Tool na Altice Arena. Ansiedade e expectativa em suspenso

Treze anos. Foi necessário esperar treze longos anos para reaver os Tool, mas a forma como esgotaram a Altice Arena a largos meses de distância do concerto, marcado para 2 de Julho, fazia antever muita expectativa de novos e velhos fãs da banda de Maynard James Keenan. Porém foi mesmo a ansiedade vertiginosa que deixou o público em bicos de pé.

Os Tool praticamente têm deixado a sua carreira em suspenso – uma espécie de hiato anestesiado pela constante demora no lançamento do sucessor de 10,000 Days, álbum que apresentaram na anterior passagem em Portugal em 2006. Os californianos bem nos tem ensinado a esperar e essa lição estendeu-se nos momentos precedentes de cada faixa do concerto. Até a toada que foi a abertura com “Ænema”, depois do pulsar introdutório de “Third Eye”, desviou a atenção da escuridão induzida pela proibição da utilização de telemóveis para fotografar e/ou filmar o concerto.

A nostalgia de uns e o fanatismo de outros depressa se converteram numa amálgama de rendição sincopada pelo intervalo de cada faixa, como se não fosse possível esperar mais alguns segundos por quem já aguentou treze anos. Diante dela esteve uma completa descaracterização e restabelecimento de espectáculo: um frontman “dispensado” que manteve Maynard na penumbra com o mínimo protagonismo possível mesmo com a sua aparência vistosa, enquanto as atenções se convergiram para o trio instrumental. Uma parede de efeitos visuais – ora de corpos ondulantes e caleidoscópicos, ora com cortinas a tridimensionalizar partes anatómicas – esteve aliada a um imenso trabalho de desenho de palco que preencheu toda uma arena de luzes fulgurantes e sincronizadas.

Todo este trabalho faz cair todo o convencionalismo de um espectáculo. Até porque não houve necessidade de interacção com o público, fazendo-se essa comunicação através dos vibrantes graves do baixo de Justin Chancellor, dos riffs irregulares e sinuosos de Adam Jones e da percussão tentacular de Danny Carey. Enquanto isto acontece é delineada uma sequência que visitou os vários trabalhos da banda numa união do passado com o futuro: “The Pot” e “Parabola” antecederam a nova “Descending”, com “Schism” a fazer a ponte para outra faixa do álbum a lançar, intitulada “Invincible”.

Essas duas novas faixas foram provas de fogo da continuidade do som singular dos Tool, quase como se tivessem sido escritas pouco depois de 10,000 Days. Melodias agressivas e prolongadas, com bastante espaço para o instrumental respirar, permitiram também que a parte visual do concerto ganhasse mais presença. Seguiram-se outros momentos de consequência calculista, como as luzes sincronizadas no riff monstruoso de “Jambi” ou a espiral atmosférica para a entrada do baixo em “Forty Six & 2”. Evidência maior só um encore de tempo contado, abraçando-se a arte como ciência exacta – um contador de doze minutos em contagem decrescente escureceu a sala, para que fosse enfim revelada a data de lançamento do novo disco, 30 de Agosto.

O regresso deu liberdade criativa na introdução de “Vicarious”, antes das palavras de agradecimento de Maynard e a sua declaração de aprovação à cidade de Lisboa. Foram enfim autorizadas as captações de imagens e a final “Stinkfist” preencheu-se de lasers e de pequenas luzes na plateia que quiseram registar a ovação final após duas horas de uma plena experiência de precisão, de rigor e de culto.

Texto: Nuno Bernardo