É de 31 de Agosto a 2 de Setembro que o MEO Kalorama celebra o seu segundo episódio. O festival que se estreou no ano passado regressa ao Parque da Bela Vista, em Lisboa, com nomes firmados e novas tendências da música alternativa.
À cabeça o festival destaca nomes como Blur, Florence + The Machine, Arcade Fire, The Prodigy, Aphex Twin ou Foals, mas há muito mais a acontecer na restante programação dos quatro palcos que fazem o MEO Kalorama. Perfilamos dez concertos a ter em conta no roteiro do festivaleiro, fugindo a nomes mais óbvios como habitual:
#01 Yeah Yeah Yeahs
Apesar da dimensão da banda nova-iorquina, uma das mais originais e marcantes da cena indie rock e garage punk no início do milénio, os Yeah Yeah Yeahs (na foto) não actuam em Portugal desde 2006. A influente e distinta voz de Karen O continua aliada à percussão de Brian Chase e às guitarras e teclados de Nick Zinner, tendo em Cool It Down, lançado no ano passado, o quinto álbum da carreira. Um regresso em grande com singles aclamados, como “Spitting Off The Edge Of The World” e “Burning”, a juntar-se a clássicos como “Maps”, “Date With The Night”, “Gold Lion” ou “Heads Will Roll”: o certo é que será memorável a primeira visita da banda a Lisboa.
#02 Siouxsie
Dez anos após o último concerto, a britânica Siouxsie Sioux regressou este ano aos palcos. Não actua cá desde 1995, na altura com os The Banshees na apresentação de The Rapture, um ano antes da banda ter posto um ponto final na carreira. Esse distanciamento, porém, é praticamente irrelevante na importância deste concerto, dada a oportunidade rara que é ver uma das vocalistas mais influentes da história do rock (inclusive uma das principais inspirações de Karen O nos Yeah Yeah Yeahs). Siouxsie foi o rosto e a atitude do post-punk e do rock gótico no feminino na década de 70 e 80, principalmente, e traz a Lisboa temas marcantes como “Arabian Knights”, “Face To Face”, “Happy House”, “Spellbound” ou a célebre versão de “Dear Prudence”, dos Beatles.
#03 Belle & Sebastian
Liderados por Stuart Murdoch, os Belle & Sebastian carregam um aspecto curioso que os mantêm como banda de culto. Ainda que tenham múltiplos temas orelhudos de indie pop e tenham merecido sucessivos elogios da imprensa especializada, a banda de Glasgow sempre teve um sucesso comercial marginal. Sucederam-se álbuns importantes e aclamados, como Tigermilk, If You’re Feeling Sinister ou The Boy With The Arab Strap, ainda na década de 90 e com a voz de Isobel Campbell, mas ainda hoje os Belle & Sebastian flutuam entre a chamber pop e a folk. Recentemente lançaram A Bit of Previous, no ano passado, e Late Developers, no início deste ano.
#04 Amyl & The Sniffers
Puro punk. Os australianos constituídos pela vocalista Amy Taylor, baterista Bryce Wilson, guitarrista Dec Martens e baixista Gus Romer recuperaram o espírito do punk dos pubs logo no homónimo disco de estreia, em 2019, ano em que fizeram a sua única passagem por cá até à data, na edição portuense do Primavera Sound. Em 2021 expandiram a sua energia com o lançamento de Comfort To Me, o segundo álbum que deverá ser o foco do alinhamento que musicará a muita poeira levantada no Parque da Bela Vista.
#05 Arca
A venezuelana Arca é, desde o lançamento dos EPs Baron Libre, Stretch 1 e Stretch 2 em 2012, uma força disruptiva da música electrónica. Do hip-hop industrial em Yeezus de Kanye West ao R&B do EP2 de FKA twigs, passando pela pop vanguardista de Vulnicura e Utopia de Björk, são vários os créditos de produção que a artista soma, evidenciando-se ainda nas colaborações com Rosalía, The Weeknd, Kelela, Frank Ocean ou Sia. A título próprio lançou Xen, Mutant e Arca entre 2014 e 2017, lançando-se a cinco capítulos de Kick em 2020 e 2021, discos que encapsulam todas as suas correntes artísticas entre o IDM e o reggaeton, por exemplo. Ao vivo a imprevisibilidade é a mesma, podendo cair entre o DJ set transgressor ou uma apresentação mais formal das suas faixas originais.
#06 Shame
Os jovens Shame ainda este ano apresentaram o novo álbum Food For Worms no LAV, mas nem por isso a sua passagem pelo MEO Kalorama deve fazer despercebida. Se em estúdio já convence com bestiais faixas de post-punk desde a estreia Songs of Praise, de 2018, é em palco que o quinteto londrino mais se sente à vontade, piscando o olho ao dance punk usando o vocalista Charlie Steen como mestre de cerimónias. Não digam que não avisámos.
#07 Young Fathers
Já lá vão quase dez anos desde que o trio escocês arrebatou o Mercury Prize com Dead, o espantoso álbum de estreia. Mas nem por isso a banda perdeu a sua identidade e o som se caracteriza pela destruição de fronteiras musicais. Algures entre o hip-hop, a soul e a música lo-fi, o trio de Edimburgo deu este ano a conhecer Heavy Heavy, quarto disco e sucessor de outros aclamados como White Men Are Black Men Too ou Cocoa Sugar. Ao vivo o caos musical é reproduzido, de forma desenfreada e pronta a fazer vibrar a audiência.
#08 Ethel Cain
Preacher’s Daughter é o disco de estreia de uma jovem artista que tomou a música como forma de exprimir a sua complicada e abusiva relação com o pai, um diácono baptista. Dream pop etérea com laivos de southern gothic e música americana, o disco que conta com “American Teenager” passa ainda pelo rock alternativo e pela tradição da música cristã.
#09 The Hives
Os The Hives são um caso particular de sucesso nas fusões do garage com o indie rock. A banda sueca tem uma certa longevidade que vai além dos anos de maior sucesso comercial – quem, no virar do milénio, não ouviu “Hate To Say I Told You So”? – e mantém-se fiel à sua uniformidade visual. Onze(!) anos depois de Lex Hives, a banda regressou aos discos este ano com The Death of Randy Fitzsimmons, levando-o para os palcos como uma das mais enérgicas e contagiantes bandas de rock do continente europeu.
#10 Pongo
A abrir o Palco MEO no dia inaugural do festival está um dos maiores expoentes da música angolana contemporânea. Pongo é muito além da voz de “Kalemba (Wegue Wegue)”, single maior dos Buraka Som Sistema: é uma bandeira no feminino e uma das personalidades negras mais influentes da lusofonia. Um exemplo de superação que a viu regressar à música quase dez anos depois desse sucesso do kuduro com os EPs Baia e Uwa. 2022 foi o ano do primeiro disco em nome próprio, Sakidila.
Para além dos mencionados headliners e estas dez alternativas a ter em conta, no MEO Kalorama 2023 vão ainda actuar nomes como The Blaze, Metronomy, M83, FKJ, Nu Genea, shygirl, Pabllo Vittar, José González, Ben UFO, John Talabot, Baxter Dury, Junior Boys, Capitão Fausto, Selma Uamusse, Dino D’Santiago, Sen Senra, James Holden, Tulipa Ruiz, CMAT ou Rita Vian.
Autor: Nuno Bernardo