Weyes Blood no LAV. Corações iluminados em plena lua cheia

Texto: Filipe Silva | Fotografia: Nuno Bernardo

Noites de lua cheia são alturas perfeitas para a invocação de espíritos e também de emoções fortes. E esta noite era particularmente especial, não só pelo eclipse parcial lunar, mas também pelo regresso de uma cantautora norte-americana que já há muito tem conquistado os corações apaixonados do público português. Falamos pois de Weyes Blood, o alter-ego artístico de Natalie Mering, que decidiu dar início em Lisboa à digressão de apresentação do seu mais recente disco, And In The Darkness, Hearts Aglow. O mote estava dado para um noite que seria no mínimo inesquecível, e como já é habitual nestes diários de bordo, o aquecimento pré-concerto foi feito com uma refeição bem quente e aconchegada num restaurante chinês, em plena zona de Arroios. Mas o nosso destino final seria mais perto dos Olivais, onde iríamos visitar a nova versão do Lisboa Ao Vivo, local escolhido para acolher tão singular noite de música.

A nossa entrada no LAV foi feita ao som de Núria Graham, que já se encontrava sozinha em palco, munida apenas com uma guitarra acústica e um piano, pelos quais ia alternando ao longo do seu curto, mas alegre concerto. Certamente, esta fora uma forma meio invulgar de vermos Núria Graham ao vivo, visto que geralmente está acompanhada pela sua banda, e a própria constatou esse sentimento, referindo no entanto que isso lhe dava também a liberdade de poder tocar o que quisesse. E assim o fez, tocando temas como “Yes It’s Me, The Goldfish!”, “The Beginning of Things” e “Poisonous Sunflower”. A abertura perfeita para o que viria a seguir.

 

Diversão, elegância e fluidez são palavras que podemos facilmente associar a Natalie Mering, mais conhecida como Weyes Blood. A postura e presença da cantautora é algo que se pode e deve admirar, não fosse já ela uma especialista em provocar reacções de admiração e felicidade no público. Com um palco adornado não só pelos vários instrumentos que iriam ser utilizados durante o concerto, mas também com velas e flores, Mering e a sua banda fazem a sua entrada em palco sob uma chuva de aplausos e gritos de amor, iniciando o concerto com “It’s Not Just Me, It’s Everybody”, tema que está incluído no acima mencionado novo disco de Weyes Blood.

Seguem-se “Children of the Empire” e “Diary”, esta última a servir de convite ao passado discográfico, e ao qual fomos regressando ao som de temas como “Seven Words” e “Do You Need My Love”. Em “God Turn Me Into A Flower”, tivemos direito à estreia em Portugal da curta-metragem que o cineasta Adam Curtis criara para a música, e antes de interpretar “Andromeda”, Mering questionou o público presente se acreditariam em astrologia, referindo que ela própria começara a acreditar apenas depois de certos eventos se terem desenrolado nos últimos anos – «tipicamente Gémeos». Não muito depois, Mering interpelou novamente o público em tom de aviso que estávamos a chegar à parte da noite em que se começaria o mosh, apesar de, segundo Mering, o mesmo se tratar apenas de uma movimentação de ligeiro choque de ombros, sem causar grandes estragos.

O humor fora omnipresente durante todo o concerto, algo que faz claramente parte da personalidade de Natalie, e algo que elevou o próprio evento a toda uma outra dimensão. O amor pela música e pelos seus fãs também não ficou atrás, e a artista demonstrou-o à sua maneira em “Hearts Aglow”, com um coração brilhante por debaixo do seu vestido. Mas um concerto de Weyes Blood é também uma espécie de tributo aos artistas que vieram antes de Mering e que a inspiraram ao longo da sua vida. Esse mesmo tributo pôde ser presenciado durante “Movies”, faixa que se encontrou ilustrada por uma sequência a alta velocidade que incluía dezenas de frames pertencentes a filmes icónicos e inovadores do passado e do presente.

Com uma pequena pausa antes do inevitável encore, Mering regressa a palco com a sua banda para tocarem mais dois temas, “A Lot’s Gonna Change” e “Something to Believe”, esta última que não estava planeada mas a qual Mering decidiu dar ao público como presente. Para o derradeiro final, Mering interpretou sozinha “Picture Me Better”, a forma perfeita de dar como terminado um concerto brilhante. Uma voz impecável, instrumentais irrepreensíveis e uma presença em palco de fazer invejar qualquer artista – isto foi Weyes Blood. Em plena lua cheia, os nossos corações ficaram iluminados de amor, e com a promessa de que irá regressar em breve a Portugal, despedimo-nos de Natalie e da sua banda, e fazemos o típico regresso a casa, já com saudades do belíssimo concerto que tínhamos acabado de presenciar, e com o desejo de que pudéssemos repetir a noite, vezes sem conta.