The Cult no Coliseu dos Recreios. Umas das últimas grandes bandas de rock

Texto: Gonçalo Cardoso

Vi os The Cult ao vivo pela primeira vez em 2009. Ou seja, há 15 anos, também no Coliseu dos Recreios. Na altura, era uma das bandas que mais ouvia, tendo sido uma das pioneiras para me aproximar do rock. Por isso, foi com muita alegria que, passados estes anos todos, pude vê-los novamente na mesma sala, com a mesma energia (talvez até mais), poder e força que há uma década e meia atrás. Mas vamos ao início.

O Coliseu dos Recreios, bem como o Coliseu do Porto, onde tocaram na noite anterior, ficou esgotado algumas semanas antes da data do concerto, o que foi para mim um sinal muito positivo da receptitividade que esta banda inglesa ainda tem junto do público português. Afinal, quantas bandas de rock que tivera o seu apogeu nos anos 80 ainda enchem salas e mantém uma boa massa de fãs pronta para cantar todos os temas, como se fosse a última vez? Não muitas.

O arranque do concerto foi discreto, com “In the Clounds” e “Rise”, dois temas de Beyond Good and Evil, um disco mais “recente” (é de 2001) e que não conta com nenhum daqueles clássicos, apesar de ser um óptimo álbum. Mas, à terceira faixa, os primeiros acordes da famosa “Wild Flower” fizeram o Coliseu tremer e toda a gente estava aos saltos. Seguiram-se uma discreta “Star” e a tranquila “Mirror”, pertencente ao último trabalho da banda Under the Midnight Sun, até ouvirmos “The Witch”, um tema bem gótico, a fazer lembrar os primeiros tempos da banda.

Do primeiro álbum chegava-nos “Resurrection Joe” que foi estranhamente bem recebida, ou não fosse uma das mais antigas faixas da banda e quase uma hidden gem, mostrando que o público não estava ali ao engano e sabiam muito bem a banda que estavam a ver. Um dos grandes momentos da noite deu-se a seguir: Ian Astbury e Billy Duffy, com a sua viola acústica, tocaram uma belíssima versão de “Edie (Ciao Baby)”, uma das mais lindas canções que lançaram, que ganhou ainda mais brilho nesta noite. A partir daqui, foi quase sempre a abrir caminho: “Sweet Soul Sister” do magistral Sonic Temple, o último da década de 80; “Lucifer”, de um não muito famoso Choice of Weapon, foi talvez a última faixa antes da maratona de êxitos final; “Fire Woman”, que dispensa apresentações; “Rain”, a poética segunda faixa mais conhecida de Love, o primeiro álbum que colocou a banda nas bocas do mundo, ou “Spiritwalker”; foram todas cantadas de pé, aos pulos, e tendo em conta que grande parte da plateia não era propriamente “jovem”, foi louvável e maravilhoso de presenciar.

Antes da pausa para o encore, ainda houve tempo para a incontornável “Lovel Removal Machine”, de Electric, o outro álbum que fecha a tríade do apogeu da banda na década de 80. Após uns breves minutos para se refrescarem, a banda de Bradford regressou ao palco, para fechar com chave de ouro com mais dois temas do álbum de 1985, com “Brother Wolf, Sister Moon” e “She Sells Sanctuary”, fazendo o recinto ir abaixo.

Foi absolutamente fantástico e um dos melhores concertos que vi este ano. Se tivermos em consideração que estamos perante uma banda com mais de 40 anos de actividade, e cujos os elementos têm mais de 60 anos, é obra. Ian Astbury continua igual a ele mesmo, e isso é bom, com o seu humor corrosivo, energia de um puto de 20 anos e uma voz de ouro. Billy Duffy continua com o mesmo estilo e qualidade, parece que nem envelhece. Em suma, uma grande noite. Resta-me recomendar que passem por Vilar de Mouros, dia 22 de Agosto, para verem estes colossos em acção. Vai valer a pena.