Deap Vally no LAV. A liberdade do fim de um ciclo

Texto: Ana Rodrigues | Fotografia: Nuno Bernardo

Julie Edwards, bateria e voz, e Lindsey Troy, guitarra e voz, iniciaram em Lisboa, no dia 20 de Maio, a tour europeia “live for the last time” de Deap Vally, acompanhadas pelo trio britânico HotWax e os recentes Dosiopath.

O aquecimento da noite ficou à responsabilidade do duo Dosiopath, que fez em palcos lusitanos o seu primeiro concerto de sempre. Quatro músicas tocadas foram suficientes para perceber a potencialidade da banda formada por Solon Bixler (ex-guitarrista de 30 Seconds to Mars e Great Northen) e Julie Edwards (bateria), que mais tarde voltaria a subir ao palco com Deap Vally.

 

De seguida as inglesas HotWax abanaram a sala com o seu rock alternativo, apimentado com grunge e post-punk. Tallulah Sim-Savage (guitarra e voz), Lola Sam (baixo) e Alfie Sayers (bateria) trouxeram um alinhamento cheio de energia, prova disso foi já terem partilhado palco com Yeah Yeah Yeahs, The Strokes, Queens of the Stone Age e Royal Blood, bem como passagem pela KEXP.

 

Para uma sala meia vazia, não descorando a qualidade da mesma, a banda principal da noite fez uma entrada em robe de cetim, dando a sensação que iriam dar início a um espectáculo de wrestling. Sem mais demoras, até porque o set seria longo e intenso, o álbum Sistrionix foi tocado na íntegra, juntamente com o tema “Ain’t Fair”, música que consta no Sistrionix 2.0, uma regravação do primeiro disco da banda, lançada no início deste ano e que junta b-sides, demos e temas novos. Deap Vally estiveram mais focadas em tocar os seus temas, mas não deixaram de falar sobre a última passagem por Portugal, há onze anos no Optimus Alive 2013, e de explicar que a última tour iria ser uma celebração do álbum regravado e de agradecer todo o apoio que receberam.

Após o encore, voltaram com mais seis canções muito bem elegidas. “American Cockrach” e “Bring it On” foram os singles escolhidos, seguidos de “Grunge Bond” e “Smile More”, pérolas do álbum Femejism. Não faltou o mais recente single lançado “It’s My World”, com direito a ajuda por parte de Solon Bixler, que voltou ao palco para apoderar-se da guitarra, de forma a permitir que Lindsey Troy ficasse livre para poder jogar-se para o chão e dar um espetáculo de rock’n’roll poderoso e caótico. Para finalizar, seguiu-se “Perfuction”, do álbum Marriage, terminando com o grande hit “Royal Jelly”.

Por trás destas duas artistas há duas mães que chegaram à conclusão que não iriam conseguir conciliar a maternidade com o showbiz. Visto que se consideram uma banda tradicional e individuais muito privados, face à mudança abrupta do panorama musical dominada pelas redes sociais não seria possível prosperarem o suficiente neste meio para aliar a família às tournées. A dupla está certa que o melhor será reformarem-se, mas fizeram questão de passar pelo máximo sítios possíveis para se despedirem, mesmo que para isso tenha custado o day job da guitarrista, pois não lhe cederam os dias suficientes para realizar a digressão.

Apesar de todas as dificuldades, Julie e Lindsey deram o seu melhor e não falharam. Para além de programarem a tour sozinhas, reeditaram um álbum cujo original praticamente não lhes serviu monetariamente, pois viram-se presas a um contracto vitalício com a editora que lhes retira os direitos de propriedade do álbum. Afinal o empoderamento feminino é mesmo isto: é ter a liberdade de poder escolher e de assumir a responsabilidade dessas mesmas decisões, celebrando e não lamentando o fim de um ciclo.