King Buffalo no RCA Club. De olhos postos nas estrelas

Texto: Bruno Correia | Fotografia: Fábio Caeiro

A viagem faz-se com Regenerator, lançamento mais recente dos King Buffalo, a soar nas colunas do carro. Os pouco mais de 20 minutos de caminho obrigam a que o álbum fique a meio (e com o tema que dá nome ao disco a usar praticamente metade desse tempo), sendo ainda assim suficiente para que a antecipação, que já era grande, se tornasse maior.

O destino? Previsivelmente, o sempre acolhedor RCA Club, morada habitual dos eventos Garboyl Lives em Lisboa. À chegada, tudo a postos em palco, incluindo ambas as baterias das duas bandas da noite. Ainda que 30 minutos antes do início previsto dos concertos fosse uma casa com bastante espaço livre a que nos recebia, isso rapidamente começou a mudar e foi uma plateia já bastante bem composta a que recebeu com aplausos o quarteto norueguês Slomosa.

Foram 45 os minutos que a banda teve para dar tudo, e foi isso mesmo que fez. Liderada por um sempre energético Benjamin Berdous, que frequentemente se posicionava no limite do palco para puxar pelos que assistiam do lado de cá (e que chegou também a tocar alguns segundos em cima de um amplificador, bem como junto do público), a nota foi mais que positiva para o regresso da banda a Portugal, depois de uma passagem em 2022 pelo SonicBlast. Berdous foi apresentando os seus companheiros de banda entre temas, e a constante energia teve poucos momentos de pausa, sendo um deles quando tocaram, palavras dos próprios, «uma canção de amor»: “In My Mind’s Desert”, uma das mais orelhudas do único álbum até à data, lançado em 2020. Seguiu-se «uma canção punk», expressão usada para apresentar “There is Nothing New Under the Sun”, do mesmo disco.

 

Antes disso, de assinalar ter-se ouvido “Cabin Fever”, novo single lançado já este ano e que prova que esta é uma banda que continua a saber escrever canções e cujo próximo lançamento será, com toda a certeza, um a ter em conta. “Horses”, também parte do homónimo lançado em 2020, mas que foi lançado como single em 2019 e que deu a conhecer os Slomosa ao público, foi o tema escolhido para fechar a actuação.

Foi praticamente a meio de uma tour europeia com 25 concertos em 30 dias que os King Buffalo chegaram a Lisboa. Uma máquina já bem oleada que só se torna mais humana quando às tantas o baterista passou uma música à frente e começou a tocar a que seria a seguinte na setlist. Nada de grave, claro, e sempre uma boa oportunidade para sorrisos de ambos os lados do palco.

A fórmula não varia propriamente muito, mas, nas mãos dos King Buffalo, funciona sempre: Um início calmo que segue num crescendo ao longo de, habitualmente, quase 10 minutos de música que culminam com repetições cujo objectivo (quase sempre conseguido) é o de nos colocar como que em transe, rendidos à guitarra, baixo e bateria desta banda de Nova Iorque. Os solos, forrados aos habituais overdrive, delay, e reverb, bem como ao menos habitual wah, são como que a cereja no topo do bolo que é a explosão de cada um dos temas que trazem até nós. Movendo-se musicalmente em géneros (space rock, psicadélico,…) em que singles com 10 minutos não só são aceites como até encorajados, o público rendeu-se ao que viu e ouviu e reagiu entusiasticamente em cada momento de silêncio enquanto a temperatura dentro da sala foi subindo, e não apenas figurativamente.

Numa banda que tem sido algo prolífera, com 4 lançamentos desde 2020 (mais 2 anteriores a isso), sendo 3 deles, culminados no último Regenerator, uma auto-intitulada “trilogia da pandemia”, não será fácil escolher o que apresentar ao vivo. Acabaram por percorrer quase todos os álbuns ao longo da hora e um quarto que separou a entrada da primeira saída de palco. Foram agradecendo a quem marcou presença, bem como aos Slomosa pela companhia nos mais recentes concertos da tour, e dizendo que era a primeira vez em Lisboa mas que tinham estado em Portugal antes. Conhecimento geral de grande parte dos presentes, claro, que em uníssono gritaram «SonicBlast!», levando Sean McVay, guitarrista e vocalista, a perguntar quantas pessoas lá tinham estado a vê-los o ano passado. Talvez surpreendido pelo número de mãos que se levantaram, disse, em tom de brincadeira, «ainda bem que alterámos a setlist».

Houve oportunidade para encore com “Orion”, do disco com o mesmo nome, a ser dedicada a um membro do público que a tinha pedido antes. Um belo pormenor (e melhor ainda música) que mandou o RCA Club, que entretanto parecia quase cheio, para casa da melhor forma.