Jungle no Sagres Campo Pequeno. Um universo vulcânico

Texto e Fotografia: Fábio Caeiro

Foi no passado dia 29 de outubro que recebemos Jungle, no Sagres Campo Pequeno, em Lisboa, com esta sexta visita a território nacional a ser motivada pelo lançamento de Volcano, o quarto álbum do duo britânico. A abertura ficou a cargo de LA Priest, alter ego de Samuel Eastgate, ex-Late of the Pier.

Estando a casa praticamente cheia logo no início da actuação, percebeu-se que esta enchente não foi propriamente causada por si, mas sim pelo que viria a seguir. Eram audíveis as conversas entre pessoas do público e notou-se uma demora a sintonizar no seu concerto. Talvez tal tivesse acontecido devido ao facto de não ser muito conhecido, talvez por se apresentar a solo e sem grande dinâmica em palco, apenas de guitarra ao peito (ainda que tenha sido acompanhado por backing tracks). Apesar disso, a performance foi sólida e foi captando o interesse, existindo um aumento regular das ovações à medida que o tempo passava, tendo cumprido o propósito de soltar a plateia.

 

Foi às 21h em ponto que chegou o momento pelo qual todos esperavam, Jungle. Josh Lloyd e Tom McFarland sobem ao palco e, como nos têm habituado, bem acompanhados pelos restantes músicos que os têm suportado na digressão: Lydia Kitto (que colaborou na gravação do novo álbum, sendo por isso uma influencia notável a nível vocal em comparação aos três primeiros discos), George Day (bateria), Geo Jordan (baixo) e Dominic Whalley (percussão).

Começaram o concerto com “Us Against The World” e, para nos reforçar que o concerto rodaria em torno de Volcano, seguiram-se mais duas faixas deste álbum. Tivemos a oportunidade de ouvir “The Heat”, do álbum de estreia de 2014. Um pouco irónico devido à forma como contrastava com aquele dia chuvoso, cinzento e muito triste para quem vos escreve, a título pessoal, por não ser apreciador da mudança de hora. No entanto, dentro da sala nada disso importava, estávamos no pequeno universo de Jungle. Ao longo do concerto, foram tocadas dez das catorze músicas que compõem Volcano, tendo este ocupado quase metade da setlist. Para além deste novo trabalho, os restantes álbuns surgiram como uma espécie de best of: passou-se por temas como “Time”, “Casio”, “Happy Man”, “Heavy, California”, “All of the Time” e “Fire”.

Antes do fim do concerto, houve direito a um encore que, apesar de não ser necessário o lembrete, arrancou adequadamente com “Keep Moving”. Por fim, uma tranca com chave de ouro: ouviu-se finalmente “Busy Earnin’”, talvez a música mais icónica com que se deram a conhecer às massas e que ainda hoje faz querer agarrar no comando para jogar FIFA.

Foi um alinhamento que não surpreendeu quem cuscou as anteriores antes do concerto, visto que tem sido constante ao longo da tour. Apesar de se apreciar o elemento surpresa e de comparar o alinhamento com os das outras datas, percebe-se o que motiva esta decisão: o espectáculo visual. Fomos brindados com visuais sincronizados na perfeição com a música, tendo sido o laranja de Volcano a cor predominante, havendo por vezes um contraste com tons de branco sempre que se recuava a Loving In Stereo. Ainda que os membros da banda se encontrassem relativamente fixos, cada um na sua ‘estação’, o espectáculo de luzes transmitiu a ideia e a noção de movimento, algo que encaixa bem na sonoridade dos Jungle e ajudou a elevar a música.

Apesar de continuar a ser legítimo que Josh e Tom actuem sozinhos, o duo prefere apresentar-se com banda. Uma em que todos tocam, muitas vezes mais do que um instrumento, e quase todos cantam irrepreensivelmente. Os fundadores e maestros acabam por perder algum protagonismo ao não serem os únicos a pisar o palco, mas é uma decisão altruísta com preocupação no que é entregue aos fãs. Ganha-se no espectáculo, mais intenso e autêntico, e energia, que é passada e retribuída à audiência.

A fusão de soul moderno, funk e música electrónica foi transmitida de forma exímia, tanto sincronizada pelos visuais como executada por transições e passagens fluídas, dando uma experiência coesa a Lisboa. Costuma-se dizer que bons líderes não são aqueles que são melhores em tudo, mas aqueles que conseguem aproveitar o melhor nos outros. Essa ideia adequa-se aos britânicos. Deste lado, tenha sido a primeira ou a sexta vez, fica-se a aguardar a oportunidade de os ver de novo, com o mesmo entusiasmo e de expectativas elevadas.