Rock in Rio Lisboa. O destino de sempre em território inóspito

 Texto: V. Oliveira | Fotografia: Ana Ribeiro (Grifus)

A edição do Rock in Rio Lisboa de 2024 trouxe-nos casa nova e a perspectiva de replicar a receita de sempre em espaço novo, mantendo (algum) compromisso na mistura de artistas nacionais com internacionais e contribuindo também para a dinamização de boa música que se faz em português (mas não só em Portugal). O Rock in Rio Lisboa viu-se, ainda assim, a braços com todas as dificuldades inerentes à gestão de um espaço nunca antes habitado. A tentar colmatar as mais variadas queixas do frenesim do primeiro fim-de-semana do festival, nomeadamente o comentário ampliado das dificuldades de acesso ao Parque Tejo, o segundo fim-de-semana trouxe consigo melhorias do espaço, numa reorganização relativa do novo habitat à beira-Tejo.

Sob o mote de não se mexer em equipa vencedora, e não faltando nem cobertura mediática nem mediatismo a um dos festivais de maior destaque dos últimos vinte anos, o que faltou a este Rock in Rio foi, sobretudo, mais rock, mas também um reconhecimento e gratidão a quem contribui recorrentemente para cimentar o legado de um dos eventos musicais de maior destaque em Lisboa.

Dia 15 de Junho: Da sabedoria à experiência

Numa contínua aposta em bandas nacionais, foi com o rock old school dos Xutos & Pontapés que se inaugurou o Palco Mundo no primeiro dia do festival. Acompanhados da Orquestra Filarmónica Portuguesa, foi ao som da intemporal “À Minha Maneira” que a experiente banda se aventurou perante o público presente. Não faltaram também os grandes êxitos de sempre, destacando as performances de “Contentores”, “Homem do Leme” e “A Minha Casinha”, todas elas parte do imaginário e da cultura de todos os portugueses.

 

Com o mesmo carinho, mas num crescendo de multidão, os Evanescence subiram ao Palco Mundo neste que foi também o seu regresso a Portugal, vinte anos após a estreia. Sem margem para erros ou equívocos, a banda norte-americana não deixou crédito por mãos alheias e demonstrou não só o porquê de segurar a legião de fãs que os acompanha, como desvendou a receita sobre como permanecer  uma banda de sucesso ao longo de cerca de vinte anos de carreira. De voz e carisma inconfundíveis,  Amy Lee saudou o público presente e transportou-nos a todos no tempo: «Olá Lisbon, it is amazing to be with you again. Once again, we love you, always».

O início de concerto fez-se ao som das músicas mais recentes da discografia da banda, através dos singles “Broken Pieces Shine” (The Bitter Truth), “Made of Stone” e “My Heart Is Broken” (Evanescence), na qual a vocalista se sentou ao piano e voltou a proclamar amor pelo nosso país: «It is a very special honour to play for you». Logo se seguiu uma digressão pelos grandes êxitos da carreira da banda, através de hits como “Taking Over Me”, “Going Under” e “Call Me When You’re Sober”, todas do álbum que trouxe os Evanescence à ribalta e que até aos dias de hoje não paga renda no imaginário colectivo dos seus fãs (Fallen, 2003).

O fecho do concerto fez-se da única maneira possível, ao som de “My Immortal”. Poderíamos mesmo acabar este concerto de outra forma?  Pelo meio do concerto ficou também a mensagem de Amy Lee para todos os que a ouviam: «Don’t let anybody make you feel like your voice doesn’t matter. That is a lie. You are powerful».

 

O final de tarde trouxe-nos também o concerto da banda de Jay Buchanan, desta feita no Palco Tejo. Os Rival Sons, de regresso a solo português após o concerto no LAV em 2019, apresentaram-se no Rock in Rio à luz de dois álbuns lançados em 2023: Darkfighter e Lightbringer. Num alinhamento em relativa ordem cronológica, a banda da Califórnia trouxe para a linha da frente as músicas mais conhecidas e que os catapultaram para uma posição de maior destaque a nível mundial. Num concerto que ficou marcado por problemas técnicos com o microfone de Jay a parar de funcionar, foi o público quem compensou e se encarregou de levar o concerto às costas e entoar incansavelmente, merecendo até resposta do próprio vocalista: «That’s right, give it to me». “Tied Up” (Hollow Bones, 2016), “Too Bad” e “Feral Roots” (Feral Roots, 2019) foram momentos muito aplaudidos e requisitado pelo público, demonstrando que quem compareceu junto ao Palco Tejo não tropeçou ao acaso no concerto que por ali se desenrolava, mas que ali compareciam de forma intencional.

A deixar uma mensagem mais política ao falar sobre Gaza e o genocídio recorrente, foi também Jay quem pediu que se agrupassem esforços para um bem colectivo: «All this energy, let’s use it for something good». Da recta final de concerto destacamos ainda a prestação da banda ao som de “Mirrors” e “Nobody Wants To Die” (DarkFighter). Um concerto que merecia mais público e um palco maior do que aquele a que teve direito.

 

Num registo assaz diferente, foi aos Scorpions a quem ficou entregue a responsabilidade de acelerar a noite de sábado no Parque Tejo. Foi a todo o gás e com os êxitos “Gas In The Tank” (Rock Believer, 2022), “Make It Real” e “The Zoo” (Animal Magnetism, 1980) que abriram as hostes a mais uma noite de rock. Se algumas coisas já não são o que eram, como é expectável com a passagem do tempo, há também coisas que não mudam e a voz de Klaus Meine é uma delas: intemporal e distinta. Foi o vocalista quem deixou a sugestão, inclusivamente, de levar o público numa viagem no tempo aquando de uma das duas interpolações para a multidão que o assistia: «Let’s go back to the 80’s, what do you think?».

Não poderíamos deixar de destacar a actuação da gigante “Wind of Change” (Crazy World, 1990) como uma das mais aplaudidas da noite, juntamente com o encore que procedeu à descida do vocalista junto ao público que circundava o perímetro do palco principal, através de êxitos como “Still Loving You” e “Rock You Like a Hurricane” ambas do álbum Love At First Sting (1984). Para reflexão final deixamos a questão sobre se ao fim de todos estes anos, os rapazes continuam realmente “running wild”.

 

O final de noite no Rock in Rio Lisboa fez-se em cima do Palco Galp, onde estiveram os portugueses Hybrid Theory. A banda algarvia e que tem feito carreira através do tributo aos norte-americanos Linkin Park, tem conquistado uma legião de fãs devota e compareceu de forma fugaz naquela que foi a sua estreia no Parque Tejo. Na tentativa de fazer jus à notoriedade conquistada nos últimos dois anos, os Hybrid Theory têm no baterista Diogo Neuparth a sua mais valia, e na banda à qual fazem tributo a chave do seu sucesso. Do alinhamento surreal e recheado de êxitos, “Somewhere I Belong” (Meteora, 2003) e “Points of Authority” fizeram as delícias da noite, e “Crawling” (Hybrid Theory, 2000), na qual subiu ao palco Diogo Piçarra, foi o inesperado no previsível em final de noite. Abandonámos o recinto com a certeza de que os Hybrid Theory continuarão a fazer sucesso à custa do legado da banda que homenageiam. Resta-nos apenas especular até quando.

 

Fotogaleria do restante dia, incluindo os concertos de Blind Zero, Extreme e Europe:

 

Dia 16 de Junho:  Da juventude à descoberta

O segundo dia de Rock in Rio Lisboa inaugurou-se ao som de Fernando Daniel, que abriu o Palco Mundo no início de tarde e trazendo consigo um público mais jovem do que o que havia composto o recinto no dia anterior. Perante uma multidão entusiasmada, o cantor português mostrou-se sempre sorridente e comunicativo, e apresentou-se ao público através do single “Mágoa” (Salto, 2018): «Como é que é, Rock in Rio? Façam barulho!».

A energia do público foi sempre palpável enquanto Fernando somava êxitos e uma humildade ímpar e que o tornam numa das grandes vozes do panorama nacional actual. A actuação desenrolou-se com banda sonora em nome próprio através de “Entre Nós” e “Tal Como Sou” (+Presente, 2022), que o público foi cantando apaixonadamente. Fernando Daniel compartilhou diversas confidências ao longo do seu concerto, começando pela história do seu primeiro Rock in Rio Lisboa, em 2018, e demonstrando gratidão pela sua jornada. «Sei que muitos de vocês não estão cá por minha causa. Para quem chegou agora a esta viagem, sejam bem-vindos. Muito obrigado por me aceitarem como sou», expressou antes de dedicar a música “Prometo” à sua filha.

Destacamos ainda a colaboração com Lukas Graham (que actuaria mais tarde no Palco Galp) ao som de “Casa” (VHS, 2023). Outro momento de confidência e vulnerabilidade gerou-se aquando da performance do single “Memória”, desta feita  dedicada ao seu avô. A recta final de concerto concluiu-se com um encore constituído pelos singles “Melodia da Saudade” e “Espera” e deixou o público a querer mais de um concerto que conquistou até os menos atentos à discografia do músico português.

 

No palco maior do festival seguiu-se a performance de Calum Scott, encetada com o mais recente single “Lighthouse” (2024), enquanto acenava para a multidão e a saudava de forma calorosa: «Olá Lisboa, tudo bem?». Rapidamente ficou provado que o público não precisava de ser conquistado, e que realmente estava tudo bem. O avançar do concerto trouxe-nos  “Rhythm Inside” (Only Human, 2018), e aí já a multidão estava rendida aos encantos de Calum.

O cantor confessou-se assoberbado pela grande presença de público: «I have never seen this many people together in one place and that makes me feel a little bit ill, so I am just going to continue singing.». Essa honestidade aqueceu os corações alheios e contribuiu para a boa vibe que se sentia no recinto. Durante a habitual secção de covers dos seus concertos, Scott entregou interpretações poderosas dos hits “Woke Up in Love” (Kygo), “Where Are You Now” (Lost Frequencies) e “Whistle” (tema gravado a meias com Jax Jones). Houve ainda espaço para dedicatória aos seus fãs através do original “You Are The Reason” (Only Human) dizendo: «This is how I feel about you».

Assinalamos ainda performance emocionante do tema “Dancing On My Own” (cover de Robyn), por entre juras de amor e agradecimentos múltiplos: «Thank you from the bottom of my heart. Thank you for making my dreams come true». Esta faixa, que de resto catapultou Scott para a fama durante a sua participação no programa de talentos Britain’s Got Talent, ressoou poderosamente com a multidão. Estamos certos de que este não será o último concerto junto do público português.

 

O grande final do dia dois de Rock in Rio Lisboa estava guardado para a actuação de Ed Sheeran e a antecipação era palpável. O início de concerto aconteceu ao som de  “Castle On The Hill” (÷, 2017) e logo se seguiram os sucessos “Shivers” (=, 2021) e “The A Team” (+, 2011), esta última ligada ao primeiro álbum de Sheeran e que se mostrou estar bem viva na memória dos fãs que assistiam ao concerto.

Como tem sido apanágio pela suas digressões, Ed Sheeran apareceu sozinho em palco e munido somente da sua guitarra e de uma loop station através da qual é capaz de replicar sons, sendo precisamente uma das componentes dos seus espectáculos explicar ao público o processo criativo por trás dessa ferramenta electrónica: «Everything you hear here tonight is completely live (…) you press record and then you press play, and it plays back». Exibindo confiança e a mestria de todos os elementos que o auxiliam em palco, Sheeran deixou transparecer a maturidade de um artista com a  carreira consolidada e sem medo de aparecer sozinho em palcos maiores do que si próprio.

Ao longo do espectáculo de Sheeran assistimos a um pouco de tudo: desde um mashup da original “Take It Back” (x,2014) e dos êxitos “Superstition” (Stevie Wonder) e “Ain’t No Sunshine” (Bill Withers) onde foi capaz de nos mostrar toda a versatilidade, passando pelo momento mais acústico do recente single “Eyes Closed” (-, 2023), com dedicatória à memória do seu melhor amigo e que que adicionou um toque comovente à actuação em Lisboa. Clássicos como “Thinking Out Loud” e “Photograph” (X) fizeram as alegrias do público que as cantaram em uníssono, e a performance de “Happier” deu azo a uma confissão: «I don’t have a hobby, this is what I do».

Fechou-se a noite com as favoritas “Shape of You” e “Bad Habits” e a certeza de que o que Ed Sheeran faz em palco não é replicável nem está ao alcance de todos. Resta a cada um de nós encará-lo como extraordinário ou aborrecido. De qualquer das formas, acreditamos que a escolha será fácil e contamos ver retornar o cantor a Portugal em breve.

Fotogaleria do restante dia, incluindo o concerto de Lukas Graham:

 

Dia 22 de Junho: Da pop nacional à internacional

O segundo fim-de-semana de Rock in Rio Lisboa trouxe-nos mais música portuguesa. Exemplo disso foi o concerto de Carolina Deslandes ao início da tarde sob o signo do Palco Mundo. Demonstrando uma alegria e energia contagiantes, Deslandes conseguiu agarrar o público que a recebeu e que era conhecedor do seu repertório. Destacamos a interpretação de alguns dos seus mais recentes singles como “Vai Lá”  e “Saia da Carolina” (Caos, 2023), bem como o dueto “Precipícios” (com Carlão).

«Eu não estou a acreditar que estou aqui», interpelou Deslandes durante o concerto e confirmou o desejo de sempre querer ter estado a actuar em cima do palco do Rock in Rio Lisboa. A cantora deixou o público aquecido para o que seria o resto do alinhamento do dia e respondeu de forma categórica à notoriedade que consolidou enquanto artista durante os últimos anos. Carolina é dona do seu próprio nariz e não está preocupada em ser a menina bonita e bem-comportada, e nós agradecemos-lhe por isso.

 

O desenrolar da tarde trouxe-nos também o concerto dos muito acarinhados Ornatos Violeta, desta feita no Palco Tejo. Com um quarteto de cordas a acompanhá-los (não foi tema incomum nesta edição de Rock in Rio, a exemplo do concerto de Xutos & Pontapés), a banda demonstrou que continua a ser um dos preferidos do público português e a fundir gerações de fãs. “Para Nunca Mais Mentir” e “Pára de Olhar Para Mim” deram mote ao resto da tarde e lançaram a banda portuguesa numa incursão pela sua discografia. Ponto alto de qualquer concerto de Ornatos são sempre os êxitos “Dia Mau” e “Chaga” (d’O Monstro Precisa de Amigos, 1999), e foram as mais entoadas junto ao Palco Tejo. Os Ornatos Violeta continuam a demonstrar que o seu legado está vivo e recomenda-se.

 

Em jeito de assumir a noite, o Palco Mundo introduziu em palco o carismático Macklemore, reafirmando a tendência de um público mais jovem para este terceiro dia do cartaz. Numa demonstração do seu carácter de entertainer puro capaz de dar espectáculo do início ao fim, foi ao som do single “CHANT” (Ben, 2023) que o rapper norte-americano se reintroduziu ao público português: «Good evening, my beautiful people. I am so honored to be here tonight celebrating music».

Desde cedo também se estabeleceram regras, e ficou claro que esta era uma noite de celebração: «This is our show. (…) then let ‘s put our phones down». Mas nem só de celebrações se fez a noite, e Macklemore aproveitou o início do concerto para apelar à libertação da Palestina enquanto cantava o seu mais recente single “Hind’s Wall” bem como para lançar palavras de intervenção política e social durante a actuação do êxito “Same Love”: «If you believe that everyone can be who they are and love who they want, point to the sky».

A fechar o concerto com chave de ouro esteve a aclamada “Can’t Hold Us” (The Heist, 2012) e um pedido intimista do rapper: «I’m Macklemore but my family calls me Ben. Please call me Ben, you are my family». Uma coisa é certa, o músico já é tudo menos um estranho do público português. Aguardaremos pelo seu breve regresso a solo luso.

 

De regresso ao Palco Mundo, e em estreia absoluta em Portugal, estiveram os ansiosamente aguardados Jonas Brothers. «We intend on making this a memory of a lifetime», prontamente anunciou a banda, e o público presente fez dele a missão de eternizar o momento. Dispensando apresentações e rodeados por uma legião de fãs, os Jonas Brothers fizeram as delícias do público e demonstraram maturidade musical adquirida com os anos de carreira e de estrada, mas pareceram sempre aquém das expectativas criadas. Das músicas mais aguardadas entre o público estiveram “What a Man Gotta Do”, “When You Look Me in the Eyes”, “Love. Bug”, “Year 3000” ou “SOS”.

Destacamos, sobretudo, a secção de covers do concerto com “Can’t Take My Eyes Off You”(Frankie Valli & The Four Seasons) e “September” (Earth, Wind & Fire), que foram cantadas por um cruzamento intergeracional de fãs. Os norte-americanos cumpriram com o que se lhes esperava e dispararam êxito atrás de êxito em frente a uma plateia delirante. Será a antiga glória da boy band da Disney capaz de conquistar uma nova geração?

 

Fotogaleria do restante dia, incluindo o concerto de James:

 

Dia 23 de Junho: Do presente ao passado

O quarto e último dia de festival trouxe-nos o conforto de um regresso ao passado e um marcar de encontro com estreias em solo português. A inaugurar o dia no Palco Mundo esteve a espanhola Aitana, que conquistou notoriedade enquanto vice-campeã da edição espanhola do programa Operação Triunfo. Munida de uma pop electrónica dançante, a artista encantou o público através da sua simpatia e humildade contagiantes.

As interacções com o público, que compareceu neste início de tarde junto no Parque Tejo, foram sempre espontâneas e a artista apresentou-se primeiro em português, e depois em espanhol, gesto que contribui para um ambiente de intimidade entre artista e audiência, e que serviu também de introdução para o alinhamento que se seguiria. Parte do alinhamento fizeram então os singles que compõem o álbum Alpha, de 2023, e no qual figuram êxitos como “Alpha09”, “Los Ángeles”, “Dararí” e “Las Babys”. De fora não faltou o êxito remixado de “Mon amour”, canção que conta com mais de 600 mil streamings na plataforma Spotify. A estreia de Aitana em Portugal foi feita de forma segura e assertiva e deixa espaço de manobra para o que se seguirá no futuro da sua carreira.

Outra estreia absoluta em Portugal foi a do autor-compositor Ne-Yo. Verdadeiro ícone do R&B, o norte-americano proporcionou uma viagem ao que de bom se fazia em termos musicais anos 2000 e trouxe a Lisboa um desfilar de clássicos que seduziu em absoluto o público presente. A dispensar apresentações, Ne-Yo moveu-se em palco como se fosse a sua casa e trouxe consigo todas as qualidades que o catapultaram até ao sucesso: carisma, irreverência, talento. Para iniciar o concerto tocou-se a icónica “Closer” (Year of The Gentleman, 2008), seguida de outro grande êxito com “Because of You”: «Hello and welcome. This show is a celebration».  De fora não ficaram uma mão cheia de hits da carreira do artista como “Sexy Love”e “She Knows”, bem como os hinos pop “Sick” e “Miss Independent” (In My Own Words, 2005).

A reprodução de outros êxitos que Ne-Yo foi compondo para outros artistas provou ser uma receita de sucesso e provocou uma apoteose de palmas e de cânticos a pulmões abertos. Um dos temas escolhidos foi a também incontornável “Let Me Love You”, interpretado por Mario e lançado em 2004. Ne-Yo estreou-se em Portugal e deixou fasquia muitíssimo elevada para quem lhe seguiria, Camila Cabello e Doja Cat. Um concerto absolutamente convincente e que só pecou por tardio.

 

Foi ainda a meio do dia que subiu ao palco a cantora Camila Cabello, também ela em estreia absoluta em Portugal . O palco foi sempre local de recreação para a artista, num cenário que imitava o de um playground e que teve direito a halfpipe, bicicletas e baloiços, entre outros, numa das maiores produções de design de cena desta edição do festival. Recheada de adereços e auxiliada por um grupo de bailarinas que seguiam copiosamente todos os seus movimentos, Cabello fez o que quis e lhe deu vontade, nunca olhando a julgamento alheios.

A apresentar o novo álbum C. XOXO, a cantora de origem cubano-mexicana mostrou em Portugal os singles “I LUV IT”, “B.O.A.T”, “Dream Girls” e “Chanel nº5”, esta última em estreia absoluta ao vivo.  Do alinhamento fizeram também parte “Havana” (Camila Cabello, 2018), “Señorita” (Romance, 2019) e “Sangria Wine“ (de Pharell Williams), cantada ao vivo pela primeira vez desde 2019, neste que foi o seu regresso às tournées após um interregno devido à pandemia COVID-19 e um fim de contrato com a editora Epic Records.

Com uma naturalidade invejável, Camila Cabello falou sempre para uma câmara naquele que foi um concerto reproduzido na íntegra para os ecrãs que circundavam o palco principal, e mostrou-se sempre comunicativa e confortável com a sua audiência. «I could just really snack» deu mote para que se trouxesse comida e bebida para o palco, e no qual não faltaram os seus favoritos, os pastéis de nata. Um espectáculo teatral e conceptual, que com toda a certeza não coincidiu com as preferências de todos os que o presenciaram.

Na despedida da edição de 2024 do Rock in Rio Lisboa esteve Doja Cat, a encerrar as festividades no Palco Mundo. Uma das maiores estrelas do rap feminino da actualidade trouxe a Portugal a digressão do seu último álbum Scarlet 2 Claude, editado em 2024, num espectáculo que se mostrou categórico e hipnotizante. De atitude inconfundível, a cantora e rapper norte-americana arrancou a noite ao som de “Acknowledge Me”, “Shutcho” e “WYM Freestyle” que serviram de bússola para o que seria o resto da sua actuação. Acompanhada de uma banda e de um conjunto de bailarinos, foi com a canção “Say So” que se garantiu o primeiro momento de partilha e simbiose com o público.

Para quem esperava um concerto recheado dos singles de destaque da discografia da artista, como “Kiss Me” (partilhada com SZA) ou “Woman” (Planet Her, 2021), talvez tenha saído de expectativas defraudadas. Contudo, cedo ficou latente a intenção de Doja Cat em comparecer como lhe dá mais prazer e de forma autêntica, proporcionando uma experiência para aqueles que realmente acompanham a sua carreira mais de perto. Destacamos ainda a actuação da música-estandarte da discografia da artista com o tema “Paint The Town Red” (Scarlet, 2023) e de “Wet Vagina” (Scarlet 2 Claude) num clima de festa total. Doja Cat é uma artista incontornável, e este concerto não deixou margem para dúvidas.

 

Fotogaleria do restante dia, incluindo o concerto de Pedro Sampaio:

 

O Rock in Rio Lisboa regressa em 2026 para a sua 11ª edição e manterá a fórmula de sempre nesta nova casa junto ao Tejo.