Texto: Filipe Silva | Fotografia: Alexandra Ramos
Popularmente, a sexta-feira 13 de qualquer mês é considerado com um dia em que o azar e o infortúnio reinam, uma superstição que já está bem enraizada na cultura ocidental, e por isso, também muito associada ao bruxedo e ao paganismo. Esta particular noite de sexta-feira 13 tinha todas as características inauspiciosas que alguém esperaria, com intensas trovoadas que pintavam o céu escuro e uma greve de controladores aéreos franceses que ameaçou o cancelamento da derradeira estreia nacional em nome próprio de um dos melhores nomes do panorama musical sueco.
Felizmente, a sorte estava do nosso lado, e enquanto navegávamos as ruas da Invicta manchadas por incessantes correntes de água, ouvíamos o relato que os Goat iriam marcar presença no Hard Club para actuarem como combinado, mas que a mesma actuação teria de ser atrasada um par de horas. Tendo em conta a apetência dos suecos em invocarem espíritos através da sua música experimenta e psicadélica, não haveria dia melhor para um ritual pagão ao mais alto nível.
O início do concerto deu-se ao som de “Soon You Die”, música pertencente a um dos mais recentes longas-duração da banda, Oh Death, e de imediato, os Goat deixam-nos boquiabertos com o seu visual tradicional e um tanto extravagante. Com “Goatfuzz” e “Under No Nation”, nascem os primeiros passos de dança que hipnotizam o público e o compele a acompanhar os ritmos alucinatórios, mexendo o corpo, quais cobras encantadas. Em palco, observava-se uma banda que funciona num uníssono extraordinário, comandada habilmente por duas fantásticas vocalistas, cuja identidade, tal como a restante banda, se encontra escondida por detrás de máscaras tribais, algumas delas bem coloridas. O mistério e o enigma sempre fizeram parte da identidade da banda, que prefere o anonimato para dar foco à música.
Não existem grandes pausas entre cada música; o interesse está na fluidez com que a banda navega de música em música, e a forma como o público não sente cansaço neste exercício preciso de dança ritualesca. Seguem-se mais temas como “Gathering of the Ancient Tribes”, “Disco Fever”, “Goatman” ou “Let It Burn”, esta última a dar um término temporário ao concerto, após a qual, a banda abandona o palco para a típica saída antes do habitual encore.
Não querendo deixar o público em suspense durante muito tempo, os Goat regressam rapidamente ao palco para apresentarem três temas finais. “Do The Dance”, “Union of Mind and Soul” e “Run to Your Mama” levam o público ao absoluto rubro. Sorrisos de orelha a orelha, movimentos cada vez mais sensuais e ritualistas, vénias incansáveis de banda para público, e vice-versa, e o cantar eléctrico e entusiasta de cada letra, foram estes momentos e muitos mais que marcaram uma noite de magia negra, folia, folclore e celebração. A repetir vezes sem conta, assim que possível.