Naxatras no Hard Club. Fuzz ecoante de Moledo

Texto: Bruno Correia

Depois de uma passagem pelo SonicBlast em 2018, 30 de Abril marcou o regresso dos Naxatras a Portugal para um concerto único no Hard Club. A dose grega previa-se inicialmente dupla mas o cancelamento de Puta Vulcano levou a alterações no cartaz.

A abertura falava, assim, português e tinha a forma de Travo, banda bracarense que trazia consigo Sinking Creation, disco lançado já este ano. A meia A3 de distância do Porto, o quarteto veio até à cidade invicta e apresentou-se em em palco pouco depois da hora prevista, tendo começado a sua actuação com “Blue World”, também a primeira do mais recente álbum. Uma abertura que encapsula de forma perfeita aquilo que são os Travo, num misto de psicadelismo e rock espacial que não ficariam de todo estranhos como banda sonora de uma futura viagem a Marte.

O destaque a Sinking Creation era expectável e os 50 minutos de concerto foram tempo suficiente para, entre outras, apresentar ao vivo a faixa-título do último álbum (com a qual banda terminou o concerto), ou “Upheaval” que, tal como em estúdio, nos tende a levar a mente até à Austrália e a fazer pensar noutros mestres do género, King Gizzard & The Lizard Wizard. Uma comparação que pretendemos ser positiva e com a qual acreditamos que os Travo não se importem. Não sendo uma banda totalmente recente (o álbum de estreia data de 2019), todos os minutos de actuação do quarteto bracarense tornaram impossível não acreditar que, sobretudo numa altura em que os concertos estão de volta, os Travo estão destinados a palcos cada vez maiores e mais frequentes. 

Mas a noite era dos Naxatras e não foi preciso muito tempo para que o fuzz oriundo da Grécia tomasse conta da sala. O que tinham para nos apresentar era IV, lançado em Fevereiro, mas a esperança também era a de que houvesse tempo para voltar atrás no tempo e ouvir alguns dos temas que tivemos oportunidade de ouvir quase quatro anos antes, em Moledo.

E assim foi ao longo de 90 minutos (com direito a encore) onde houve tempo para mostrar ao vivo IV e revisitar algumas das músicas que fizeram Portugal apaixonar-se pelos Naxatras. Os já famosos gritos pelo «Júlio» que, não fosse não estarmos ao ar livre, nos faziam sentir que estávamos no SonicBlast, iam aparecendo entre temas (tendo começado, aliás, ainda antes dos Travo entrarem em palco) e acabaram por fazer John Vagenas, baixista e vocalista que trazia vestida uma pouco previsível t-shirt da banda Death, perguntar quem era o Júlio. Acabou também por brincar e dizer que «esta próxima música chama-se Júlio».

As maiores ovações da noite acabaram por ir, inevitavelmente, para “Waves” e “I Am the Beyonder”, ambas do homónimo álbum de estreia. Durante esta última, os sorrisos na cara do quarteto pareciam genuínos enquanto o público trauteava as notas da guitarra. Uma noite que rapidamente vai deixar saudades e que abriu, e de que maneira, o apetite para os eventos Garboyl Lives que se seguem, dos quais é impossível não destacar o SonicBlast, este ano em novo local. Venham eles!