Parov Stelar no Sagres Campo Pequeno. Pista de dança ao leme do swing na capital

Texto e Fotografia: Filipe Silva

Se há estilo musical que tem estado cada vez mais na ribalta, ao ponto da quasi-ascensão, esse estilo chama-se electro swing. Com uma capacidade incrível de pôr corpos a mexer na pista de dança, seja essa mesma pista pequena ou grande, o electro swing combina de forma perfeita a sonoridade e estética do vintage jazz com o swing moderno, adicionando-lhe ocasionalmente pitadas de house, techno e hip-hop. O resultado é um potente e energético confronto entre instrumentos e electrónica que, como referido acima, mete tudo e todos com vontade de dar uns passos de dança e ser levados ao rubro. Exemplos de artistas e bandas dentro do género são variados – Caravan Palace, Caro Emerald e Electric Swing Circus vêem logo à memória -, mas o nome possivelmente mais sonante de todos eles é sem dúvida Parov Stelar.

Parov Stelar, ou Marcus Füreder para os amigos, iniciara o seu percurso nos meados dos anos 90 como DJ em clubes, mas foi nos inícios do novo século que se estreou oficialmente com o disco Shadow Kingdom. A partir daí, a sua carreira foi catapultada de uma forma impressionante, graças a lançamentos como Rough Cuts, Seven and Storm, Coco e The Princess. Com um crescimento constante em números de audiência e também de prémios, foram também várias as suas passagens pelo nosso país, maioritariamente realizadas no NOS Alive. Por esse motivo, uma aparição de Parov Stelar a solo, pelo menos por cá, torna-se automaticamente num acontecimento único e imperdível. Desta vez com um novo conceito em mente, à qual lhe chamemos uma “digressão em teatros”, Parov Stelar aliou-se novamente à sua fiel banda para oferecer aos fãs nacionais uma experiência mais íntima, com toda a energia e magia da qual já esperávamos.

Antes de presenciarmos mais uma actuação inesquecível de Parov Stelar, tivemos o prazer de sermos recebido por El Siciliano, produtor e DJ alemão de ascendência siciliana, que aqueceu o público de forma brilhante, passando vários temas de house que meteram logo o público com vontade de dançar. Por esta hora, ainda entrava público a conta gotas pelas portas do Sagres Campo Pequeno, que eram imediatamente surpreendidos pelo ambiente que já se tinha instalado na sala, e, entre compra de cervejas e dois dedos de conversa, o público ia-se agrupando cada vez mais à frente, sempre a curtir a sonoridade proporcionada por El Siciliano e a fazer aquela ginástica de preparação. O aquecimento ideal para o que viria a seguir.

 

Posso dizer com toda a honestidade que esperei por este momento durante largos anos. A minha primeira introdução a Parov Stelar foi no início da década passada, quando ouvi a música “Hurt”, do acima mencionado Coco, pela primeira vez. A sonoridade invocada por Parov Stelar, o ambiente meio noir que pairava nas suas músicas, e aqueles momentos mais explosivos de festa tornaram-me fã de forma imediata. Desde então, o sonho era poder vê-lo ao vivo e assim fora esse dia. Muitíssimo bem acompanhado pela sua fantástica banda, Parov Stelar e companhia começaram a noite com “Oh Boy”, “The Heat Is On” e “Booty Swing”, que meteram o público a mexer de imediato.

Entre um enormíssimo espectáculo de luzes, as lindas e sensuais vozes de Anduze e Elena Karafizi, o carisma omnipresente do saxofonista Sebastian Grimus, o vibing constante do próprio Parov Stelar que volta e meia puxada de um cigarrinho, e a constante diversão da restante banda, é quase impossível apontar um único momento que tivesse sido o mais alto da noite, pois toda a actuação fora um ponto alto. A constante chuvada de êxitos como “Django’s Revenge”, “Chambermaid Swing”, “Gringo”, “Mojo Radio Gang” e “Catgroove” criaram um atmosfera íncrivel de início ao fim, e seja qual fosse o sentido em que olhássemos, a visão era sempre a mesma – um ambiente de tremenda festa, com sorrisos rasgados de prazer sónico e muito suor à mistura. Por sua vez, Anduze e Karafizi iam ocasionalmente agradecendo ao público pela sua presença e puxando o mesmo para que saltassem e gritassem ainda mais alto.

Especial nota para o momento absolutamente electrizante durante “The Burning Spider”, em que Parov Stelar e companhia meteram o público agachado antes do mesmo entrar em ruptura na parte final da música. Após tal enormíssima actuação, é impossível não sentir uma certa tristeza por ter terminado. Noites assim são muito difíceis de igualar, mas o que nos dá alento é o podermos ter bem presentes na nossa memória que fizemos parte de tão estimado evento. Os sortudos somos nós, no fim de contas.