visita ao nosso país, a energia da antecipação para receber os Touché Amoré era palpável e, aliada ao acumular da experiência da banda em palco, fez com que desde as primeiras notas de “Nobody’s” o quinteto californiano não tenha tido dificuldades em ter o público português na palma da mão.
Os temas curtos tornaram a pequena hora de atuação longa o suficiente para ouvirmos, ao longo de mais de 20 músicas, um resumo da carreira na forma de várias visitas aos seis álbuns lançados desde 2009. “Uppers / Downers” ou “New Halloween” são inevitáveis destaques, mas a verdade é que não houve momentos baixos de uma banda que, em topo de forma e com os níveis de energia restaurados antes do início de uma tour longa, não deu tréguas. Do lado de cá, teve sempre correspondência por parte de um público que tinha quase todas as letras na ponta de língua e se fazia ouvir alto e bom som.
Já perto do fim, uma chuva de aplausos bem merecidos para Sam Bosson, amigo de longa data que era esta noite o dono da bateria pela primeira vez, em substituição temporária do habitual baterista Elliot Babin, actualmente em funções de pai a tempo inteiro.
Sentiu-se o aproximar da despedida e aproveitou-se bem “Force of Habit” antes de um regresso a 2016 num dos momentos mais apoteóticos do concerto com “Flowers and You”. Saíram para o habitual encore mas não merecíamos que se fizessem de difíceis, e não o fizeram, tendo voltado rapidamente para terminar em grande com “Limelight”.