É já esta quarta-feira, dia 5, que o OUT.FEST regressa em pleno ao Barreiro. Depois de um 2020 de interregno forçado e um 2021 bipartido entre duas edições de formato reduzido ou restrito, o festival de música exploratória volta ao seu formato pré-pandémico. A 18ª edição propõe um total de 30 concertos, 2 conversas com artistas e 1 instalação sonora espalhados por diversos espaços da cidade, configurando assim o alinhamento mais extenso da sua história.
Para o pontapé de saída, o antigo centro comercial Sol-Pôr irá receber a instalação A Segunda Natureza, da mais recente bolseira da OUT.RA, Rita Santos. A inauguração está apontada para as 16 horas e é visitável todos os dias até dia 8 de Outubro entre as 15 e as 19 horas. Também no dia de arranque e no período da tarde, o OUT.FEST estende-se a um dos espaços mais únicos da cidade: será nas históricas oficinas da CP que o baterista e o percussionista australiano Will Guthrie se apresenta com o Ensemble Nist-Nah, conjunto alavancado pelo disco do mesmo nome de 2020. Um grupo de nove músicos sediados em França irá explorar as idílicas paisagens indonésias em torno do gamelão e da música feita por vários metais. Já à noite, Will Guthrie apresenta-se na Sala 6 para uma conversa informal e, certamente, detalhar sobre o seu Nist-Nah.
Na quinta-feira, dia 6, a SIRB “Os Penicheiros” recebe vozes distintas do jazz. E por vozes, entenda-se, refere-se às suas diferentes roupagens. A flautista, compositora e poetisa nova-iorquina Nicole Mitchell, a partir das 21h30, apresenta-se a solo no OUT.FEST da fora mais pura possível do seu sopro vital e urgente do jazz deste século. Também de Nova Iorque, Amirtha Kidambi alia a sua voz, harmónio sintetizador com a bateria e as electrónicas de Max Jaffe, o baixo de Nick Dunston e o saxofone soprano e o moog de Matt Nelson para jazz transcendente e futurista com o nome de Elder Ones. Depois da estreia Holy Science, em 2016, foi From Untruth de 2019 que descolou da curvatura espacial de Alice Coltrane ou Pharoah Sanders para o fogo do free jazz, a hipnose do drone e os cantos devocionais do Sul da Índia.
O dia 7 de Outubro é marcado pelo regresso do OUT.FEST aos corredores da ADAO, espaço multi-disciplinar e antigo quartel dos bombeiros. Mas antes dessa noite, a Biblioteca Municipal do Barreiro acolhe uma conversa com David Toop e Amirtha Kidambi, antes de actuação a solo do primeiro. Tratando-se de uma figura transversal às diversas músicas que fazem o festival e uma fonte inesgotável de inspiração e história (podendo-se recuar à sua obra pivotal da cena britânica desde meados dos anos 70), Toop abordará as influências não-europeias na música vanguardista do velho continente. Na ADAO a noite propõe-se longa: seguem-se a combo inédita Cavernancia de Pedro Roque com a violinista Maria da Rocha; a indie pop e espírito rock slacker e lo-fi dos londrinos bar italia; a linguagem jazzística ao piano da francesa Eve Risser; a psicose urbana do pós-punk de Sereias; a lenda japonesa Phew, voz singular que soma décadas de exploração sónica por diversos géneros e técnicas; e ainda o urgente grime ugandês de Ecko Bazz, potenciado pelo italiano STILL. Já a entrar pela madrugada e na gasoline, o after fica assegurado pelos decks de DJ Narciso e DJ Haram.
No último dia o OUT.FEST divide-se em dois capítulos. O da tarde faz-se entre a SIRB “Os Penicheiros”, com o encontro curioso da dupla Poly Vuduvum e o ambient de usof; na Biblioteca Municipal, com os trabalhos recentes e distintos de Luís Fernandes, Dies Lexic (Inês Tartaruga Água e Xavier Paes) e Claire Rousay; na Sala 6 com os esforços a título individual de Dibuk e Ece Canli; e ainda no Largo do Mercado 1º de Maio, aqui com entrada livre e em espaço aberto, para as bandas expansivas Má Estrela, de Pedro Alves Sousa, e George Silver & Gold, que propõe a André Neves (ou George Silver) a apresentar-se pela primeira vez acompanhado por uma banda constituída por David Caiado, Duarte Reis e Ernesto Vitali. De volta à ADAO, Carincur, Burnt Friedman & João Pais Filipe, Audrey Chen (na foto), Richard Dawson & Circle, Prison Religion e RP Boo constituem uma recta final de luxo que toca diversos espectros musicais que fazem o OUT.FEST: a multi-disciplina do drone, a percussão enquanto corpo exploratório, a abordagem livre na formação clássica, a extensão do krautrock aos dias de hoje, a raiva do hardcore e ainda as batidas abrasivas ora cósmicas e dançáveis. Para que não sobrem dúvidas para indomabilidade e imprevisibilidade de um OUT.FEST ambicioso, o kick do gabber tailandês de Pisitakun abre a pista do after na Gasoline, terminado por Violet na noite fora.
Os últimos bilhetes para o OUT.FEST encontram-se à venda na BOL, com o preço a variar entre os 8 e os 15 euros no bilhete diário ou fixo nos 30 euros no passe geral.